domingo, junho 05, 2022

Quanto vão aumentar as prestações mensais da casa?


Voltou o tempo dos juros positivos. É essa a mensagem a reter pelas famílias portuguesas com crédito à habitação que, fruto da subida acentuada das taxas Euribor — que servem de indexante à esmagadora maioria dos empréstimos no país para comprar casa —, devem preparar-se para um agravamento expressivo das prestações mensais ao banco. As simulações solicitadas pelo Expresso à Deco Proteste sinalizam aumentos na casa das centenas de euros até ao verão do próximo ano. Depois de vários anos em valores negativos e de terem atingido mínimos históricos em dezembro de 2021, as taxas Euribor estão a subir de forma marcada, num movimento que vai prosseguir nos próximos meses. É o resultado do endurecimento da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), pressionado pela escalada da inflação na zona euro (ver textos deste dossier).

No final de 2021, a Euribor a três meses estava em -0,572%, a taxa a seis meses nos -0,546% e a Euribor a 12 meses em -0,501%. Valores que comparam com -0,338%, -0,045%, e 0,39% esta semana (terça-feira). Ao mesmo tempo, os contratos de futuros sobre a Euribor a três meses — que traduzem as expectativas dos mercados financeiros — têm vindo a antecipar o regresso desta taxa a terreno positivo e a ampliar a dimensão esperada do seu aumento. No final de 2021, sinalizavam que esta taxa só voltaria a valores positivos em dezembro de 2023. Em meados de fevereiro, os mesmos contratos tinham antecipado essa data para dezembro deste ano. E no início desta semana apontavam para zero já em julho e valores positivos em agosto.

A questão é crítica em Portugal porque mais de 93% dos créditos à habitação no país são de taxa de juro variá­vel indexada à Euribor, segundo os últimos dados do Banco de Portugal. Ou seja, mais de 1,35 milhões de famílias vão ver agravar-se a prestação ao banco e a dimensão do aumento tem vindo a ser sucessivamente revista em alta. “É importante que quem tem um crédito à habitação com taxa de juro variável se prepare para valores da Euribor entre 1% e 2% e para o consequente agravamento das prestações mensais ao banco”, alerta Nuno Rico, economista da Deco Proteste.

Quanto vão subir as prestações depende de fatores como a dimensão que a subida das taxas Euribor vai efetivamente assumir, o capital em dívida, o spread (margem comercial do banco) do contrato e o indexante usado (ver P&R). Mas, as simulações solicitadas pelo Expresso à Deco Proteste (ver caixa) para créditos à habitação a 30 anos e de taxa variável indexada à Euribor a seis meses (o indexante mais comum em Portugal), apontam para valores expressivos.

Tendo em conta o cenário traçado pelos contratos de futuros para a Euribor a três meses, e assumindo uma subida da taxa a seis meses da mesma ordem, uma família com um empréstimo de €150 mil (média dos novos contratos), com um spread de 1% e cuja prestação tenha sido revista em janeiro, vai pagar mais €160 por mês até julho do próximo ano (altura em que a Euribor a seis meses deverá rondar 1,67%). E, num cenário em que a Euribor a seis meses atinja 2%, o aumento na prestação chega aos €187. Caso o spread seja mais elevado, ou o capital em dívida mais alto, o impacto é maior. Para um empréstimo de €250 mil (mais comum em zonas com preços do imobiliário mais elevados) e um spread de 1,5%, o aumento na prestação que tenha sido revista em janeiro chega aos €278 em julho do próximo ano, atingindo €324 se a Euribor chegar aos 2%.

SIMULAÇÕES

Tendo em conta os contratos de futuros sobre a Euribor a três meses e assumindo uma subida da mesma ordem na taxa a seis meses, o aumento pode chegar aos €278 mensais até ao verão do próximo ano. E se a Euribor a seis meses atingir 2%, ultrapassar €300, indicam as simulações solicitadas pelo Expresso à DECO/Proteste para contratos a 30 anos, indexados à Euribor a seis meses e assumindo que a prestação foi atualizada em janeiro.

MAIS €160 NUM CRÉDITO DE €150 MIL

► Capital em dívida €150 mil

► Spread 1%

► Prestação Os €445,83 de janeiro irão agravar-se €35 em julho. Em janeiro de 2023 o acréscimo chegará aos €111, atingindo €160 nesse verão. Se a Euribor a seis meses chegar aos 2%, o agravamento é de €187.

SPREAD MAIS ALTO, AUMENTO MAIOR

► Capital em dívida €150 mil

► Spread1,5%

► Prestação Em janeiro foi de €479,37 e subirá €37 em julho. Num ano, o acréscimo atingirá €116, chegando aos €166 em julho de 2023. Se a Euribor a seis meses atingir 2%, o aumento chegará aos €194.

MAIS €267 NUM CRÉDITO DE €250 MIL

► Capital em dívida €250 mil

► Spread 1%

► Prestação Aos €743,05 de janeiro irá somar-se €59 em julho. Em janeiro de 2023 o acréscimo chegará aos €186, atingindo €267 em julho desse ano. Se a Euribor a seis meses atingir 2%, o aumento chegará aos €311.

E PODE CHEGAR AOS €278

► Capital em dívida €250 mil

► Spread 1,5%

► Prestação Os €798,94 de janeiro irão agravar-se €62 em julho, com o acréscimo a chegar aos €194 em janeiro de 2023 e aos €278 em julho desse ano. Se a Euribor atingir 2%, o aumento chega aos €324.

P&R

Porque é que as taxas Euribor afetam as prestações do crédito à habitação?

Mais de 93% dos contratos de crédito à habitação em Portugal são de taxa variável, indexada à Euribor (a mais comum é a taxa a seis meses). A taxa de juro global do empréstimo resulta da soma entre o indexante (Euribor) e o spread (margem comercial do banco). Por isso, se a Euribor sobe, a prestação mensal agrava-se.

A prestação é revista todos os meses?

Não. A frequência com que a prestação é atualizada depende do indexante. Quatro vezes por ano no caso da Euribor a três meses, duas na taxa a seis meses, e apenas uma no caso da Euribor a 12 meses.

Se tiver dificuldades em pagar, o que devo fazer?

Deve falar com o banco. O primeiro passo é renegociar o spread, reduzindo a prestação mensal e o custo total do contrato. A alternativa é negociar um alargamento do prazo do empréstimo, ou um período de carência, diminuindo a prestação mensal, apesar de aumentar o custo total do crédito (Expresso, texto da jornalista SÓNIA M. LOURENÇO) 

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