terça-feira, junho 21, 2022

Portugueses mantêm confiança nos media mas há uma quebra no interesse em consumir notícias

Só na Finlândia se confia mais nas notícias do que em Portugal. No entanto, apesar da manutenção dos elevados níveis de confiança na informação que colocam o país 19 pontos percentuais acima da média global, o interesse dos portugueses nas notícias sofre uma quebra significativa. Estas são duas das principais conclusões do Reuters Digital News Report 2022, onde Portugal volta a surgir no top 3 dos países que mais confiam na informação noticiosa e nas marcas de media, ocupando a segunda posição, entre 46 países, com 61% dos inquiridos a afirmarem confiar em notícias em geral contra os 42% da média global do estudo. RTP, SIC e Jornal de Notícias surgem em destaque, com mais de três quartos dos portugueses que utilizam a internet a manifestarem a sua confiança nestas marcas (77,8%, 77,6% e 76%, respetivamente), sendo os níveis de confiança nos títulos elevados de modo geral no panorama nacional. Entre 15 marcas de media, salienta o relatório da OberCom — Reuters Institute for the Study of Journalism, Portugal nove marcas nas quais mais de 70% da amostra diz confiar: RTP, SIC, Jornal de Notícias, RFM, Rádio Comercial, Expresso, Público, TSF e Antena 1.

Apesar dos elevados níveis de confiança, o relatório dá conta de uma quebra significativa no interesse dos portugueses no consumo de informação noticiosa, registando um recuo de 17,5 pontos percentuais de 2021 para 2022. A percentagem de inquiridos que afirma ter interesse em conteúdos noticiosos em geral situa-se agora pouco acima da metade, nos 51,1%, que comparam com 68,6% no último ano. Além disso, a proporção de inquiridos que apontam mesmo não ter interesse em notícias mais do que duplicou, aumentando em 5,5 pontos percentuais relativamente a 2021.

Neste ponto, conclui-se que o evitar ativo de notícias, ou seja, o não consumo voluntário de conteúdos noticiosos, tem vindo a aumentar significativamente desde 2017, altura em que praticamente metade dos portugueses utilizadores de internet garantiam nunca evitar notícias de forma ativa e voluntária (47%). Em 2022, essa proporção cai para menos de metade, na ordem dos 25,3 pontos percentuais, sendo uma prática que pouco mais de um quinto dos portugueses (21,7%) assegura nunca adotar de forma ativa e voluntária.

“A excessiva tematização da agenda noticiosa em torno dos temas pandemia e eleições legislativas 2022 pode estar relacionada com a saturação e quebra geral no interesse por notícias, secundadas pelo aumento no número de pessoas que evitam notícias voluntariamente”, indica o relatório. Entre as principais razões apontadas para o evitamento voluntário de notícias surge o excesso de notícias sobre a covid-19 (36,1%), o cansaço com o excesso de notícias em geral (25,8%) e o facto de as notícias poderem ter um impacto negativo no humor (20,2%).

Também a disponibilidade para pagar por informação digital, refere o estudo, “continua a tardar em ganhar dimensão no mercado nacional”. Apenas 12% dos portugueses afirma ter pago por notícias em formato digital no ano anterior, cinco pontos percentuais abaixo da média global (17%) e uma quebra de 4,8 pontos percentuais face aos 16,9% que diziam pagar por informação digital no ano anterior.

De acordo com o relatório, os conteúdos pelos quais os portugueses mais pagam são o streaming de filmes/séries, com 57% dos portugueses que utilizam a internet a subscreverem um serviço de streaming audiovisual de forma contínua. Além deste tipo de serviço, 43,6% subscrevem um serviço de streaming de música, 29,8% algum pacote de canais desportivos e 21,4% um serviço de audiobooks ou podcasts, concluindo-se que “a economia digital é, em Portugal, fortemente dominada pelo entretenimento em detrimento dos conteúdos e da esfera informativa” (Meios e Publicidade, texto do jornalista Pedro Durães)

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