sexta-feira, junho 24, 2022

Santana: nada a dizer, pelo contrário

Eu não sei ao certo, mas desconfio, quais os motivos por que sentimos, também na Madeira, dificuldade em encontrar recursos humanos para determinadas áreas de actividade que precisam de mão-de-obra minimamente formada e conhecedoras para que as coisas funcionem de forma eficaz. Repito, suspeito que existe uma conjugação de dois ou três motivos, incluindo algumas relutâncias e más-vontades no quadro das relações laborais privadas, para que isso aconteça. Mas não quero explanar o que penso...

Mas é evidente que Santana, ao cancelar a sua Semana Gastronómica, pelas razões anunciadas pelo autarca, não só fez bem - por que iniciativas públicas ou têm qualidade ou não se realizam, ponto final - como veio confirmar uma realidade social, laboral e económica que muitos não gostam de abordar, pelo incómodo da mesma, como também veio porventura suscitar um debate do qual muitos fogem, repito, pela incomodidade do mesmo.

A única dúvida que me fica - e haverá outras semanas gastronómicas na RAM, nestes meses de Verão para dissipar dúvidas - é apenas a curiosidade de saber se essas outras iniciativas enfrentarão ou não, o mesmo problema de Santana e se seria possível, sim ou não, pensar em programas específicos para esta época mais movimentada e criativa do ano. Por exemplo, não havendo garantias de que tudo funcionará com normalidade, se seria possível utilizar ou promover programas de incentivo à contratação de pessoas, sem ocupação mas com experiência, sem vinculação a restaurantes, alternativa que garantiria a realização da semana gastronómica. Ou seja, seria um trabalho temporário, sem outros compromissos ou obrigações com as pessoas a contratualizar e que seriam remuneradas em função do tempo de actividade que despenderiam. Deste modo evitaríamos que uma cidade como Santana, ou qualquer outra que lhe siga o exemplo, fosse obrigada a uma compreensível decisão extrema por causas que não são só de Santana, nem da Madeira, nem sequer de Portugal. Mas que existem: a falta de mão-de-obra disponível para certas áreas de actividade, ainda por cima sabendo-se que iniciativas públicas têm sempre um retorno importante para a pequena economia local, de uma freguesia ou de um concelho!

Não sei, repito, se isso seria (ou é) possível, mas mau seria para o turismo madeirense - embora a massificação tenha descido também os padrões de exigência qualitativa, há que reconhecer - se organizações públicas, abertas a residentes e turistas, fossem depois motivo de irritação junto das pessoas, apenas porque os serviços disponibilizados ficam aquém do exigido e não funcionam, ou funcionam mal e sem a qualidade exigida.

Por isso concordo, compreendo e aceito, pelos motivos anunciados a decisão de Santana, não me parece criticável, antes pelo contrário, revela em meu entender algum pragmatismo e bom senso recusando avançar com iniciativas autárquicas das quais depois se pudesse arrepender. Também acho louvável, até pelos contratos já celebrados, que a CMS encontre - e vai encontrar - uma alternativa para cumprir os compromissos contratualizados com grupos musicais que animariam aquele evento entretanto cancelado.

Mas o alerta da CMS fica e o apelo a que todos possamos discutir uma matéria que não sendo pacífica - porque as interpretações sobre as causas de tudo isto estão longe de serem consensuais. Mas a verdade é que precisamos encontrar respostas e perceber os motivos de certas realidades (LFM)

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