domingo, junho 26, 2022

PSD à espera das revelações de Montenegro


Está tudo fechado em copas e os sociais-democratas aguardam pelas surpresas que o novo líder deverá revelar no Congresso do próximo fim de semana, no Porto. A uma semana do congresso que permitirá a Luís Montenegro tomar as rédeas do maior partido da oposição, o PSD tem-se fechado em copas. Há semanas em silêncio, o novo líder tem tentando evitar ao máximo fugas de informação que comprometam a sua estreia na reunião magna dos sociais-democratas, de 1 a 3 de julho. De forma discreta, tem sondado eventuais disponibilidades, mas os convites formais só deverão acontecer dois ou três dias antes do encontro no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

O partido prepara-se agora para o virar de página e Montenegro tem a oportunidade de iniciar um novo ciclo, com mais ânimo, depois de ter apregoado à unidade interna durante a campanha. Para já, não há nomes fechados na próxima liderança do PSD, mas já se começam a delinear os rostos que o novo líder vai chamar para os órgãos nacionais. Uma aposta segura será Hugo Soares, braço direito de Montenegro nestas eleições diretas, que deverá ser escolhido para suceder a José Silvano e assumir funções como secretário-geral do partido, tal como já tinha avançado o Nascer do SOL no início deste mês. O bracarense sucedeu a Montenegro na liderança da bancada parlamentar social-democrata, até ser corrido por Rui Rio, num processo que deixou feridas abertas entre o rioísmo e o montenegrismo.

Outros nomes inquestionáveis serão Joaquim Miranda Sarmento, o ‘Centeno de Rio’ que coordenou a moção estratégica de Montenegro,  e Carlos Coelho, antigo eurodeputado sacrificado por Rio nas listas do PSD às europeias de 2019, que desempenhou nestas diretas a função de diretor de campanha. Ambos deverão ser compensados com cargos de relevo.

Na direção para uma das vice-presidências do partido tem sido apontado Paulo Cunha, antigo presidente da Câmara de Famalicão que hoje lidera a distrital do PSD/Braga. O ex-autarca foi um dos mais influentes apoiantes de Montenegro nas diretas. Além de ter movimentado o voto naquela distrital, terá sido  uma das peças chave para que Montenegro também ganhasse na terra natal de Jorge Moreira da Silva.

Nesta lista também não deverá faltar o nome de António Leitão Amaro. O antigo secretário de Estado da Administração Local do Governo de Pedro Passos Coelho esteve em ambas as diretas ao lado do antigo líder parlamentar, tendo coordenado a moção global estratégica com que Montenegro foi a votos em 2020.

Desta geração mais jovem, Margarida Balseiro Lopes é o nome mais óbvio entre as mulheres que sempre estiveram ao lado de Montenegro e que este procurará manter. A ex-líder da JSD e antiga deputada, que deixou o Parlamento por divergências com Rio,  integrou a equipa de Montenegro nas diretas enquanto responsável pelas redes sociais.

Uma das grandes incógnitas prende-se também com a continuidade de Paulo Mota Pinto enquanto líder da bancada parlamentar ‘laranja’. Até agora, o novo líder do PSD ainda não deu garantias de que o lugar de Mota Pinto esteja assegurado, o que no mínimo pode sugerir que este tem os dias contados. Para que haja na Assembleia da República a unidade desejada por Montenegro, a liderança da bancada parlamentar não pode estar em linha contrária àquela que é a linha de pensamento e de atuação política da direção do partido.

Facto é que Montenegro herda um grupo parlamentar maioritariamente rioísta, o que dificulta a escolha de uma alternativa capaz de ficar à frente do grupo de deputados sociais-democratas. Neste cenário, Ricardo Baptista Leite, que ganhou reconhecimento político com Rio, poderia encabeçar uma das escolhas, até porque até aqui não tem feito grande mossa junto da ala montenegrista. Apesar de se ter mantido equidistante em relação aos dois candidatos nestas últimas diretas, numa das suas primeiras intervenções parlamentares após o partido ter ido a votos, não se poupou em elogios ao novo líder, fazendo uso da palavra ‘Acreditar’, o lema da campanha de Montenegro.

«Acreditar em Portugal. É este o mote orientador do novo líder eleito do PSD, Luís Montenegro, ao qual nós, deputados do maior partido da oposição, damos eco a partir do Parlamento para o país», afirmou no púlpito do plenário, com o ainda presidente do partido sentado na bancada social-democrata.

Internamente, as suas declarações foram entendidas como uma candidatura dissimulada à liderança da bancada parlamentar.  Além de Mota Pinto, outros fiéis de Rio podem estar de saída. Entre eles, André Coelho Lima que poderá ser afastado da vice-presidência da bancada. Outros vice-presidentes do grupo parlamentar social-democrata podem causar menos aversão à nova direção. É o caso de Paulo Rios de Oliveira  e Paula Cardoso. No início de junho, de uma reunião do grupo parlamentar social-democrata saiu um entendimento de que a direção da bancada, eleita no início de abril para um mandato de dois anos, estaria disposta a sair.

Coabitação no PSD

Depois de um mês de convivência forçada, entre as diretas a 28 de maio e o congresso no próximo fim de semana, Montenegro terá ainda que lidar com a sombra de Rio a pairar sobre a sua liderança durante mais uns meses, já que o líder do PSD em funções já admitiu que «provavelmente» só abandonará em setembro o Parlamento, onde tem o seu mandato de deputado. Ou seja, deixa a Assembleia da República no arranque da nova sessão legislativa, altura em que Montenegro terá de afirmar a sua liderança na oposição ao Governo de António Costa.

Neste longo período de preparação da transição entre líderes, que não agradou a muitos sociais-democratas, Rio considerou não estar diminuído nas suas funções, uma vez que apenas deixa de ser líder no congresso, e voltou à cena logo após as diretas.

Deslocou-se durante seis dias a África do Sul e Moçambique para assinalar o 10 de junho em encontros com as comunidades portuguesas, ladeado por uma comitiva de outros três elementos: António Maló de Abreu, deputado eleito pelo círculo Fora da Europa, Emília Galego, vogal do Conselho Estratégico Nacional do PSD, e a diretora de comunicação do partido, Florbela Guedes. Um jantar com a comunidade portuguesa, em Joanesburgo, onde também marcou presença a ministra Adjunta dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, foi motivo para que nem na sua despedida o ainda líder da oposição se conseguisse descolar  dos quatro anos de portas abertas ao diálogo com o Governo de António Costa.

Diplomas em banho-maria

Estes últimos momentos de impasse no PSD, também trouxeram outros constrangimentos a nível parlamentar. Os sociais-democratas pediram o adiamento da data-limite para a entrega de diplomas com alterações ao Regimento, para depois do congresso. Na prática isto significa que os projetos para alterar o Regimento da Assembleia da República apenas começarão a ser discutidos após 3 de julho. Inicialmente, o grupo de trabalho que vai tratar do processo de revisão do Regimento tinha acordado que todas as bancadas que quisessem entregar iniciativas teriam de as apresentar até à passada segunda-feira. Os deputados tinham concordado em fechar o processo até 29 de julho, para que as novas regras pudessem produzir efeitos a partir de 15 de setembro. A maioria das propostas visa, entre outras mudanças, repor os debates quinzenais com o primeiro-ministro, que terminaram com a última alteração do Regimento aprovada pelo PS e PSD em julho de 2020 (Sol, texto da jornalista Joana Mourão Carvalho)

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