terça-feira, junho 21, 2022

Organizações religiosas e sindicatos entre associações em que cidadãos menos confiam


As organizações religiosas ou ligadas à Igreja Católica e os sindicatos são as associações em que os cidadãos menos confiam, por oposição às associações ambientalistas, concluiu um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos hoje divulgado. “Relativamente à confiança nas organizações, as organizações religiosas ou ligadas à Igreja e os sindicatos são as associações em que os inquiridos menos confiam (apenas 18% e 20% dos inquiridos confia nestas organizações, respetivamente), por oposição às associações ambientalistas, nas quais 38% dos inquiridos confia”, revela o estudo, referindo-se a organizações religiosas das diversas confissões e à Igreja Católica. Coordenado pelo investigador Marco Lisi, o estudo “Os Grupos de Interesse no Sistema Político Português”, analisa a ação dos grupos de interesse em Portugal, a sua visibilidade na comunicação social e papel no processo legislativo, e é apresentado hoje às 09:00 num evento digital no sítio da internet da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O resumo do estudo, a que a agência Lusa teve acesso, aponta para que, em geral, 50% dos inquiridos considera que “todo o cuidado é pouco” relativamente às associações, independentemente do tipo de organização considerada, ao passo que 36% se situa “na posição intermédia”, isto é, “apresenta uma orientação ambivalente, nem positiva nem negativa”.

Destaca-se também no estudo o dado segundo o qual “quase 40% dos inquiridos acredita que a realização de greves e manifestações são pouco ou nada importantes”. Na investigação, parte-se da definição de grupos de interesse como “associações ou organizações de indivíduos que partilham as mesmas preocupações, e que se mobilizam para promover e defender os seus interesses na arena político-institucional e no processo de decisão pública”.

“Se é verdade que um terço dos inquiridos acredita que as organizações da sociedade civil contribuem para aumentar a corrupção do país, também é importante destacar que um terço acredita que estas contribuem para responsabilizar mais eficazmente os governantes e fomentar a transparência”, aponta o documento. Aliás, a visão dos cidadãos sobre os grupos de interesse depende muito do “ângulo analisado”, ressalva o estudo.

“Se, por um lado, uma percentagem considerável dos indivíduos considera que as organizações da sociedade civil contribuem para a redução das desigualdades (39%) e, em menor grau, as reconhecem como veículos importantes de informação (34%), por outro, 38% dos inquiridos acredita que as organizações da sociedade civil servem sobretudo para representar interesses de grupos específicos e não para aumentar o pluralismo e a visibilidade de interesses não representados no parlamento”, revela-se. Essa ambivalência dos cidadãos face a estas associações depende também da linguagem utilizada.

“A partir dos dados do inquérito, fica patente uma dicotomia entre expressões como ‘sociedade civil’ e ‘grupos de pressão’, sendo que ‘sociedade civil organizada’ ou ‘organizações da sociedade civil’ são avaliadas positivamente (60%), enquanto o termo ‘grupos de pressão’ detém uma imagem muito ou algo negativa para 34% dos inquiridos. É de realçar ainda a avaliação positiva que 58% dos cidadãos fazem ao termo ‘parceiros sociais’”, aponta-se igualmente.

De acordo com o estudo, o “envolvimento associativo em Portugal caracteriza-se pelo reduzido número de membros e, simultaneamente, pela alta intensidade da participação em atividades promovidas pelas organizações de interesse”. Os clubes ou as associações desportivas e os sindicatos são as organizações com maiores níveis de associativismo, verificando-se entre 2001–2020 uma tendência para o aumento da pertença associativa na generalidade das associações, com a exceção das organizações religiosas.

“Entre 1999 e 2020 aumentaram em Portugal todas as formas de participação política, com exceção da participação em manifestações e em atividades ilegais de protesto”, realçando-se “aumentos substanciais no que respeita aos contactos com políticos ou à assinatura de petições”. A participação em manifestações é, em média, o instrumento menos popular tanto em Portugal como na Europa, aponta também o estudo.

Segundo os inquiridos, a visibilidade das organizações de interesse nos meios de comunicação é o instrumento mais relevante para influenciar as políticas públicas, (17% considera o mais importante, e 13%, o segundo mais importante), seguida do conhecimento sobre dossiês específicos, da participação nos trabalhos do parlamento, dos recursos financeiros e das relações de proximidade com os decisores políticos. Por outro lado, apenas 5,7% dos inquiridos considera importante o envolvimento em campanhas eleitorais (Multinews)

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