domingo, junho 26, 2022

RTP: O buraco negro

A RTP tem dado prejuízo nos últimos anos e Nicolau Santos já admitiu que pode voltar a dar este ano. Trabalhadores falam em buraco financeiro. E o ambiente na TV. A RTP volta a estar no olho do furacão. E os motivos são muitos: a estação pública tem dado prejuízos, este ano pode voltar a dar e os trabalhadores chamam o problema de «buraco financeiro». Juntam-se entradas e saídas polémicas e polémicas em concursos internos com acusações de possíveis favorecimentos. A administradores e diretores não saem incólumes. Nesta semana, a comissão de trabalhadores da televisão pública elaborou mais um boletim ‘explosivo’ onde afirma que «o famoso buraco financeiro da RTP é, antes de mais, um buraco negro». Mas as críticas não se ficam por aqui: «Ninguém sabe quanto vale, que fundo tem e se tem algum fundo. Em casa onde não há transparência, todos podem especular e ninguém tem razão».

Os trabalhadores da estação pública explicam que, quando há dois anos «se lançou foguetório pelos ‘resultados positivos’ da RTP, evidentemente que era aconselhável temperar o entusiasmo com alguma prudência, porque se estava a falar de resultados antes da punção fiscal. Quando, agora, se lança o alarme pelo ‘buraco financeiro’, evidentemente será aconselhável evitar o pânico e ver primeiro o que este alarme significa».

É certo – ou quase – que a RTP terá prejuízos este ano. O próprio presidente do Conselho de Administração da estação afirmou no início deste mês que «provavelmente» a empresa «vai ter prejuízos». Nicolau Santos justificou que a estação tem assistido a «um aumento brutal dos custos de energia, subiram três milhões de euros, acima do que estava previsto, ou seja, três vezes mais do que inicialmente tínhamos orçamentado». Problema ao qual se junta a guerra da Ucrânia, em que as «diversas equipas de rádio e de televisão estão presentes» no país e «têm obviamente de ser apoiadas financeiramente pela RTP e a situação, como calculam, é de enorme custo».

Ainda assim, o responsável prometeu que está a trabalhar para «minimizar ao máximo esses resultados negativos».

Mas a verdade é que se fala em buraco financeiro. Os trabalhadores apostam em números que, na verdade, desconhecem. «Já ouvimos o CA [Conselho de Administração] falar num buraco financeiro de sete milhões, os sindicatos já o ouviram falar num buraco de 10 milhões e os diretores, ao que parece, já ouviram falar num buraco de 11 milhões». 

E é com base nestes números que as críticas continuam: «A não ser que o famoso buraco registasse crescimentos milionários de semana para semana, há aqui qualquer coisa que não bate certo e que não pode explicar-se apenas com o afã de inflacionar buracos, ontem para vergar os sindicatos, agora para arrancar ao poder político um aumento da CAV».

Diz ainda a comissão de trabalhadores que, é preciso começar a falar «com rigor» deste «buraco negro». Assim, diz que, «para haver rigor, tem de haver transparência. Não queremos que a RTP ande nas bocas do mundo e nas colunas dos tabloides como um sorvedouro de dinheiros públicos. E não aceitaremos fazer sacrifícios por histórias mal contadas e por contas que ninguém nos deixa ver». Feitas as críticas, a CT começa a fazer as contas aos «dinheiros mal gastos», a que chama de «regabofe».

Em causa está o novo programa Chefes da nossa terra, que dizem estar «a ser feito com um gasto que é pelo menos o triplo do que seria necessário com produção própria (compare-se com os custos do Aqui Portugal)».

E deixam uma questão: «Há na produção dos Chefes da nossa terra pela Coral alguma coisa especialíssima que justifique esta exorbitância? Há vários anos, a Coral já trouxe para a RTP uma contribuição válida e mesmo ingredientes de um know how que enriquecia a nossa própria forma de fazer televisão. Entretanto, tudo mudou e o que hoje vemos são comitivas faraónicas, apresentadores sem conhecimento dos respetivos guiões, régies que mais parecem bazares, invadidas pelo caos, a indisciplina e a incompetência».

Outras polémicas

Numa altura em que se questionam as contas da estação pública, as polémicas internas não se ficam por aqui. Recentemente, a RTP abriu um concurso para a delegação de São Tomé e Príncipe – os contratos são renovados de dois em dois anos – e, ao que parece, a guerra instalou-se. Para concorrer, os jornalistas devem possuir alguns requisitos, nomeadamente conhecer bem o meio e ter já alguma experiência em reportagens. O Nascer do SOL apurou que concorreram este ano 11 jornalistas, mas há quem diga que já existiam duas escolhas muito antes do concurso começar. 

Mas há mais. Esse novo chefe de delegação em São Tomé e Príncipe vai ganhar cerca de 6.500 euros por mês, um valor ao qual acrescem casa e deslocações pagas, assim como despesas extra. Ora, este valor está acima até do ordenado de Nicolau Santos: 5.453 euros por mês, mais despesas de representação.

O nome escolhido para o cargo foi Paulo Martins, mas Nicolau Santos desvalorizou a polémica que se gerou em torno deste nome. «As regras dos concursos estão definidas desde 2009», começou por dizer, acrescentando que «o Paulo Martins foi escolhido por unanimidade e o processo foi muito claro».

Antes desta nomeação ter sido feita, já o Nascer do SOL sabia que em cima da mesa para este cargo estavam os nomes de Eduardo Pestana – que em 2020 esteve no centro de uma polémica desencadeada pelo registo de horas extraordinárias muito acima do máximo legal –, e Paulo Martins – jornalista e apresentador na RTP África. «Por que é que eles colocaram 11 pessoas em concurso se já tinham as pessoas escolhidas?», questionou uma fonte ao nosso jornal. Segundo a mesma fonte, na semana que antecedeu a abertura do concurso em questão, saiu um outro para a substituição de alguém com as características de Paulo Martins. «Está a preparar-se aqui a substituição de uma pessoa que, à partida, é a pessoa que já estava previamente escolhida», lamenta.

Carlos Daniel no CPN

Outra mudança que tem dado polémica e da qual muito se fala nos corredores da estação pública é a passagem de Carlos Daniel de diretor-adjunto de informação da RTP para o Centro de Produção Norte (CPN) da empresa. O jornalista, que terá tido a carteira suspensa mesmo enquanto exerceu funções na direção de informação, substituiu Isabel Correia, numa mudança que foi já comunicada pela Administração da RTP à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Mas esta não é a única mudança. O Nascer do SOL sabe ainda que um dos momentos de tensão na RTP prende-se com a saída de Maria Helena Pereira, diretora de Recursos Humanos durante largos anos. A substituí-la está Hugo Rosado, que já fazia parte da empresa e que subiu de cargo.

As polémicas continuam com várias acusações feitas numa crónica no Correio da Manhã, onde se lê que o clima de tensão no interior da RTP é grande. Ora, a administração da estação pública terá comunicado que não há dinheiro e a previsão aponta para resultados negativos de 11 milhões de euros. «A dívida de curto prazo da estação pública pode agravar-se e existe o risco real de exigência do pagamento integral das dívidas resultantes dos empréstimos de médio e longo prazo, por parte do sindicato bancário credor», lê-se na crónica, onde se acrescenta que Luísa Ribeiro, «aparentemente o único membro do conselho de administração que sabe o que está a fazer, enfatizou o despesismo da RTP, que, por exemplo, terá um aumento nos custos relacionados com a energia na ordem dos 3 milhões de euros».

Segundo o jornal, Marina Ramos, diretora de comunicação da RTP, «entendia que se deviam tornar públicos rapidamente os resultados negativos como forma de pressionar o poder politico a abrir a torneira do financiamento».

E diz ainda que Teresa Paixão, diretora da RTP2, sugeriu que, ao domingo, se devia alugar o espaço do estacionamento da RTP para os utilizadores da Feira do Relógio (que se realiza em espaço contíguo) (Sol, texto da jornalista Daniela Soares Ferreira)

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