Faro foi o primeiro círculo eleitoral a ser conquistado pelo Chega nas legislativas de 2024, e depois reforçaram em 2025, mas a cidade nunca caiu para o lado do partido de Ventura. E as autárquicas parecem continuar essa tradição. Na capital algarvia, o partido de André Ventura, apesar da aposta num nome forte do partido, continua longe do lugar cimeiro. Com Rogério Bacalhau, o atual presidente, de saída por limitação de mandatos, os partidos apostam em tentar conquistar Faro. Mas, a dois meses da eleição, o resultado permanece em aberto.
A sondagem do ICS/ISCTE feita para o Expresso/SIC coloca o PS à frente, com 21% das intenções de voto direto, face a 19% da coligação liderada pelo PSD, e o Chega com 16%. Contudo, o estudo revela que a pouco mais de dois meses das eleições ainda há uma grande massa de inquiridos que não sabe em quem votar (17%). Tendo em conta as características dos indecisos, foi feita uma distribuição das intenções de voto que não muda os lugares de cima: os socialistas, com António Miguel Pina, têm 31%, logo seguidos de Cristóvão Norte, com menos dois pontos percentuais. “A diferença entre estes valores não atinge significância estatística”, conclui o estudo. Só depois surge o Chega (23%), mas com o intervalo de intenção de voto a “sobrepor-se parcialmente” ao da coligação liderada pelos sociais-democratas. Atrás ficam CDU (5%), BE (5%) e outros candidatos (4%).
Como votaria se as autárquicas em Faro fossem hoje?
Resultados do total da amostra e projeção do resultado eleitoral. A projeção é calculada pela distribuição da intenção de voto após a exclusão dos inquiridos que dizem não votar (15%) e a imputação dos inquiridos indecisos (17%). A diferença para 100% corresponde à intenção de voto em outros partidos (3%), votos em branco e votos nulos (2%)
Socialista melhor avaliado dentro e fora do PS
A sondagem dá esperança ao PS para tentar recuperar uma autarquia que perdeu em 2009. No rescaldo de umas legislativas em que caíram de primeiro para terceiro no município, perdendo quase dois mil votos, os socialistas apresentam António Miguel Pina como candidato. O atual autarca de Olhão (que sai da Câmara vizinha por atingir a limitação de mandatos) preside também à Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL). Pela frente terá o presidente do PSD Algarve, que tentará segurar a Câmara que Rogério Bacalhau deixa com maioria absoluta. Depois de o antigo autarca de Faro e ex-secretário de Estado Macário Correia ter rejeitado encabeçar a candidatura (optando por liderar a lista à Assembleia Municipal), cabe a Cristóvão Norte dar a cara pela coligação Faro Capital da Confiança. O PSD coliga-se novamente com CDS, IL e Partido da Terra (MPT), e desta vez tem o apoio do PAN, a substituir o PPM.
Comparando diretamente estes dois candidatos, António Miguel Pina destaca-se para os inquiridos “claramente” na experiência (29% vs. 18%) e competência (24% vs. 17%). Nas restantes “qualidades políticas”, como a “honestidade” e a “preocupação com as pessoas”, Pina e Norte obtêm “proporções idênticas”. O socialista sobressai, contudo, pela maior aprovação entre os simpatizantes do seu próprio partido, sendo destacado por mais de 50% dos inquiridos em todas as características, menos uma (“dizer aquilo que pensa”, em que obtém 48%). Cristóvão Norte não vai além dos 46% de preferência no seu próprio eleitorado. Mais, as qualidades de Pina são também mais reconhecidas pelo eleitorado à direita, entrando melhor tanto na aprovação dos eleitores do PSD como do Chega (entre 15% e 28%) do que as de Norte no eleitorado do PS (7% a 14%).
Percentagem em relação ao total da amostra
O Chega candidata o líder parlamentar, Pedro Pinto, eleito pelo distrito de Faro para a Assembleia da República desde 2022. Sob o lema “Tornar Faro Grande Outra Vez” (uma clara referência ao slogan de Trump), a candidatura perde para os outros dois candidatos em todas as qualidades menos uma: Pedro Pinto aproxima-se de Pina e Norte enquanto o que “mais diz o que pensa” (14% vs. um empate nos 18%). Tem igualmente uma taxa muito reduzida de preferência junto do eleitorado socialista (entre 1% e 7%) e da coligação (0% e 5%). Na edição de 25 de julho, Pedro Pinto dizia-se convicto de que o Chega tem o “eleitorado mais fiel”, que contribuirá para um “resultado histórico” a 12 de outubro. Ora, junto do seu próprio eleitorado o líder parlamentar nunca ultrapassa os 50% de preferência (o valor mais elevado é de 47%) e tem os valores mais baixos dos três candidatos sobretudo em duas categorias: simpatia e experiência (onde é apenas destacado por um terço dos simpatizantes).
FICHA TÉCNICA
Este relatório baseia-se numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 23 e 28 de julho de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, recenseados nas freguesias do concelho de Faro. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo e Idade (4 grupos). A partir de uma matriz inicial baseada na distribuição da população eleitoral pelas 4 freguesias do concelho de Faro com base nos dados do Recenseamento Eleitoral (MAI, 31 de dezembro de 2024), foram selecionados aleatoriamente 81 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2382 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 802 entrevistas válidas (taxa de resposta de 34%; taxa de cooperação de 44%). O trabalho de campo foi realizado por 19 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 802 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nos gráficos seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Cláudia Monarca Almeida e Jaime Figueiredo)
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