quinta-feira, março 13, 2025

Gouveia e Melo já adiou a formalização da candidatura, mas continua a ser o favorito às presidenciais de janeiro do próximo ano. De acordo com uma sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, ficaria em primeiro (35,9%), com mais dez pontos do que Marques Mendes (25,5%), se o candidato socialista fosse António José Seguro (14,1%). Mas a vantagem do almirante (32,2%) sobre o social-democrata (24,8%) ficaria reduzida a sete pontos, se o PS preferisse António Vitorino (20,7%). Numa eleição em que os portugueses apontam para uma “liderança forte” (49%), o militar também vence todos os adversários nos cenários virtuais de segunda volta, com uma vantagem que supera a margem de erro (mais ou menos 5%). A campanha para as legislativas antecipadas em que o país político já mergulhou atira para segundo plano a corrida às presidenciais. Gouveia e Melo, que a 21 de fevereiro passado publicou uma espécie de manifesto, só deverá apresentar a candidatura a Belém depois das legislativas do próximo mês de maio. É plausível, também, que se prolongue o tabu sobre quem será o candidato socialista. Sendo certo que, apesar da maioria dos inquiridos ser de opinião que o PS deve apoiar Seguro (56%), seria na verdade Vitorino a ficar mais próximo de uma eventual segunda volta.

A sondagem de intenção de voto da Pitagórica, cujo trabalho de campo decorreu entre 23 e 27 de fevereiro, pouco antes do ponto alto da crise que abalou o Governo, teve em conta dois cenários: um com Seguro, outro com Vitorino, mantendo-se as restantes dez personalidades. E, para além do ex-ministro conseguir melhores resultados que o ex-secretário-geral do PS, há uma outra tendência relevante quando é o primeiro que está no “boletim”: os outros candidatos perdem gás, e Gouveia de Melo (menos quatro pontos percentuais) mais do que a soma de todos os outros (menos três pontos percentuais).

Vantagem do almirante é maior com Seguro

Num cenário em que o candidato apoiado pelo PS fosse António José Seguro, o almirante sairia vitorioso na primeira volta (35,9%), com mais de dez pontos de vantagem sobre Marques Mendes (25,5%), ou seja, para lá da margem de erro. O social-democrata, que é na verdade o único que já se apresentou oficialmente como candidato, teria assegurada, por sua vez, a passagem à segunda volta, uma vez que ficaria onze pontos à frente do candidato socialista (14,1%).

Os seguintes na lista seriam André Ventura (Chega), com 12,9%; Sampaio da Nóvoa (uma personalidade que Livre e BE, e provavelmente uma parte dos socialistas, apoiariam sem reservas) ficaria com 4,9%; Mariana Leitão, a líder parlamentar da IL, que a recente Convenção dos liberais apontou como candidata), com 2,5%; e Jerónimo de Sousa (incluído na lista porque o PCP não deixará de entrar na corrida, ainda que com outro nome) com 1,8%. Houve mais quatro candidatos testados (Inês Sousa Real do PAN; André Pestana, líder do STOP; Tim Vieira, empresário; e Joana Amaral Dias do ADN), mas todos ficaram abaixo do ponto percentual.

Empate técnico se o candidato for Vitorino

As contas para a segunda volta ficariam mais difíceis se os socialistas optassem por António Vitorino, ao ponto de se pôr em dúvida, desde logo, a liderança na primeira volta. Gouveia e Melo (32,2%) continuaria a ser o favorito, mas ficaria, na verdade, em situação de empate técnico com Marques Mendes (24,8%), uma vez que, tendo em conta a margem de erro, o pior resultado do almirante (27,5%), ficaria abaixo do melhor para o social-democrata (29,1%).

O próprio Vitorino (20,7%) ficaria em empate técnico com Mendes na luta pelo segundo lugar, uma vez que poderia aspirar a chegar ao máximo de 24,8%, enquanto o candidato apoiado pelo PSD tem um patamar mínimo de 20,5%. Neste cenário com Vitorino, Ventura cai para os 12,1%, Sampaio da Nóvoa para 3,8%, Mariana Leitão para 2,2% e Jerónimo consegue 1,9%. Os últimos quatro continuariam abaixo de um ponto percentual, ou seja, mantinham-se irrelevantes.

Há um dado, no entanto, que contraria a opção por António Vitorino. A maioria dos portugueses (56%) é da opinião que o PS deve apoiar António José Seguro na corrida a Belém. Com destaque para os homens (61%), para os que têm entre 35 a 54 anos (66%) e para a classe média (61%). O atual presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo só é o favorito entre os que têm 55 ou mais anos e entre os mais pobres (51% em ambos). Mas é também ele que lidera entre os eleitores do PS (51%), ainda que com apenas dois pontos de vantagem sobre António José Seguro.

Ventura masculino e Mendes nortenho

Quando se analisam os resultados dos diferentes segmentos da amostra (género, idade, classe social, geografia e voto partidário), percebe-se que, entre os candidatos do pelotão da frente, há tendências que parecem sedimentadas, seja qual for o cenário alternativo da primeira volta (Seguro ou Vitorino), mas que há também umas quantas diferenças, em particular entre os dois potenciais candidatos socialistas.

No que diz respeito ao género, há um relativo equilíbrio no caso de Gouveia e Melo e Mendes, seja qual for o cenário, enquanto Ventura confirma o histórico de sondagens anteriores, revelando uma dose reforçada de testosterona (mais dez pontos percentuais nos homens). No campo socialista, Seguro é ligeiramente mais feminino, enquanto Vitorino se destaca no masculino.

Se o foco for a idade, percebe-se que o almirante ganha apoio à medida que o eleitorado envelhece, atingindo o ponto mais alto nos que têm 55 ou mais anos, em particular se o adversário socialista for Seguro. Mendes perde fulgor entre os mais novos (18/34 anos), se o candidato for Vitorino. Sendo que é nesta faixa etária que este último mais se distingue, para melhor, de Seguro. André Ventura também é mais forte entre os mais novos e vai perdendo fulgor com a idade do eleitor. Empata no primeiro lugar com Gouveia e Melo entre os que têm 18 a 34 anos, se o candidato for Seguro, mas passa para segundo se for Vitorino.

Se tivermos em conta as quatro regiões em que se divide a amostra, o almirante tem sempre os melhores resultados no Centro (nos dois cenários) e os piores em Lisboa, em particular se for Vitorino o candidato socialista. Este último conseguiria mais nove pontos percentuais do que Seguro na capital. Marques Mendes destaca-se no Norte, e ainda mais se o adversário for Seguro. Quanto a Ventura, o melhor resultado é sempre no Sul e Ilhas, e o pior sempre no Norte.

Eleitores socialistas “votam” em Vitorino

Relativamente a classes sociais, Henrique Gouveia e Melo revela um relativo equilíbrio nos três escalões em que se divide a amostra (embora ganhe peso adicional nos mais pobres, se o candidato do PS for Seguro; ou nos mais ricos, se for Vitorino). No caso dos socialistas, destaca-se o facto de o ex-secretário-geral ser bastante mais fraco entre os que têm pior rendimento, enquanto o ex-ministro se supera entre a classe média. Mendes tem os melhores resultados entre os mais afluentes e o pior na classe média, seja qual for o adversário socialista. Ventura vai perdendo apoio à medida que os rendimentos aumentam.

Finalmente, quando o que está em causa é a forma como os inquiridos votaram nas legislativas de 2024, destaca-se o facto de Gouveia e Melo ficar em primeiro lugar entre os eleitores do PS, se no boletim de voto estiver António José Seguro. Se o adversário for António Vitorino, repõe-se a “normalidade”, com uma vantagem de 14 pontos do socialista sobre o almirante.

Sem espaço para surpresas, Marques Mendes vence entre os eleitores da AD, seja qual for o cenário da primeira volta (mas nunca passa dos 40% entre os seus). Ventura é o candidato presidencial preferido dos eleitores do Chega, mas quase um terço deles, talvez pela ligação entre a carreira militar e o conceito de “liderança forte”, votaria no almirante.

Maioria quer uma liderança forte em Belém

Uma “liderança forte” é, aliás, a característica que os portugueses mais valorizam (49%) num futuro presidente da República (mais sete pontos percentuais do que no barómetro de janeiro passado). Com destaque para a classe média (56%) os que residem no Sul e Ilhas (56%) e os eleitores do Chega (56%). Mas também é assim entre os que votaram nos liberais, nos bloquistas e nos comunistas.

Há outras características que interessam a uma fatia razoável de portugueses (cada inquirido podia indicar três). Desde logo, a “integridade e ética”, com 31% (com destaque para quem tem melhores rendimentos e para os eleitores do Livre). E depois a “experiência política”, com 29% (sobretudo para os mais velhos, os que residem a Norte e os eleitores comunistas).

Seguem-se a “capacidade de tomar decisões difíceis” e a “capacidade de comunicação”, referidas por 27% dos portugueses. Em ambos os casos se destacam os eleitores mais jovens (18 a 34 anos). Se o foco for o segmento de voto partidário, a comunicação é particularmente importante para quem vota no Chega e as decisões difíceis apaixonam sobretudo os eleitores do Bloco.

Ficha técnica

Sondagem realizada pela Pitagórica para o JN, TSF e TVI, CNN Portugal, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 615 tentativas de contacto, para alcançarmos 400 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 65,04%. As 400 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 5,0% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social, que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)

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