sexta-feira, março 21, 2025

Sondagem Expresso/SIC: AD tem 65% dos seus eleitores seguros, mas 25% não queriam Montenegro

Mais de 40% dos que votaram AD estão insatisfeitos com respostas do primeiro-ministro sobre a Spinumviva, mostram os dados desagregados da sondagem realizada pelo ICS/ISCTE. A avaliação que fazem do Governo, porém, é muito positiva. A maioria dos que votaram em Luís Montenegro nas eleições legislativas de há um ano não tenciona mudar de voto a 18 de maio, mas há uma franja do eleitorado da AD que se mostra insatisfeita com o ­atual chefe de Governo — estão entre os 18% e os 33%, dependendo das questões levantadas neste estudo. Serão votos decisivos se tivermos em conta que nas últimas eleições a AD venceu por uma margem de apenas 50 mil votos.

Vamos aos dados: de acordo com a sondagem do ICS/ISCTE feita para o Expresso e a SIC, são cerca de dois terços (65%) os que votaram na AD que se mantêm firmes nessa intenção de voto à data de hoje. Há 5% que pretendem votar “noutro partido”, 3% que nem tencionam votar e 2% que anunciam um voto em branco ou nulo. Mas 25% dos eleitores da AD manifestam-se ainda indecisos. Esse número é praticamente igual ao dos eleitores da coligação de centro-direita que consideram que Montenegro “faz mal em apresentar-se às eleições legislativas antecipadas como líder da AD”.

O caso Spinumviva parece ser um factor relevante para esse entendimento. É que, se entre estes eleitores da AD de 2024 81% classificam de “bom” ou “muito bom” o desempenho do atual Governo, o facto é que quase metade (42%) desse grupo afirma que “ficaram coisas por esclarecer” pelo atual primeiro-ministro relativamente a esse caso. E, questionados sobre se, “em consequência desta controvérsia e dos acontecimentos que se seguiram, a sua opinião a respeito de Luís Montenegro melhorou, ficou na mesma ou piorou”, 20% respondem que o caso “piorou” na sua opinião sobre o chefe de Governo. Os eleitores de há um ano da AD, porém, pensam de forma esmagadora que as eleições antecipadas não eram inevitáveis — 83%. Curiosamente, exatamente a mesma proporção dos que pensam igual entre os eleitores do PS de 2024. A diferença é que apenas 14% dos que disseram ter votado na AD em 2024 atribuem a culpa mais ao Governo, face a 57% dos que votaram nos socialistas.

Entre os eleitores do PS de há um ano, só 61% dizem já ter decidido voltar a votar em Pedro Nuno

Nas respostas a todas estas perguntas, de resto, veem-se dois países muito diferentes, consoante as preferências partidárias. Por exemplo, são 85% os eleitores do PS que consideram terem ficado “coisas por responder” por Montenegro no caso da sua empresa familiar, o dobro face aos eleitores da AD. Em consequência, 60% dos simpatizantes socialistas dizem ter piorado a sua opinião acerca do chefe do Executivo. E, claro, 69% dos que votaram em Pedro Nuno Santos há um ano entendem que o atual primeiro-ministro não devia recandidatar-se nas eleições que se seguem.

Sendo as diferenças muito significativas, há um núcleo de anteriores votantes do PS que olha para o atual Governo de forma mais benevolente, 34% consideram até que tem feito um “trabalho muito bom” ou “bom”. O que mostra que os eleitorados da AD e do PS estão literalmente em espelho: se há um terço de anteriores eleitores de Montenegro que não jura repetir o seu voto, há também um terço dos do PS em 2024 que dá boa nota ao Executivo de centro-direita.

Não espanta, assim, que isso se reflita também no quadro das intenções de voto. É que, entre os eleitores do PS de há um ano, também só 61% dizem já ter decidido voltar a votar em Pedro Nuno Santos, sendo o número de indecisos precisamente igual ao dos anteriores votantes da AD: 25%. O líder socialista tem ainda 7% de antigos eleitores dispostos a mudar de partido no momento de colocar a cruz no boletim e 3% decididos a nem votar no próximo mês de maio. Uma vez mais, se nas legislativas de há um ano o novo Governo se decidiu entre estes dois partidos por apenas 50 mil votos, desta vez tudo se mantém completamente em aberto. Faltam, é claro, dois meses de campanha. Em política, neste cenário, é uma eternidade.

FICHA TÉCNICA

Sondagem telefónica cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 12 e 17 de março de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal. Os números fixos, cerca de 33% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (3 grupos), Instrução (3 grupos) e Região (9 Regiões NUTS II 2024). A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, pelo sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Foram contactados 5397 números de telefone elegíveis (correspondentes a indivíduos pertencentes ao universo) e obtidas 802 entrevistas válidas (taxa de resposta de 15%, taxa de cooperação de 22%). O trabalho de campo foi realizado por 31 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes em Portugal, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 802 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nas páginas seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto do jornalista David Dinis e da jornalista infográfica Sofia Miguel Rosa)

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