Vou procurar "explicar", de acordo com a minha análise e percepção das coisas, o que se passou com o CDS e com José Manuel Rodrigues, para que este tenha sido praticamente "obrigado" a prescindir das presidência do parlamento para integrar o gabinete de Miguel Albuquerque. Nada está decidido, ressalvo desde logo, nada foi anunciado de concreto no quadro do respeito institucional pelos procedimentos a adoptar nestes tempos, e antes de sexta-feira consideremos tudo especulação. E quanto a isso, é o que há demais bestes dias, aliás como é costume e habitual. Nada de admirar, portanto
Mas há uma fortíssima probabilidade, diria 99 em 100% de José Manuel Rodrigues integrar o governo, sem que saibamos ainda qual a pasta num executivo cuja estrutura nem é conhecida. Alguns comentários preliminares, nas redes sociais, tentaram logo desvalorizar a situação e afirmar, a quente, que José Manuel Rodrigues era "despromovido" ou "descia de cavalo para burro" expressão popular que procura retratar situações semelhantes.
Nada disso.
Falar de política, considerando todos os itens necessários ao processo de decisão, exige que se conheça minimamente o que se passa, o que está em causa, antecipar cenários, analisar opções reduzir escolhas. E não são as redes sociais, de uma maneira geral, o local mais adequado, recomendável e competente para isso. Sobretudo quando entram, numa espiral linguística e de catalogação das pessoas.
É como o futebol, temos os treinadores de bancada que sabem "tudo", que falam de "tudo" que jogavam melhor do que todos os jogadores do mundo e arredores, mas depois há o futebol real, as competências, as aptidões, os conhecimentos, o profissionalismo, enfim, o saber, mesmo!
Vamos a factos
Na noite eleitoral, mais do que ter percebido que o CDS seria o aliado natural do PSD-Madeira, para ser garantida, por ambos, a maioria absoluta e uma perspectiva de cumprimento da Legislatura regional de 4 anos, interroguei-me várias vezes que decisão o CDS-Madeira tomaria perante a nova realidade.
Sendo natural que um pequeno partido - é igual em toda a parte do mundo - percebendo que é fundamental para a estabilidade governativa jogue no tabuleiro das negociações muitas vezes obtendo fora do parlamento um protagonismo e presença superior à representação parlamentar alcançada, ao CDS-Madeira colocava-se outra questão bem mais melindrosa, politicamente falando, e complexa.
E percebemos facilmente que assim fosse.
Perdido o estatuto de grupo parlamentar e mais fragilizado eleitoralmente - o CDS-Madeira perdeu 1 deputado e pouco mais de 1.000 votos, passando a ter apenas um representante - seria politicamente polémico que José Manuel Rodrigues se mantivesse na função de Presidente da Assembleia, que por norma exige alguma equidistância, pouco protagonismo nos debates parlamentares sem, renegar obviamente ao seu partido.
Ou seja, com JMR na presidência da Assembleia o CDS-M ficaria privado de um deputado no hemiciclo que participasse normalmente nos debates, na discussão de iniciativas legislativas, no período de antes da ordem do dia, nas declarações políticas, nas comissões, etc. Seria primeiro passo para um suicídio político do CDS-Madeira e obviamente isso, mais cedo ou mais tarde, traria problemas complexos ao partido e ao próprio José Manuel Rodrigues.
Portanto a saída era outra opção a negociar. A hipótese de integrar o Governo foi adquirindo corpo e se isso se confirmasse, colmo tudo indica que sim, o CDS ficaria com um secretário regional, com o protagonismo que isso lhe confere mediaticamente falando mas poderia substituir JMR por outro deputado, neste caso Sara Madalena, que já estava na anterior Legislatura, garantindo ao CDS um lugar no parlamento e a participação nos debates e outras prerrogativas parlamentares atribuídas aos deputados únicos.
Ou seja, dificilmente o CDS, com um deputado apenas, poderia liderar o parlamento regional, não que não fosse possível, mas pelas implicações políticas negativas para o próprio CDS que perderia espaço e intervenção política quando o objectivo é o de recuperar os eleitores perdidos. Que, de acordo com a minha percepção e análise, se desviaram para o PSD-Madeira a favor de uma estabilidade governativa que, em certa medida, o CDS, se chegasse à mesma conclusão que eu, estaria obrigado a garantir.
Basicamente o CDS sabe que saiu fragilizado deste processo eleitoral embora tenha tido a sorte de manter-se essencial a garantir a maioria absoluta. Duas coisas distintas. E José Manuel Rodrigues percebeu, não só pela posição de Luis Rosa do CDS-M, que defendeu o regresso do partido ao Governo Regional - comparativamente semelhante ao acordo que levou Nuno Melo ao governo de Montenegro, embora num quadro de coligação pré-eleitoral - mas também para estancar qualquer movimentação interna que a reboque dos resultados eleitorais pretendesse disputar a liderança do partido com ele.
Ou seja, se o CDS-M tivesse mantido o grupo parlamentar nada disto eventualmente se colocaria. Mas a nova realidade eleitoral e parlamentar determinou estes ajustamentos que desde a noite eleitoral, percebo que seriam inevitáveis. Pelos motivos atrás referidos (LFM)
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