sexta-feira, março 21, 2025

Sondagem Expresso/SIC: Portugueses dão negativa a Montenegro na Spinumviva, mas aprovam Governo

Luís Montenegro não esclareceu tudo o que havia para esclarecer no caso da empresa familiar Spinumviva, que continuou a trabalhar e a faturar enquanto ele era primeiro-ministro, mas isso não era razão para a convocação de eleições. É este o retrato feito pela sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC, a primeira com trabalho de campo realizado imediatamente depois do chumbo da moção de confiança. A fotografia do momento mostra ainda como os eleitores — que não queriam eleições — repartem as “culpas” da crise em igual medida pelo Governo e pela oposição e como, acima disto tudo, o desempenho do Executivo segue em pista própria com nota positiva.

O impacto da polémica é claro: de um total de 802 entrevistas telefónicas válidas, quase todos os inquiridos (90%) confirmaram ter ouvido falar sobre a controvérsia em torno da empresa fami­liar do primeiro-ministro, Luís Montenegro. Destes, a maior parte (64%) considerou que ficaram coisas por esclarecer e só 23% se dizem esclarecidos pelo primeiro-ministro — havendo 13% que não respondem.

Questionados sobre se a opinião que tinham de Luís Montenegro tinha melhorado, piorado ou ficado na mesma em função dos acontecimentos das últimas semanas, 39% disseram que piorou e 5% que “melhorou”. Uma maioria — 52% — disse, porém, que ficou na mesma. Há, assim, um impacto negativo na imagem do primeiro-ministro, que não é generalizado, sendo maior entre eleitores à esquerda e ao centro (56% e 41%, respetivamente) do que entre os que votaram à direita há um ano (20%). Os maiores estragos na imagem do primeiro-ministro aconteceram nos eleitores mais jovens (entre os 18 e os 24 anos), com 51% deles a dizerem que a sua opinião sobre Luís Montenegro piorou, secundados pelos inquiridos com mais estudos — ensino superior (45%) e secundário (44%).

Governo a fazer um “bom” trabalho

Depois de Luís Montenegro ter chamado todos os seus ministros a São Bento e ter eito uma comunicação formal na residência oficial, o que era um caso unipessoal passou a ser um caso do Governo como um todo. Dito isto, se as eleições forem um teste ao atual Governo, que leva apenas um ano de mandato, para que lado pode pender a balança? O Governo estava a fazer um bom trabalho ou um mau trabalho? Quando questionados sobre isto, a maior parte dos inquiridos na sondagem do ICS/ISCTE diz que estava a fazer um “bom” trabalho. São 43% a fazerem esta avaliação positiva (mais 4% que avaliam como “muito bom trabalho”), o que representa, para já, mais do dobro daqueles que admitem votar na AD nas próximas eleições. Analisando os dados de acordo com a votação dos eleitores há um ano, verifica-se que é também essa a opinião de 34% dos eleitores PS e 23% dos que votaram no Chega. De resto, apenas 27% do total de inquiridos avaliam o trabalho do Governo como “mau” e 16% “muito mau”. Se pesarmos os dois blocos, o Executivo segue com nota positiva.

Há cerca de dois meses, no final de janeiro, quando ainda não havia sinais de crise política, uma sondagem do ICS/ISCTE fazia um retrato idêntico do desempenho do Governo: nem bom, nem mau, ou tão bom como mau. Na altura, 35% diziam que o trabalho era mau e 40% consideravam que era bom — o que parece indiciar que a avaliação do Governo permanece (por agora, pelo menos) imune ao caso Spinumviva.

Culpa? Dividida

Para a vantagem que a AD tem nesta sondagem pode contribuir também a divisão sobre quem tem a responsabilidade pela atual crise política. As respostas dividem-se com exatidão, com 37% dos inquiridos a responderem que é “mais do Governo” e outros 37% que é “mais de alguns partidos da oposição” — e 19% a responsabilizarem “ambos”. As respostas parecem corresponder às preferên­cias partidárias, com apenas 14% dos que votaram na AD há um ano a culparem Montenegro pela antecipação de eleições. Uma vez mais a opinião de que o Governo é mais responsável pela atual crise política foi partilhada mais frequentemente pelos jovens adultos (25-44 anos) do que pelos mais velhos, assim como mais entre eleitores à esquerda e ao centro do que à direita (60% e 38% contra 27%, respetivamente). Numa coisa os eleitores da AD e do PS parecem concordar em absoluto: tanto para 83% do eleitorado que votou AD há um ano, como para 83% dos que votaram PS, estas eleições “podiam ter sido evitadas”.

FICHA TÉCNICA

Sondagem telefónica cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 12 e 17 de março de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal. Os números fixos, cerca de 33% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (3 grupos), Instrução (3 grupos) e Região (9 Regiões NUTS II 2024). A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, pelo sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Foram contactados 5397 números de telefone elegíveis (correspondentes a indivíduos pertencentes ao universo) e obtidas 802 entrevistas válidas (taxa de resposta de 15%, taxa de cooperação de 22%). O trabalho de campo foi realizado por 31 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes em Portugal, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 802 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nas páginas seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100%  (Expresso, texto da jornalista Rita Dinis e da jornalista infográfica Sofia Miguel Rosa)

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