Os principais bancos a
operar em Portugal compensaram a descida das taxas de juro com um aumento
significativo das comissões cobradas aos clientes. De acordo com os relatórios
e contas consultados pelo Jornal de Notícias, o lucro gerado apenas pelas comissões
ascendeu a 2,488 mil milhões de euros em 2024, o que representa cerca de 4.800
euros por minuto. Este montante corresponde a aproximadamente 50% dos lucros
totais do setor bancário, que atingiram os 4,964 mil milhões de euros no mesmo
período.
O banco que mais lucrou com comissões foi o BCP, que arrecadou 809 milhões de euros, seguido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), com 581 milhões. O Santander Totta registou 452 milhões de euros, enquanto o BPI e o Novobanco obtiveram 327 milhões e 319 milhões, respetivamente. Comparativamente a 2023, houve um aumento global de quase 5% nas receitas provenientes de comissões, com exceção do Santander Totta, que registou uma ligeira quebra. Nos últimos dez anos, o montante arrecadado pelos bancos em comissões passou de 2,028 mil milhões de euros, em 2015, para os atuais 2,488 mil milhões, o que representa um crescimento de 22,7%. Este aumento supera a inflação acumulada no mesmo período, que foi de 21,4%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Nuno Rico, economista da
Deco Proteste, critica esta tendência, referindo que “é muito difícil
justificar estes valores, ainda mais quando os bancos têm vindo a obter lucros
recorde desde 2022”. O especialista aponta ainda uma “falta de sensibilidade
social” da banca, que apenas reduz as comissões “quando é obrigada por
imposição legislativa”. Em 2023, por exemplo, foram eliminadas algumas taxas,
como a comissão de processamento da prestação do crédito, graças a uma
intervenção da Deco, levando a uma ligeira redução da receita dos bancos nesse
setor. A manutenção de contas continua a ser a principal fonte de receita para
os bancos neste segmento. Segundo Nuno Rico, só esta taxa representa um custo
médio de 70 euros anuais por cliente. Para quem utiliza serviços bancários com
maior frequência, esse valor pode atingir os 110 euros anuais. “Isto é
incompreensível”, reforça o economista, lembrando que “o próprio Estado obriga
os cidadãos a terem uma conta bancária para cumprir determinadas obrigações
fiscais e administrativas”.
Os bancos justificam este
aumento nas receitas de comissões com a expansão da atividade bancária, em
particular no setor dos seguros. A CGD destaca que o seu volume de negócios
cresceu 6% em 2024, enquanto as comissões subiram apenas 1%. O BPI, por sua vez,
refere que não aumentou as comissões, atribuindo o crescimento dos resultados à
expansão do crédito, dos produtos de poupança e investimento e da intermediação
de seguros. O Novobanco, o Santander Totta e o BCP não prestaram
esclarecimentos, mas o BCP, em comunicados anteriores, atribuiu o crescimento
das suas receitas à “atividade de bancassurance”. O Novobanco, no seu plano
estratégico, já indicou que continuará a aumentar preços sob a designação de
“otimização de preços”.
A política comercial dos bancos tem sido alvo de críticas, nomeadamente por parte do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno. Desde 2023, com a subida das taxas de juro e o consequente aumento dos lucros da banca, Centeno tem alertado para a necessidade de os bancos reduzirem comissões e aumentarem a remuneração dos depósitos dos clientes. Recentemente, criticou a diferença significativa entre a remuneração dos depósitos que os bancos fazem junto do Banco Central Europeu e os juros pagos aos clientes. O governador defendeu que “a banca deve apoiar a economia” e sublinhou que os bancos “devem poupar” para se prepararem para uma futura descida das taxas de juro, que poderá impactar negativamente os seus resultados (Executive Digest)
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