Quando os restantes desiludem, sobra Marcelo Rebelo de Sousa. De acordo com o barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, o presidente da República volta a ser o político português mais popular, ultrapassando Luís Montenegro, castigado pelas polémicas com a empresa familiar e uma crise que levou à queda do Governo: são cada vez mais os que dão boa nota ao presidente (55%), e cada vez menos os que lhe dão negativa (41%). Uma imagem positiva que se fica a dever a um grupo em particular: as mulheres. São elas que fazem a diferença. Se dependesse apenas dos homens, Marcelo seria mais um entre uma longa lista de políticos desprezados.
O trabalho de campo do barómetro decorreu entre 23 e 27 de fevereiro, ou seja, já depois de ter rebentado a polémica com a empresa familiar do primeiro-ministro, mas antes de uma crise política que, como se confirmou esta terça-feira, conduziu à queda do Governo e à mais que provável antecipação das eleições legislativas. Uma crise em que o presidente assumirá protagonismo e, portanto, com o potencial para alterar a avaliação dos portugueses. Estes resultados falam, portanto, sobre um passado recente, mas politicamente distante.
Antes do turbilhão, o que se percebia é que Marcelo Rebelo de Sousa estava a recuperar a popularidade de que já gozou no passado. No barómetro de janeiro tinha conseguido um saldo positivo de dez pontos (diferença entre avaliações positivas e negativas). Dois meses depois, já são 14 pontos. Uma trajetória inversa à do primeiro-ministro, que em janeiro tinha um saldo positivo de 15 pontos e está agora apenas um ponto acima da linha de água.
Masculinidade tóxica e bastião a Norte
A exemplo da primeira avaliação, a opinião dos portugueses não é linear. E a discrepância mais significativa continua a ser a do género. Aliás, acentuou-se. Entre os homens, o saldo negativo de Marcelo agravou-se para cinco pontos. Sucede que as mulheres compensam esta masculinidade tóxica, registando um saldo positivo de 30 pontos, sem paralelo nos restante segmentos sociodemográficos.
Quando se analisam os resultados por faixa etária, deteta-se outro sinal de que o inquilino de Belém não agrada a todos. Entre os inquiridos com 35 a 54 anos passou de saldo positivo a negativo, compensando essa perda com o reforço da avaliação positiva entre os mais jovens e os mais velhos. Quando o ângulo muda para a geografia, o presidente tem o Sul e as ilhas como ponto negativo, mas recupera o apoio dos que vivem na região de Lisboa. O bastião mais importante continua a ser o Norte (saldo positivo de 23 pontos).
Ao cruzar a forma como votam os portugueses e a avaliação que fazem do seu presidente, o resultado entre os eleitores da AD (saldo positivo de 47 pontos) e do PS (saldo positivo de seis pontos) é igual ao de janeiro, mas piora substancialmente entre os do Chega (saldo negativo de 38 pontos). Recorde-se que no partido da direita radical populista (designação da ciência política), os homens são quase o dobro das mulheres.
Confiança em queda mas superior a Montenegro
Ao contrário do que seria expectável, no entanto, quando se pergunta aos portugueses se confiam mais no presidente da República ou no primeiro-ministro, ambos perdem quatro pontos relativamente a janeiro: 22% optam por Montenegro, 28% por Marcelo e 40% refugiam-se numa resposta neutra (igual confiança). Mas são de novo as mulheres que fazem pender a balança para o Palácio de Belém. Se dependesse dos homens, S. Bento teria mais votos.
Outros dos indicadores do barómetro diz respeito à exigência do presidente sobre o Governo. A percentagem dos que querem mais exigência é habitualmente elevada, mas neste mês de março são quase oito em cada dez portugueses (77%), com destaque para os que têm 35 a 54 anos (82%), os mais pobres (82%) e os que votam no Chega (86%).
Eanes continua a ser o melhor presidente
Quando se pergunta aos portugueses quem foi o melhor presidente da República nestes 50 anos de democracia, Marcelo Rebelo de Sousa repete o quarto lugar para que já tinha sido remetido em janeiro passado, agora com 13% (menos um ponto). Mas supera essa média entre as mulheres (17%), os que têm 35 a 54 anos (20%), os que têm melhores rendimentos (17%) e os eleitores da AD (21%).
António Ramalho Eanes, o primeiro presidente da República eleito (Spínola e Costa e Gomes foram nomeados pela Junta de Salvação Nacional, na sequência do 25 de abril), continua em primeiro lugar, com 30% (mais um ponto do que em janeiro), com destaque para os homens (38%), para os que têm 55 ou mais anos (36%), a classe média (36%), os que vivem no Sul e nas ilhas (37%) e os que votam no Chega (47%).
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para o JN, TSF e TVI, CNN Portugal, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 615 tentativas de contacto, para alcançarmos 400 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 65,04%. As 400 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 5,0% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social, que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, texto de análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)
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