Nem os eleitores da AD acreditam que aguente quatro anos. Saldo positivo para Montenegro e para as suas escolhas, apesar das hesitações. “Não, é não” a acordos com o Chega tem de ser mantido. Luís Montenegro tomou posse garantindo que não lidera um Governo “de turno”. Os portugueses, no entanto, não acreditam: um pouco mais de dois terços (68%) defendem que não será capaz de cumprir os quatro anos de legislatura, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. A expectativa sobre o mandato do novo primeiro-ministro e as escolhas que fez para o Executivo até tem saldo positivo, mas são muitos os que duvidam. Quanto ao “não, é não” ao Chega, não há hesitações: 67% dizem que essa posição tem de ser mantida. Até porque a maioria considera negativa a hipótese de ter o partido de André Ventura no Governo (59%).
A matemática parlamentar não engana: o PSD tem tantos deputados quanto o PS (78) e o terceiro grande ator da nova Assembleia da República é o Chega, com os seus 50 eleitos. Os portugueses antecipam, por isso, uma legislatura instável (70%), incluindo os eleitores da AD (57%), que são os mais “otimistas”. A percentagem dos que admitem vida curta ao novo Governo é quase a mesma (68%), sendo também essa a posição maioritária dos que votaram a 10 de março na coligação que juntou o PSD, o CDS e o PPM (53%).
Se o Governo não aguenta os quatro anos, qual será o seu limite? Ou seja, quando é que o país será de novo confrontado com a hipótese de eleições antecipadas? Quase metade dos que não acreditam que cumpra o mandato dão-lhe, no máximo, um ano de vida (coincide com a discussão do Orçamento do Estado para 2025). A outra metade entre um e dois anos (sendo certo que há eleições presidenciais em janeiro de 2026, o que significa que o Parlamento não pode ser dissolvido entre julho de 2025 e julho de 2026).
Metade sem certezas
O trabalho de campo da sondagem começou um dia depois de ter sido conhecido o nome dos 17 ministros que acompanham Luís Montenegro, e terminou um dia depois da sua tomada de posse. Pouco tempo para ter certezas sobre a avaliação a fazer ao Governo, o que ajuda a explicar que a maior fatia de portugueses se tenha refugiado numa resposta neutra: 37% optaram por dizer que as escolhas do novo primeiro-ministro não foram nem boas nem más. Se a isso somarmos os inquiridos que não sabiam ou não quiseram responder, são 48%.
No entanto, se excluirmos a metade que hesita ou duvida, o novo Governo parte com um saldo positivo, ou seja, mais notas positivas do que negativas (a última avaliação ao Executivo de António Costa foi bastante negativa). Esse saldo é comum a todos os segmentos sociodemográficos da amostra (região, género e idade), mas não resiste às divisões partidárias. Quando se analisam as respostas tendo em conta o voto nas legislativas: o saldo só é positivo entre quem votou na AD, na Iniciativa Liberal e no Livre. O cenário é um pouco mais apertado quando o que está em causa é uma primeira avaliação ao novo primeiro-ministro. Mesmo que haja mais expectativas positivas (31%) do que negativas (27%), o saldo é de apenas quatro pontos, destacando-se de novo as respostas neutras e as recusas (somam 42%). Mais do que o seu Governo, Luís Montenegro depende sobretudo dos eleitores da AD para se manter acima da linha de água.
Chega fica de fora
Os resultados voltam a ser bastante concludentes quando está em causa a eventual colaboração com o Chega. Uma maioria clara de inquiridos (67%) entende que o “não, é não” a um acordo de Governo com os radicais de Direita deve ser mantido, incluindo os eleitores da AD (68%). A única exceção, sem surpresa, são os eleitores do Chega, que gostariam que Montenegro desse o dito por não dito (69%). Há também uma maioria que avalia negativamente a possibilidade de o Chega participar numa solução de Governo (59%), posição unânime a quase todos os segmentos da amostra (de novo com a exceção dos que votaram em Ventura). Ainda assim, notam-se algumas diferenças, consoante o género (as mulheres rejeitam com mais vigor esse tipo de aliança que os homens) ou a idade (os mais velhos são bastante mais críticos do que os mais jovens).
Montenegro é quem mais perde com novas eleições
Se o novo Governo cair, todos perdem. Mas o preço a pagar pode ser diferente para os três maiores partidos. A julgar por uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, a fatura mais pesada seria apresentada a Luís Montenegro: segundo 44% dos portugueses, o resultado de uma nova eleição seria mais negativo para a AD. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Nesta metáfora, a casa é o Parlamento, e o pão em falta uma maioria. Num cenário instável, especula-se sobre a curta duração que poderá ter esta legislatura. Mas quem for responsabilizado pela instabilidade pode sofrer um castigo eleitoral. O principal alvo na mira dos inquiridos é a AD. Entre o deve e o haver, fica com um saldo negativo de 25 pontos (44% dizem que haverá castigo dos eleitores, 19% que haverá um prémio). O PS é o segundo na lista, com um saldo negativo de 11 pontos (37% apontam para resultado mais negativo, 26% para mais positivo). E finalmente o Chega, com sete pontos de saldo negativo (39% antecipam perda de votos, 32% um crescimento).
Quem castiga quem?
Todos perdem, mas não são exatamente as mesmas pessoas que apontam para um eventual castigo. No que diz respeito às diferentes regiões, a AD é mais penalizada por quem vive no Porto, o PS por quem vive no Norte e Centro, e o Chega pelos lisboetas. Se o ângulo for a idade dos inquiridos, o alerta para Luís Montenegro chega dos que têm 50 a 64 anos, enquanto para o PS e o Chega é dos que têm 65 anos ou mais. As diferenças são mais evidentes quando se destacam as preferências partidárias, ainda que continue a haver alguns pontos de contacto. Os mais convencidos de que será a AD a perder com uma crise que conduza a novas eleições são os que votam na CDU, PS e Chega. Se a pergunta for sobre o PS, os que preveem um resultado mais negativo são os que escolheram a AD, a IL e o Chega nas legislativas. Finalmente, no caso do Chega, quem mais adivinha um castigo são os comunistas, os socialistas e os que votaram na AD.
Santos bate Ventura
Enquanto o cenário não se confirma e a AD governa, quem terá a primazia na liderança da oposição? Tanto André Ventura quanto Pedro Nuno Santos garantem que será o respetivo partido a referência para uma alternativa. Mas os portugueses inclinam-se maioritariamente para o socialista (53%), em particular os que vivem nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, os homens, os mais velhos e os que votaram no PS. André Ventura recolhe o favoritismo de 35% dos inquiridos, destacando-se os que vivem na Região Centro, as mulheres, os que têm entre 50 e 64 anos e, naturalmente, os que votaram no Chega. Os eleitores da Aliança Democrática estão divididos sobre quem será o principal rival de Montenegro, mas dão ligeira vantagem a Santos (46%) sobre Ventura (40%)
FICHA TÉCNICA
Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/J N/TSF. Universo: indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 805 entrevistas efetivas: 707 entrevistas online e 93 entrevistas telefónicas; 372 homens e 428 mulheres; 180 entre os 18 e os 34 anos, 222 entre os 35 e os 49 anos, 202 entre os 50 e os 64 anos e 196 para os 65 e mais anos; Norte 281, Centro 173, Sul e Ilhas 128, A. M. Lisboa 218. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 29 de março e 3 de abril de 2024. Taxa de resposta: 78,15%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)
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