Os “razoavelmente” satisfeitos com a democracia duplicaram numa década, revela a sondagem Expresso/SIC, realizada em parceria com a Comissão de Comemoração dos 50 anos de Abril. 17% sentem que outros na Europa são mais democráticos. Com cinco décadas de vida democrática, o balanço parece ser tendencialmente positivo. A maioria dos interpelados diz-se hoje satisfeita com o funcionamento da democracia em Portugal. Vamos por partes: embora apenas 7% se digam “muito satisfeitos”, este valor aumentou 6 pontos percentuais desde 2014; depois de uma quebra em 2014 face a 2004, também os “razoavelmente satisfeitos” dispararam agora de 24% (em 2014) para 50%. “Trata-se do valor mais elevado obtido nos três estudos aqui analisados”, sublinham os investigadores.
Em consonância, a insatisfação com o regime caiu substancialmente, mostra o estudo realizado pelo ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC. Hoje, os que se dizem “pouco” satisfeitos reduzem-se de 43% para 31%. E a proporção dos que se dizem “nada” satisfeitos com a democracia (10%) representa bastante menos da identificada em 2004 (25%) e 2014 (29%). Mais, atualmente “não há diferenças muito pronunciadas entre grupos sociodemográficos e sociopolíticos no que toca à satisfação com a maneira como a democracia funciona em Portugal”, diz o estudo.
Ainda assim, a insatisfação tende a subir com a idade, ou entre os que vivem com menos rendimento, sendo “tendencialmente menor” entre os inquiridos que se dizem de esquerda (65% destes dizem-se satisfeitos) do que entre os que se posicionam à direita (55%) ou centro (57%). “Os inquiridos que não têm simpatia partidária e (especialmente) os que simpatizam com o Chega, quando comparados com os simpatizantes com o PS ou o PSD, reportam menos estar ‘muito’ ou ‘razoavelmente’ satisfeitos com o funcionamento da democracia em Portugal.” No caso dos simpatizantes do Chega, a diferença ultrapassa os 20 pontos percentuais.
Em contrapartida, quase todos (94%) entendem que Portugal é uma democracia, embora apenas um número reduzido (8%) olhem para o regime como uma democracia “plena”. Entre os restantes, há quem veja na democracia “pequenos defeitos” (42%, um aumento significativo de 9 pontos desde 2014) e “muitos defeitos” (44%, 4 pontos menos do que em 2014). Só 4% dos inquiridos diz que Portugal não é uma democracia, um valor que se manteve estável ao longo dos três estudos.
Comparando Portugal com o resto da Europa, dois em cada três inquiridos acreditam que o país é “tão democrático como os outros”. Este valor, assim como os que acreditam que o país é “mais democrático” (7%), tem vindo a crescer ao longo das duas últimas décadas. A perceção minoritária de que o regime é “menos democrático” é ligeiramente menos frequente entre os maiores de 24 anos e entre quem completou estudos superiores. É mais frequente entre os inquiridos de direita.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 de março e 4 de abril de 2024, resultando de uma parceria entre o Expresso e a SIC e a Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de abril. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte — Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 145 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI (Computer Assisted Personal Interviewing). Foram contactados 4239 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1206 entrevistas válidas (taxa de resposta de 28%, taxa de cooperação de 41%). O trabalho de campo foi realizado por 47 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1206 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. A maior parte das questões deste inquérito reproduz integralmente as de dois estudos anteriores, realizados em 2004 e 2014. O estudo de 2004 (“30 anos depois do 25 de Abril”) foi realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa para a RTP e o jornal “Público” e tinha uma amostra de 1214 inquiridos. O estudo de 2014 foi realizado pela GfK Metris para o ICS/ULisboa, o Expresso e a SIC e tinha uma amostra de 1254 inquiridos. Por sua vez, os questionários destes inquéritos foram parcialmente adaptados de um estudo do Centro de Investigaciones Sociológicas de Espanha (“Estudio 2401, 25 años después”, dezembro de 2000) sobre as atitudes da população espanhola em relação à transição para a democracia. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Cláudia Monarca Almeida e David Dinis e da jornalista infográfica Sofia Miguel Rosa)
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