O consenso é amplo e transversal, mas há algumas diferenças por simpatias partidárias. A direita é menos otimista. Portugal está hoje “tão mal ou pior do que estava antes do 25 de Abril”? A maioria diz que não, mas há variações. E, conclui a sondagem, o posicionamento ideológico pode ser um fator importante para as opiniões sobre o país após a Revolução. A visão mais pessimista a esta questão tende a ser mais predominante à direita (27% dos inquiridos que se posicionam neste quadrante político concordam com a afirmação) do que à esquerda (16%) ou ao centro (22%). Por outro lado, os que se identificam como simpatizantes do Chega destacam-se como os que mais concordam que Portugal está “tão mal ou pior”. São 35% face aos 15% do PS e 18% do PSD.
Sem surpresas, são também os simpatizantes do partido que se começou por afirmar como “de protesto” que estão mais insatisfeitos com a democracia. Apenas 41% dos que dizem ser do Chega estão “muito” ou “razoavelmente” satisfeitos com o regime, comparados com 70% dos do PS, 62% dos do PSD e 52% dos sem partido. Estão assim bem mais descontentes do que a generalidade de quem se posiciona à direita (55%), que é, ainda assim, o quadrante político menos satisfeito.
Os simpatizantes do Chega são ainda quem mais vê o regime português como “menos democrático do que outros” países europeus: um terço dos simpatizantes, destacando-se largamente ao pé dos simpatizantes do PS (13%), PSD (10%) ou mesmo entre os que dizem não ter partido (17%).
Olhando para o que pensam os simpatizantes de cada partido sobre os eventos que marcaram a história do país, a esquerda é, sem surpresas, quem mais escolhe o 25 de Abril como o mais importante (75%). Embora com menor expressividade, a Revolução é igualmente selecionada de forma maioritária tanto pelos inquiridos do centro (65%), como pelos da direita (52%). Quanto aos partidos, os inquiridos do Chega dão menos importância do que os que se dizem do PS ao 25 de Abril (59% vs. 73%), mas estão alinhados com os do PSD (58%).
Os eleitores deste partido tendem também a concordar um pouco menos com a ideia de que o regime político anterior ao 25 de Abril tinha “mais coisas negativas do que positivas” (46%), mas também aqui estão novamente alinhados com a tendência à direita (46%, face a 52% ao centro e 54% na esquerda) e com PSD (44%). Em contrapartida, cerca de metade dos inquiridos que se identificam com o PS ou não têm partido tende a ver com piores olhos o antigo regime.
Mais convergente parece ser a forma como os interpelados olham para a transição para a democracia, com os simpatizantes do PS, PSD e Chega perfeitamente alinhados entre si. Todos apresentam uma proporção de 83% de respostas afirmativas à tese de que este processo deve “constituir um motivo de orgulho para os portugueses”. Menos alinhamento existe nas opiniões sobre o resultado da Revolução. Em termos de simpatia pelo 25 de Abril, o PS destaca-se como o que mais acha que a data trouxe “consequências mais positivas do que negativas” (68%). O Chega surge em segundo (54%), à frente de quem não tem partido (49%) e PSD (47%).
Por outro lado, embora a maioria dos inquiridos (48%) acredite que não há um partido que representa hoje o 25 de Abril mais do que todos os outros, há dois partidos que se destacam nas respostas positivas. PCP e PS (cada um com 14%) são os partidos que mais inquiridos associam à Revolução, seguidos do Chega, que surge em terceiro na lista (3% das respostas afirmativas), à frente do PSD (2%) e do BE (1%). Quanto à controversa data do 25 de Novembro, que a maioria dos inquiridos é favorável a celebrar, os apoiantes do Chega surgem, a par com os do PS (58%), entre os que mais defendem a comemoração das duas datas. Os simpatizantes destes partidos destacam-se assim dos do PSD, onde a proporção de concordância fica pelos 49%.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 de março e 4 de abril de 2024, resultando de uma parceria entre o Expresso e a SIC e a Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de abril. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte — Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 145 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI (Computer Assisted Personal Interviewing). Foram contactados 4239 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1206 entrevistas válidas (taxa de resposta de 28%, taxa de cooperação de 41%). O trabalho de campo foi realizado por 47 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1206 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. A maior parte das questões deste inquérito reproduz integralmente as de dois estudos anteriores, realizados em 2004 e 2014. O estudo de 2004 (“30 anos depois do 25 de Abril”) foi realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa para a RTP e o jornal “Público” e tinha uma amostra de 1214 inquiridos. O estudo de 2014 foi realizado pela GfK Metris para o ICS/ULisboa, o Expresso e a SIC e tinha uma amostra de 1254 inquiridos. Por sua vez, os questionários destes inquéritos foram parcialmente adaptados de um estudo do Centro de Investigaciones Sociológicas de Espanha (“Estudio 2401, 25 años después”, dezembro de 2000) sobre as atitudes da população espanhola em relação à transição para a democracia. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Cláudia Monarca Almeida e David Dinis e da jornalista infográfica Sofia Miguel Rosa)
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