segunda-feira, abril 22, 2024

Sondagem Expresso/SIC: Saúde sim, habitação menos, corrupção nada: o que mudou desde Abril?

Sondagem Expresso/SIC pediu a opinião dos portugueses sobre 16 áreas e revela que os portugueses veem melhorias claras desde o 25 de Abril em oito – tendo opinião negativa em três. A habitação é a que mais caiu na última década. Pergunte-se a si mesmo: “Comparando com o que se passava antes do 25 de Abril, acha que as coisas em Portugal estão melhor, ficaram na mesma ou pioraram?” A sondagem do ICS/ISCTE feita para Expresso e SIC procurou saber a resposta dos portugueses em 16 áreas. Em linhas gerais, a conclusão é esta: em 2024, há uma maioria de inquiridos que considera a situação hoje “melhor” do que a que existia antes do 25 de Abril em metade dos sectores em análise. Noutros cinco, há mais opiniões positivas do que negativas (mas com muitos a dizerem que a situação está “na mesma”). E a opinião só é maioritariamente negativa em três sectores.

Comecemos pelo mais positivo. Apesar das várias sondagens que indicam a situação do SNS, da Educação ou a situação económica como três dos problemas mais graves do país nos dias de hoje, as respostas a este inquérito mostram que a “assistência médica” é o âmbito em que mais inquiridos consideram que as coisas melhoraram desde a Revolução (74%), seguindo-se o nível de vida em geral (71%), a educação (71%) e a segurança social (68%) — ambas com uma subida significativa nesta década — e ainda a situação económica (62%). Em todos estes casos, há pelo menos dois em cada três inquiridos a avaliarem positivamente a evolução em democracia, com as respostas negativas a variarem entre os 13% e os 19%.

Há mais três áreas onde os inquiridos notam um progresso: a proteção do ambiente (60%), a convivência social e civismo (57%) e a independência nacional (51%). Se na questão ambiental a nota é ainda destacadamente positiva, na convivência e civismo as respostas negativas sobem para 24% e atenuam a nota. Na independência nacional aproximam-se mais ainda: há 20% de respostas negativas e 21% de respostas neutras.

Vale a pena sublinhar que, refletindo a evolução das condições sociais e económicas deste estudo face ao realizado em 2014, “a proporção de inquiridos que apontam melhorias aumentou face a 2014 em quase todos os domínios” — em particular o nível de vida, a segurança social (pelo aumento das pensões e apoios) e a situação económica. Mas há uma exceção e é a essa que vamos a seguir.

Na habitação — outra crise frequentemente apontada nos inquéritos de opinião destes últimos anos — temos um empate. Ou seja: 47% veem a evolução desde o 25 de Abril como positiva, mas 47% nem por isso, dividindo-se entre os 34% negativos e os 14% que respondem “na mesma”. Mas aqui, ao contrário de quase todos os indicadores económicos e sociais, verifica-se uma enorme quebra nos últimos 10 anos: enquanto 61% detetavam melhorias em 2004 — valor que aumentou para 74% em 2014 — agora já só 47% consideram que neste âmbito as coisas melhoraram desde a Revolução, explica o relatório da sondagem, feita em parceria com a Comissão de Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril.

Ao contrário, as desigualdades sociais e as desigualdades entre regiões — as duas questões que se seguem no questionário — têm evolução positiva, embora caiam ainda em zona cinzenta: 50% dos inquiridos consideram que a situação está “na mesma” ou “pior”. Mas as respostas positivas ainda superam as totalmente negativas.

Neste campo, há ainda o sector da Justiça: em 2024, 40% veem melhorias face ao antigo regime, quase tantas (36%) concluem que estamos “pior” e 16% respondem “na mesma”. Em qualquer caso, as respostas positivas sobem 12 pontos em 10 anos.

NA ZONA VERMELHA

Por fim, há três aspetos relativamente aos quais os inquiridos acham que estamos pior agora que antes do 25 de Abril: o desemprego, a corrupção e a criminalidade/segurança. Quanto ao desemprego — curiosamente, numa altura em que o país bate recordes históricos de empregabilidade —, a diferença é de oito pontos (34% dizem que “melhor”, 42% que “pior”). Mas relativamente à segurança e corrupção há mesmo dois terços dos inquiridos a considerarem essas áreas piores do que antes.

São dados interessantes, estes últimos. Num regime ditatorial, como o anterior, a ideia de segurança será naturalmente mais forte, mas apenas para os que optam por não contestar o rumo do país; no que respeita à corrupção, ela é muito mais visível em democracia, onde os contrapoderes existem e são independentes. Mas é uma preocupação comum com várias outras sondagens e estudos publicados nos últimos anos.

Em qualquer caso, anota o relatório da sondagem, nota-se alguma “estabilidade” no fundo desta tabela: a justiça, as desigualdades sociais, as desigualdades regionais, o desemprego, a corrupção e a criminalidade/segurança têm sido consistentemente, nos três estudos realizados nas últimas duas décadas, “os aspetos onde menos inquiridos detetaram melhorias em comparação com o que se passava antes do 25 de Abril”. E até melhoraram um pouco nos últimos 10 anos.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 20 de março e 4 de abril de 2024, resultando de uma parceria entre o Expresso e a SIC e a Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de abril. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte — Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 145 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI (Computer Assisted Personal Interviewing). Foram contactados 4239 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1206 entrevistas válidas (taxa de resposta de 28%, taxa de cooperação de 41%). O trabalho de campo foi realizado por 47 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1206 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. A maior parte das questões deste inquérito reproduz integralmente as de dois estudos anteriores, realizados em 2004 e 2014. O estudo de 2004 (“30 anos depois do 25 de Abril”) foi realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa para a RTP e o jornal “Público” e tinha uma amostra de 1214 inquiridos. O estudo de 2014 foi realizado pela GfK Metris para o ICS/ULisboa, o Expresso e a SIC e tinha uma amostra de 1254 inquiridos. Por sua vez, os questionários destes inquéritos foram parcialmente adaptados de um estudo do Centro de Investigaciones Sociológicas de Espanha (“Estudio 2401, 25 años después”, dezembro de 2000) sobre as atitudes da população espanhola em relação à transição para a democracia. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Cláudia Monarca Almeida, David Dinis e da jornalista infográfica Sofia Miguel Rosa)

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