domingo, junho 05, 2022

Portugal ultrapassa Polónia e Hungria. Guerra ajuda a recuperar 19º lugar no PIB per capita

O país arrisca, contudo, a convergir apenas uma décima com a União Europeia em oito anos: 77,6% em 2023, contra 77,5% em 2015. E a ser ultrapassado pela Roménia já em 2025. Portugal deverá recuperar já em 2022 os dois lugares que perdeu em 2021 para a Polónia e para a Hungria no ranking de desenvolvimento dos 27 Estados-membros da União Europeia. O indicador é o PIB per capita em paridades de poder de compra expresso em percentagem da média europeia. Este considera a riqueza gerada pelos 27, mas também os seus diferentes níveis de preços e população.

Segundo as mais recentes previsões da Comissão Europeia para 2022, Portugal pode convergir uns inéditos três pontos percentuais com a média europeia, do mínimo de 74,1% em 2021 para 77,1% em 2022. Será o segundo maior salto em toda a UE — só abaixo da Irlanda —, permitindo a Portugal ascender de 21º a 19º neste ranking. Convém lembrar que Portugal foi dos Estados-membros que mais se afastou da média europeia durante a crise pandémica: divergiu 4,5 pontos, de 78,6% em 2019 para o mínimo de 74,1% em 2021.

Mesmo que estas previsões se concretizem, o primeiro-ministro, António Costa, fechará 2022 mais distante da Europa do que o seu antecessor, Passos Coelho, o deixou. Em 2015, Portugal ocupava a 18ª posição neste ranking, com um PIB per capita de 77,5% da média europeia. Um rácio superior ao projetado para 2022, então com larga vantagem face a húngaros, polacos e romenos, os três rivais de Leste agora no encalço de Portugal.

Mas a tendência divergente vem de trás. Basta lembrar que Portugal entrou neste século como o 15º Estado-membro com maior rendimento por habitante da UE, com um PIB per capita superior a 85% da média europeia.

GUERRA TRAVA RIVAIS DE LESTE

Segundo as previsões da Comissão Europeia para 2022, Portugal deverá acelerar o crescimento do PIB para 5,8%, segurar a inflação nos 4,4% e manter a população. Em sentido inverso, os rivais de Leste verão a população crescer, a inflação duplicar e a economia desacelerar para a casa dos 3%, devido à maior exposição à guerra na Ucrânia.

Só em 2022 a população polaca crescerá mais de 5%, de 38,2 para 40,2 milhões. Na sua recente visita à Polónia, António Costa até prometeu ­apoiar em €50 milhões o esforço desta, que é, desde fevereiro, a principal porta de entrada para quem foge à invasão russa. Só pelo centro de acolhimento de refugiados instalado no estádio nacional de Varsóvia já passaram 3,6 milhões de refugiados ucranianos, contra 36 mil em Portugal.

Este ano, o PIB per capita polaco deverá divergir de 77,4% para 75% e cair de 19º para 21º no ranking de desenvolvimento da UE. A Polónia é a mais vulnerável das grandes economias europeias, também devido à maior relevância das exportações para a Rússia, Ucrânia ou Bielorrússia ou ao peso que a energia assume nos gastos das famílias. A taxa de inflação pode mesmo disparar até 11,6%.

A guerra também travará a convergência da Hungria com a UE: o PIB per capita deverá estagnar nos 75,9%, mas segurar o 20º lugar do ranking europeu em 2022. Nesta economia, onde o gás russo assume a maior relevância, a população deverá crescer quase 2% e a inflação chegar aos 9%.

ATENÇÃO À ROMÉNIA

Para 2023, a Comissão Europeia já prevê que Portugal abrande o ritmo de convergência para 0,5 pontos percentuais, de 77,1% para 77,6%. A economia portuguesa perderá, assim, vantagem face à Hungria (76,2% em 2023), mas sobretudo face à Roménia, que convergirá três vezes mais do que Portugal no próximo ano (para 75,9%) e roubará o 21º lugar à Polónia (75,2%).

No final de 2015 — quando arrancou o primeiro governo de António Costa —, a Roménia ainda era o segundo país menos desenvolvido dos 27 (só acima da Bulgária), com 56,5% de PIB per capita. Mas nestes oito anos, até ao final de 2023, Bruxelas prevê que a Roménia consiga convergir mais de 19 pontos com a UE, três vezes mais do que a Polónia ou a Hungria.

Quanto a Portugal, o saldo da convergência com a UE pode ficar em somente 0,1 pontos percentuais: 77,6% em 2023, contra 77,5% em 2015. Os portugueses arriscam mesmo ser ultrapassados pelos romenos em 2025, a manter-se o ritmo de convergência de 2023 para o futuro (Expresso, texto da jornalista JOANA NUNES MATEUS) 

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