terça-feira, junho 07, 2022

Opinião: Financiamento cortado, despedimento à vista

Metade das receitas obriga a cortes brutais nos custos. É a austeridade ditada pela lógica e pela necessidade: não se pode gastar o que não se tem. E já todos sabemos o que acontece quando se vive acima das possibilidades, sem responsabilidade e acreditando que as dívidas não são para pagar... Se o dinheiro não entra como antes, há que arranjar alternativas de receita ou reduzir os gastos em proporção das perdas. O que passa por cortar nas estruturas físicas e humanas. Leia-se, fechar dependências e despedir pessoas.

Foi o que aconteceu aos partidos à esquerda do PS, traídos pelo voto de quem se fartou da volatilidade e das chantagens a que estava sujeito o governo da geringonça. A hecatombe eleitoral sofrida por Bloco de Esquerda e PCP, mas também pelo CDS e pelo PAN, deu uma machadada no financiamento desses partidos que os impele a reestruturar-se - e talvez, em alguns casos, ajude a entender os problemas das empresas que tão violentamente atacam. Com uma diferença fundamental: se as empresas colhem as receitas da sua atividade produtiva - do que fabricam, do que vendem, da mais-valia que conseguem garantir, do que investem para inovar e fazer mais e melhor -, no caso dos partidos políticos o financiamento é garantido pelo Estado em simples proporção dos votos recebidos.

Quem tem mais votos leva um cheque mais gordo. E se o corte do PCP, apesar de tudo, foi suave - o bolo dos votos recebidos, não tendo chegado para eleger mais de seis deputados, não minguou tanto assim - e o partido tem formas alternativas de se financiar, da Festa do Avante! às contribuições dos militantes, os colegas da bancada ao lado têm muito menos por onde se virar. Com os rendimentos recebidos do Estado cortados a meio e sem grandes alternativas de financiamento além da subvenção pública, o BE será obrigado a despedir dezenas de funcionários e a apostar na boa vontade de voluntários para manter boa parte da sua atividade sem ter custos que não pode suportar.

"Não faremos comentários públicos sobre um assunto que só ao Bloco diz respeito." Foram as palavras que se ouviram sobre o tema à direção de Catarina Martins, já acusada (segundo o Novo) pelos próprios bloquistas de "abuso de poder" e de não praticar "no dia a dia aquilo que defende", a começar pelos "direitos dos trabalhadores e pela revogação da lei laboral da troika". Bem prega Frei Tomás... (DN de Lisboa, opinião de Joana Petiz)

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