quarta-feira, junho 08, 2022

Como um dos conselheiros mais próximos de Putin espalha desinformação e teorias de conspiração bizarras

Nicolai Patrushev é um dos conselheiros mais próximos do presidente russo Vladimir Putin e exerce considerável influência na política do Governo como chefe do poderoso Conselho de Segurança da Rússia, o órgão que formula a política de segurança da Rússia e o centro de recolha das informações de fontes russas e redes do exterior. Patrushev é o responsável por interpretar a Inteligência.

Susanne Sternthal, professora de Governo e Política Pós-Soviética na Texas State University, nos Estados Unidos, num artigo na publicação ‘The Conversation’, abriu um pouco o livro sobre o homem que é considerado o mais provável sucessor de Vladimir Putin no Kremlin. Patrushev costuma dar entrevistas aos media estatais no qual não esconde as suas visões conspiratórias do Ocidente. As semelhanças entre os dois homens são muitas: ambas deploram o fim da União Soviética e compartilham uma profunda desconfiança em relação ao Ocidente, alimentada por teorias da conspiração sem sentido. Patrushev emergiu como uma das principais vozes no círculo íntimo de Putin que quer travar uma guerra impiedosa na Ucrânia, com o objetivo final de capturar Kiev.

São aqueles próximos a Putin, como Patrushev, que continuam a repetir a desinformação de que a Ucrânia está cheia de nazis e que a Rússia precisa de se proteger dos desígnios nefastos do Ocidente.

A 26 de abril de 2022, Patrushev deu uma entrevista ao jornal estatal russo ‘Rossiskaya gazeta’, no qual começou com o seu tema favorito – as más intenções do Ocidente em geral e dos Estados Unidos em particular. O conselheiro defendeu que enquanto outros países são intimidados pelos EUA e “não podem nem levantar a cabeça”, a Rússia “não apenas ousou mas declarou publicamente que não jogaria pelas regras impostas” pelos EUA.

Mais ainda: apontou a mira a uma “comunidade criminosa que fugiu da Ucrânia” e “que agora está envolvida no amplo negócio da venda de órfãos retirados da Ucrânia”. Já o Ocidente, reafirmou, “já reviveu o mercado paralelo para a compra de órgãos humanos dos segmentos socialmente vulneráveis ​​da população ucraniana para operações clandestinas de transplante para pacientes europeus”.

Na visão de mundo de Patrushev, o Ocidente procura reduzir “a população mundial de várias maneiras”. Uma delas é a criação de “um império de mentiras, envolvendo a humilhação e destruição da Rússia e de outros estados censuráveis”.

Putin e Patrushev conhecem-se desde 1970. Ambos são de Leningrado, atualmente São Petersburgo, e trabalharam juntos na KGB de Leningrado em diferentes departamentos. Putin disse que sente uma “camaradagem” com Patrushev. Ambos serviram no Governo de Boris Yeltsin. Em 1998, Yeltsin nomeou Putin para liderar o FSB, o sucessor da KGB, e Patrushev tornou-se o primeiro ‘vice’ de Putin.

Quando Yeltsin nomeou Putin primeiro-ministro interino em 9 de agosto de 1999, Patrushev substituiu Putin como diretor do FSB. Na véspera de Ano Novo de 1999, Yeltsin fez o anúncio surpresa de que Putin o substituiria como presidente interino. Putin venceu a eleição presidencial em 26 de março de 2000.

Durante a segunda guerra chechena que ocorreu entre 1999-2009, a relação de proximidade foi exibida na véspera do Ano Novo de 2000, quando voaram para a Chechénia, com as respetivas mulheres, para reforçar as tropas russas. Apesar de mais uma reviravolta nas hostilidades e ataques sangrentos a civis pelas forças russas em terra, Putin e Patrushev abriram duas garrafas de champanhe e os dois casais beberam direto das garrafas enquanto voavam no helicóptero acima da zona de combate. Uma hora de convívio com uma unidade de soldados e o grupo voou de volta para Moscovo.

Uma semana antes da posse de Putin, em 7 de maio de 2000, o jornal ‘Kommersant’ notou que Putin estava a preencher o seu novo Governo com ex-funcionários do FSB, a principal agência de segurança da Rússia, junto com o SVR, o Serviço de Inteligência Estrangeira, que também fazia parte da KGB durante o período soviético. Contratações que, segundo a publicação, colocavam “a vida política da Rússia sob controlo total do Kremlin” com o uso de “métodos do KGB”.

Nomeado em 2008, Patrushev tornou-se o secretário mais antigo do Conselho de Segurança, que transformou numa instituição dinâmica para todos os assuntos relacionados à segurança da Rússia, tendo posicionado-se como conselheiro-chefe. Uma imagem que é fundamental entender da Rússia de hoje, porque as crenças conspiratórias e a visão de mundo de Patrushev são as lentes pelas quais o seu amigo Putin vê (Multinews, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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