Mais de 75% dos
portugueses afirmam ter “muita” ou “alguma confiança” na resposta que as
instituições estão a dar à crise da Covid-19. Uma sondagem ICS/ISCTE para o
Expresso e a SIC mostra que Marcelo Rebelo de Sousa perdeu para António Costa a
taça da confiança, mas a esmagadora maioria dos inquiridos concorda com o
Presidente na necessidade do estado de emergência. Marta Temido está 11 pontos
abaixo da Direção-Geral da Saúde (os técnicos ganham aos políticos). E num país
monofocado — 80% acompanha as notícias com “muita atenção” — a fonte de
informação em que 91% mais confiam é a televisão. Os portugueses estão
tranquilos com a forma como as instituições estão a gerir a epidemia e o
primeiro-ministro é o político melhor cotado segundo uma sondagem ICS/ISCTE
para o Expresso e a SIC realizada entre os dias 20 e 22, já com o estado de
emergência em vigor.
Marcelo Rebelo de
Sousa perde o seu habitual lugar destacado nos estudos de opinião, surgindo um
ponto abaixo de António Costa (74% contra 75%) na confiança que os inquiridos
mostram ter no papel das diferentes instituições na gestão crise. Esta
diferença acentua-se no universo da esquerda (onde Costa arrecada 92% contra
81% de Marcelo), mas o Presidente da República também não é poupado pelo
eleitorado de direita, onde recolhe a confiança de 79% dos inquiridos contra
81% que mostram confiar no chefe do Governo.
Estes números
confirmam o desgaste que a quarentena a que o Presidente se submeteu ficando
fechado em casa durante quase duas semanas lhe provocou na imagem, bem como a
troca de papéis que essa quarentena acabou por determinar no seu 'ombro a
ombro' com o primeiro-ministro. António Costa, como mostra a sondagem, sai
beneficiado por ter sido 'o' protagonista, diariamente presente no terreno e
nos media enquanto o Chefe de Estado permanecia afastado.
95% acham estado de
emergência “necessário”
Já quanto à decisão
que dividiu Marcelo e Costa na gestão da crise - decretar ou não o estado de
emergência - a sondagem é clara: a esmagadora maioria dos portugueses (95%)
concorda que era necessário dar esse passo. Deste universo, 51% acha que que as
restrições decididas pelo Governo são as adequadas, mas 44% defende que são
necessárias ainda mais restrições. O universo dos que dispensavam o estado de
emergência é residual - apenas 3%, com 1% sem opinião.
A necessidade de
segurança é confirmada na sondagem pela confiança que os inquiridos revelam nas
Forças de Segurança, polícia e GNR, que surgem em primeiro lugar, com 79%.
Seguem-se a Direção-Geral de Saúde (77%), o primeiro-ministro (75%) e do
Presidente da República (74%) e o sinal parece claro - sem deixar de confiar
nos políticos, os portugueses dão prioridade ao respaldo técnico, científico e
securitário. António Costa sabe-o e, nas entrevistas que tem dado nestes dias,
remete sempre para os "especialistas" parte das respostas que é
convocado a dar, apostado em passar a mensagem que a decisão política está
sempre dependente do parecer técnico-científico.
Mas a avaliação das
instituições altera-se consoante os inquiridos se situam à esquerda ou à
direita. A percentagem dos que mostram ter "muita" ou
"alguma" confiança é menor nos que se situam à direita do espetro
político - com duas exceções, as forças de segurança e o poder local - e a forma
como cada um dos universos hierarquiza os polos da sua confiança também muda.
Assim, para os
inquiridos de esquerda, a confiança máxima está no primeiro-ministro (92%),
seguido das forças de segurança (83%), da ministra da Saúde (83%), da DGS (82%)
e só depois do Presidente da República (11 pontos abaixo de António Costa, com
81%).
Para os inquiridos de
direita, o campeão da confiança muda e passa para as mãos das forças de
segurança. E a diferença entre Costa e Marcelo estreita-se para dois pontos,
embora o primeiro-ministro continue à frente do Presidente (81% contra 79%).
Nesta área ideológica, o grande rombo é na confiança depositada na ministra da
Saúde, que surge como última no ranking, com apenas 64%.
Globalmente, a dupla
que o país se habituou a ver diariamente nos balanços televisivos diários -
Graça Freitas, o rosto da Direção-Geral da Saúde e Marta Temido, a ministra -
não resiste intacta à avaliação dos portugueses. A responsável política aparece
11 pontos abaixo da Direção-Geral (77% contra 66%). E autarcas e deputados
também perdem neste cotejo de confiança entre técnicos e políticos na gestão da
crise. A Assembleia da República, que aprovou o decreto do estado de
emergência, surge em último lugar com 62% e o poder local, chamado a gerir no dia
a dia a proximidade com os cidadãos, integra o grupo de instituições pior
cotadas, com 68%.
Um país a ver
televisão
Focados na evolução e
gestão da crise, 80% dos inquiridos mostram estar a acompanhar as notícias
sobre a epidemia "com muita atenção", 16% com "alguma", 2%
com "pouca" e apenas 1% com "nenhuma". E a fonte de
informação em que mais depositam "muita" ou "alguma"
confiança é a televisão (91%). Em segundo lugar surgem os amigos e a família,
com 85%.
Quem sofre um rombo
neste ranking de confiança são as redes sociais, que aparecem em último e atrás
da imprensa escrita, jornais e revistas. A distância é bastante expressiva -
55% dos inquiridos dizem confiar na imprensa escrita e apenas 28% mostram
confiar nas redes para se manterem informados sobre a epidemia.
FICHA TÉCNICA - Este
relatório baseia-se numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias
20 e 22 de março de 2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE - Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado
pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de
ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal
(Continente e Regiões Autónomas) ou em domicílios com telefone fixo ou dispondo
de telemóvel. Os números fixos, cerca de [[% do total, foram extraídos
aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os
números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente,
proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram
selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as
variáveis Sexo, Idade (4grupos) e Região (7 Regiões NUTII). A informação foi recolhida
através de entrevista telefónica, em sistema CATI. Foram tentados contactos com
4092 números de telefone cuja existência foi confirmada. Desses, foi possível
determinar 1343 números correspondentes a indivíduos/lares elegíveis. Desses,
foram obtidas 625 entrevistas válidas. A taxa de resposta foi assim de 13,4% e
a taxa de cooperação de 48,1%. O trabalho de campo foi realizado por 36
entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo.
Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de
acordo com a distribuição da população com 18 ou mais anos residente em
Portugal por três escalões de instrução (3º ciclo ou menos, secundária ou
superior). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de
625 inquiridos é de +/-4%, com um nível de confiança de 95% (Expresso, texto de Ângela Silva Infografia de Sofia Miguel Rosa)
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