A pergunta tem sido
levantada em países como Espanha, Itália, China ou Coreia do Sul. Para já, a
resposta é clara: são sobretudo os anteriores problemas de saúde que os colocam
em maior risco. Cerca de metade dos casos de novo coronavírus confirmados em
Portugal são homens (47%) mas entre os óbitos registados a percentagem é bem
maior. Segundo os dados divulgados esta quarta-feira pela Direção-Geral da
Saúde (DGS), 70% das mortes registadas são de homens, ou seja, contam-se 30
óbitos do sexo masculino num total de 43. Não é só em Portugal que se verifica
essa diferença: em Espanha, Itália, China e Coreia do Sul, a tendência é a
mesma.
“Para já, não se vê nenhuma razão biológica
para que este vírus afete mais os homens do que as mulheres. A explicação
passará pelos comportamentos de risco dos homens e os seus problemas de saúde
anteriores, semelhante ao que leva as mulheres a ter uma maior longevidade”,
aponta o virologista Pedro Simas, investigador do Instituto de Medicina
Molecular (IMM).
Os dados da DGS divulgados esta quarta-feira mostram que só no grupo etário entre os 70 e os 79 anos é que há mais homens do que mulheres infetados. Em todos os restantes grupos o sexo feminino surge em maioria, representando 53% do total. Já entre os óbitos confirmados, das 43 mortes, apenas 13 são do sexo feminino e só nas idades acima dos 80 anos é que há um equilíbrio entre homens e mulheres.
Afastando também a
possibilidade de a diferença se dever às características do vírus, o
epidemiologista Guilherme Duarte aponta algumas explicações possíveis, tendo em
conta que uma grande parte das mortes acontece em pessoas mais idosas com anteriores
problemas de saúde, como problemas respiratórios, hipertensão ou diabetes.
“Pode haver uma relação com o facto de os
homens tenderem a desvalorizar os seus sintomas e reagirem a uma doença numa
fase mais tardia. Além disso, a carga tabágica também tem peso. Durante muito
tempo a percentagem de homens fumadores era maior do que a das mulheres e isso
significa que têm maiores debilidades respiratórias”, acrescenta o
especialista, membro da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública
(ANMSP).
O tabaco tem sido
precisamente apontado como uma das principais explicações para esta diferença
dos números na China, onde não só a percentagem de fumadores é uma das maiores
do mundo, como a diferença entre homens e mulheres é muito grande. Cerca de 54%
dos homens são fumadores, enquanto apenas 3,4% das mulheres dizem ter fumado
alguma vez na vida, segundo um estudo de 2016 citado pelo “Los Angeles Times”.
Em paralelo ao
tabaco, estão os problemas cardiovasculares. “Sabemos que os homens sofrem mais
destes problemas do que as mulheres, por exemplo, com enfartes agudos do
miocárdio”, afirma o epidemiologista. “Diria, portanto, que as explicações
poderão neste momento passar por uma questão de prevenção, ou seja, se se
respeita ou não as regras de distanciamento social, assim como os hábitos
sociais e os problemas anteriores de saúde.”
Lá fora
Também em Espanha,
segundo um artigo publicado esta semana no “El País”, a existência de doenças
anteriores é a principal explicação para que o número de homens a morrer seja o
dobro das mulheres. Em Itália, os homens representam 60% dos infetados e 70%
dos óbitos, segundo os dados oficiais. E a tendência repete-se na China: um
estudo sobre doentes infetados entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020
mostra que 60% dos casos positivos são do sexo masculino. Na Coreia do Sul,
cerca de 54% dos óbitos foram entre os homens.
É de sublinhar ainda,
como salientam os especialistas, que a comunidade científica em todo o mundo
está ainda a investigar e a tentar perceber com maior pormenor as
características deste vírus, pelo que os estudos mais minuciosos só serão
conhecidos daqui a algum tempo (Texto de Raquel Albuquerque e Infografia de
Jaime Figueiredo, Expresso)
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