Um em cada cinco
portugueses diz que a situação financeira do seu agregado familiar já foi
afetada e 39% afirmam que tem sido “relativamente difícil” ou “muito difícil”
lidar com as restrições impostas pela epidemia. Antecipando o que aí vem, 40%
dos inquiridos pela sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC assumem ter de
fazer cortes para pagar as despesas normais se a situação durar mais um mês. E
12% dizem que não vão conseguir cumprir.
Para quarenta e
quatro por cento dos portugueses tem sido "relativamente fácil" lidar
do ponto de vista financeiro com as restrições impostas pela Covid-19, mas o
facto de essas restrições vigorarem há pouco tempo em Portugal torna
particularmente expressivo o negativo deste número. É que para 39% dos
portugueses tem sido "relativamente difícil" (31%) ou "muito
difícil" (8%) aguentar as restrições.
A avaliação do
impacto económico desta crise na vida dos portugueses, feita pela sondagem do
ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC, mostra que para 21% dos inquiridos a
situação do seu agregado familiar já foi afetada. E é tanto mais afetada quanto
pior era o rendimento da família antes da epidemia.
Assim, entre os 26%
que se sentiam confortáveis com o seu rendimento, apenas 17% dizem que a crise
já teve um impacto negativo no seu agregado. Mas a percentagem sobe à medida
que o grau de conforto com o rendimento habitual diminui, passando para 19%
entre os que viviam "razoavelmente", 26% entre os que sentiam algumas
dificuldades e 76% entre aqueles para quem já era "muito difícil"
viver com o que tinham.
Ao perspetivarem o
futuro, os portugueses também não encaram o que aí vem da mesma forma. Se 40%
acreditam que vão continuar a pagar as suas despesas normais se as atuais
restrições se prolongarem por mais um mês, há outros 40% que dizem ter de fazer
cortes nos gastos para conseguirem pagar as despesas a que estão obrigados. E
12% assumem que não vão conseguir cumprir e que terão de deixar de pagar
despesas básicas.
Dos que se sentem
condenados a falhar nos seus compromissos financeiros se a crise durar mais um
mês, também há situações diferentes consoante o ponto de partida. Ou seja, a
percentagem de potenciais incumpridores aumenta consoante o rendimento de que
dispunham antes da epidemia: é de 3% para os que viviam confortavelmente, de 9%
para os que viviam razoavelmente, de 38% para os que já sentiam alguma
dificuldade e 46% dos que deixarão de conseguir pagar as suas despesas básicas
já viviam com "muita dificuldade".
As características
demográficas da população portuguesa também pesam na avaliação do impacto desta
crise. Cerca de 35% dos inquiridos na sondagem têm mais de 70 anos ou dizem
pertencer a grupos de risco.
E entre os que dizem
pertencer a grupos de risco, um em cada cinco respondeu que não tem apoio
suficiente para apenas sair de casa em circunstâncias muito excecionais, como
recomendam as regras da saúde pública.
A instrução de cada
agregado familiar também interfere no impacto financeiro da epidemia. Olhando
para os inquiridos nesta sondagem, é entre os que têm o ensino secundário que
se encontra a maior fatia (29%) dos que dizem já terem sido afetados
financeiramente. Em segundo lugar (20%) estão os que apenas têm escolaridade
até ao 3º ciclo e os que chegaram ao ensino superior representam apenas 16% dos
que dizem já ter sentido o impacto económico da crise. No fundo, a crise - como
o vírus - é transversal. Toca a todos
FICHA TÉCNICA - Este
relatório baseia-se numa sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias
20 e 22 de março de 2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE - Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado
pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de
ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal
(Continente e Regiões Autónomas) ou em domicílios com telefone fixo ou dispondo
de telemóvel. Os números fixos, cerca de [[% do total, foram extraídos
aleatoriamente, proporcionalmente à distribuição por prefixos no território. Os
números móveis, cerca de 66% do total, foram extraídos aleatoriamente,
proporcionalmente à distribuição por operadoras. Os respondentes foram
selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as
variáveis Sexo, Idade (4grupos) e Região (7 Regiões NUTII). A informação foi
recolhida através de entrevista telefónica, em sistema CATI. Foram tentados
contactos com 4092 números de telefone cuja existência foi confirmada. Desses,
foi possível determinar 1343 números correspondentes a indivíduos/lares
elegíveis. Desses, foram obtidas 625 entrevistas válidas. A taxa de resposta
foi assim de 13,4% e a taxa de cooperação de 48,1%. O trabalho de campo foi
realizado por 36 entrevistadores, que receberam formação adequada às
especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por
pós-estratificação, de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais
anos residente em Portugal por três escalões de instrução (3º ciclo ou menos,
secundária ou superior). A margem de erro máxima associada a uma amostra
aleatória simples de 625 inquiridos é de +/-4%, com um nível de confiança de
95% (Texto de Ângela Silva e Infografia de Sofia Miguel Rosa, Expresso)
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