O teletrabalho, o isolamento social e as situações de quarentena, por causa da pandemia de coronavírus, geraram um aumento no “tempo de utilização de ecrãs”. Isto passa por um crescimento do consumo de televisão e OTT (over-the-top ou streaming), bem como de notícias online, conclui uma análise da empresa Group M – que agrega o grupo de agências de meios da WPP – realizada durante duas semanas (entre 9 e 22 de março), com base nas informações de países que têm passado por esta crise de forma antecipada em relação a Portugal, como China e Itália.
Concretamente, estes novos hábitos estão a dar à televisão portuguesa audiências recorde. E isto mesmo num contexto em que, por precaução, as estações televisivas foram obrigadas a condicionar a programação dos canais, suspendendo os programas com público, alguns programas em direto ou atrasando a estreia de outros. Em média, os portugueses estão ligados à televisão 6h50, mais 1h40 do que na semana anterior. “Estamos a assistir um foco na informação que se reflete nas audiências dos canais informativos, que registam um aumento considerável no consumo”, lê-se no relatório, que mostra um crescimento generalizado das audiências em todas as faixas etárias.
Desde 9 de março – altura em que apareceram os primeiros casos de coronavírus em Portugal – que a audiência média diária tem vindo a aumentar, com um pico no fim de semana de 14 e 15 de março, logo após o anúncio das medidas preventivas decretadas pelo Governo para combater o surto de Covid-19.
Nesse fim de semana, a audiência média televisiva disparou 22%, com os canais pagos a registarem um crescimento de 27% de audiência média. A 15 de março a audiência média atinge o seu ponto máximo, com quase três milhões de pessoas e 7h34 de visionamento diário. Durante todo o fim de semana, as pessoas viram por dia 7h07 de televisão.
O top 10 de canais vê o seu consumo aumentar, principalmente no caso de canais de informação e infantis. A SIC mantém-se na liderança em termos de audiência média, seguida da RTP1, que desde 16 de março ultrapassou a TVI. Ao nível dos canais pagos, a CMTV continua a liderar, seguida da SIC Notícias – o canal que mais cresceu em audiência média face ao mesmo período de 2018.
O consumo de informação cresceu 57%, os programas de juventude 46% e os de ficção 23%. O crescimento do consumo de informação é significativo tanto em free-to-air (canal aberto) como nos canais pagos. Já o consumo de informação desportiva caiu 51%, principalmente por causa da falta de eventos desportivos.
Títulos online com aumento de visitas entre 50% e 100%
Em sentido contrário, e com as deslocações diárias de automóvel para o trabalho e escola a serem canceladas, o consumo de rádio “tenderá a reduzir-se” e, consequentemente, o seu valor para as marcas. O mesmo se verificou ao nível do consumo de outdoors, com o cancelamento ou adiamento de campanhas de exterior.
No caso da imprensa as previsões são mistas. Se, por um lado, a redução da mobilidade da população tem impacto no consumo, por outro – e mesmo com o estado de emergência – muitos pontos de venda mantêm-se abertos.
“Os órgãos de comunicação noticiosos têm uma oportunidade de alavancar a sua relevância num momento em que os consumidores procuram notícias ‘curadas’ e de fontes fidedignas”, conclui a Group M. “Esta relevância pode e deve ser também capitalizada para as plataformas online dos principais títulos.”
Isto porque a procura de informação credível, o maior tempo passado em casa e a necessidade de procurar outras formas de entretenimento em casa estão a levar a um aumento considerável do consumo de meios digitais.
Os publishers nacionais têm registado aumentos no número de visitas entre 50% a 100% em todos os seus títulos, com destaque para a informação geral, mas também economia e lazer.
Os conteúdos relacionados com o coronavírus invadem os sites de notícias, mas surgem também novos conteúdos que ajudam a lidar de forma positiva com a situação, o que a Group M considera que podem ser “um território de apropriação de marca”.
Até porque os comportamentos online, medidos através de cookies, têm-se organizado em torno de três áreas principais: preocupações (seguros de vida, vacinas, saúde médica, desastres, entre outros), gestão da vida em casa (segurança, divórcio, educação, cuidados diários e pré-escolar, entre outros) e entretenimento em casa (artes digitais, póquer, realidade aumentada, filmes de terror, entre outros) (Maria João Bourbon, Expresso)
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