O PS de Carlos Pereira também tem um enorme
desafio nas eleições legislativas de 4 de Outubro, provavelmente mais complexo
que os desafios que se colocam ao PSD e CDS regionais devido ao facto de serem
estes os dois partidos que corporizaram a governação nacional marcada por uma
violenta austeridade e por uma carga fiscal que na realidade é um roubo
constante aos cidadãos e empresas, tudo isto ao longo dos últimos quatro anos.
Aliás, penso que o impacto dessa realidade já se fez sentir nas regionais, quer
no recorde da abstenção, quer nos resultados (quedas) do PSD e do CDS que
apesar de tudo não beneficiaram em nada os socialistas.
O desafio deste PS pós.regionais de 2015,
agora liderado por Carlos Pereira, tem duas vertentes distintas, a regional e a
nacional.
Em termos nacionais parece-me óbvio que as
pessoas já perceberam que António Costa está longe de corresponder à ideia de
que constitui uma alternativa imediata e válida à dupla Passos-Portas. E esse é
o drama destas eleições legislativas. Não há uma alternativa credível, consistente,
mobilizadora, passível sequer de ganhar o benefício da dúvida dos eleitores.
Quando isso acontece, quem está no poder acaba por sair beneficiado. Um cenário
impensável mas que estranhamente começa a colocar-se em cima da mesa. E que, a
acontecer, significará o fim imediato da liderança de Costa e provavelmente o
mais do que provável regresso de Seguro. O que é caricato é que num cenário
político desses, os deputados socialistas na Assembleia da República foram
todos escolhidos por Costa que, como é sabido, resolveu não dar grande espaço
aos apoiantes de Seguro nas listas de candidatos a deputados.
Carlos Pereira foi empurrado para a
liderança do PS regional depois da hecatombe eleitoral das regionais deste ano.
Mais cedo do que eventualmente previa ou tinha planeado. Escrevi há semanas que
com ele o PS regional será diferente, mais agressivo e contundente, sobretudo na
forma como vai fazer oposição e na tentativa que começa a ser óbvia que
pretender recuperar aos demais partidos da esquerda e à JPP – o grande carrasco
da queda eleitoral do PS – os eleitores perdidos desde 2007, o ano polémico da
lei de finanças regionais e que não só deixou marcas nos socialistas como
provavelmente terá atirado o PS para uma demorada travessia do deserto que o 4
de Outubro nos dirá se será ou não prolongada e da qual os socialistas podem
tardar a sair. Nem o que se passou nas autárquicas de 2013 – em grande medida
alicerçado na conjuntura e numa sucessão de acordos multipartidários – atenua a
ideia de que o PS, depois da derrota de 2015, precisa de recuperar rapidamente
para que não seja o próprio Pereira a ser derrotado e posto em causa.
Ao admitir que o PS corre para a eleição de
3 deputados, Carlos Pereira não disse como vai conseguir tal desiderato. Não
precisa de ganhar as eleições para eleger 3 deputados, mas precisa obviamente de
neutralizar a JPP, de desacreditar este partido, que insistir na ideia da
desnecessidade do voto isolado. Além disso Pereira pretende que o PSD regional
seja cada vez mais colado à governação nacional na óptica de que mesmo que os
socialistas não beneficiem eleitoralmente com isso – já escrevi que os
eleitores flutuantes, descomprometidos, que tradicionalmente se movem na área
do centro-direita dificilmente oscilarão mais para a esquerda, concretamente
para o PS – podem fazer aumentar a abstenção e com isso facilitar as operações
de apuramento dos mandatos pelo método de Hondt. Estamos a falar, bem vistas as
coisas, de cenários opostos ao que aconteceu nas regionais, pois apesar do PSD
e do PS (mesmo coligado) terem obtido este ano os piores resultados de sempre
em regionais, as perspectivas de alguma recuperação parecem estar mais
facilmente do lado dos social-democratas do que dos socialistas.
Há, e Pereira sabe disso, muito trabalho a
realizar no terreno. O PS está ainda sob o efeito inesperado de uma derrota com
a dimensão da que sofreu em Março passado, e que o relegou para a 4ª posição no
puzzle partidário regional – depois do PSD,
CDS e JPP – e isso não é nem animador nem sequer mobilizador.
Ressalvando um dos nomes (arquitecto
Vilhena), que acompanha Pereira desde a sua derrotada candidatura à Câmara do
Funchal, contra Miguel Albuquerque, o líder socialista optou pela renovação da
lista. Opção que pode ter o verso e o reverso da medalha – exactamente o mesmo
que se coloca ao PSD – já que tudo depende da fidelidade dos eleitores aos
partidos da sua preferência e da sua mobilização a 4 de Outubro – mas isso pode
não chegar para os objectivos pretendidos – e não propriamente dos nomes dos candidatos
a deputados ou de manifestos eleitorais ou discursos mais ou menos redondos,
repetitivos no seu conteúdo, por vezes confusos – dada a natureza das eleições.
A parte mais difícil será sem dúvida
remobilizar antigos eleitores do PS regional e neutralizar a JPP que mesmo não
elegendo um deputado – caso se mantivessem os resultados das regionais –
apresenta-se com cerca de 13 mil votos que darão sempre um tremendo empurrão ao
PS e aos propósitos de Pereira. JPP que dá sinais de ter começado a perceber por
onde quer ir o PS, a que se junta o facto de que, ao contrário do PS, a JPP desfrutar
de tempos de antena próprios que podem permitir a centralização dos mesmos na
RAM, único círculo eleitoral onde à priori os “Juntos” podem eleger um
deputado, segundo as minhas contas. Que obviamente não são infalíveis, mas
assentam nalguma lógica.
Finalmente não sei como se encontra o PS
regional internamente, se existem ou não facções, de o grupo afecto a Vítor Freitas se dividiu e desapareceu ou se existe uma oposição a Pereira adormecida
de à espera dos resultados de 4 de Outubro para agir. O que se passou com
Bernardo Trindade – afastado da lista
depois de ter sido negociado entre Vítor Freitas e Costa que seria o
cabeça-de-lista no Funchal, cenário que Carlos Pereira recusou - pode
eventualmente ter deixado marcas na ala mais elitista e urbana do PS pelo que,
caso o resultado não corresponda ao pretendido, o ex-Secretário de Estado do
Turismo não deverá hesitar, apesar do seu ‘perfil muito calmo, em exigir
explicações e reclamar que sejam retiradas consequências políticas desse
eventual desaire eleitoral. Sem dúvida que a vida não está facilitada para Pereira.
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