sábado, setembro 12, 2015

Mania de escrever: os espinhos do PS-Madeira e o 4 de Outubro

O PS de Carlos Pereira também tem um enorme desafio nas eleições legislativas de 4 de Outubro, provavelmente mais complexo que os desafios que se colocam ao PSD e CDS regionais devido ao facto de serem estes os dois partidos que corporizaram a governação nacional marcada por uma violenta austeridade e por uma carga fiscal que na realidade é um roubo constante aos cidadãos e empresas, tudo isto ao longo dos últimos quatro anos. Aliás, penso que o impacto dessa realidade já se fez sentir nas regionais, quer no recorde da abstenção, quer nos resultados (quedas) do PSD e do CDS que apesar de tudo não beneficiaram em nada os socialistas.
O desafio deste PS pós.regionais de 2015, agora liderado por Carlos Pereira, tem duas vertentes distintas, a regional e a nacional.
Em termos nacionais parece-me óbvio que as pessoas já perceberam que António Costa está longe de corresponder à ideia de que constitui uma alternativa imediata e válida à dupla Passos-Portas. E esse é o drama destas eleições legislativas. Não há uma alternativa credível, consistente, mobilizadora, passível sequer de ganhar o benefício da dúvida dos eleitores. Quando isso acontece, quem está no poder acaba por sair beneficiado. Um cenário impensável mas que estranhamente começa a colocar-se em cima da mesa. E que, a acontecer, significará o fim imediato da liderança de Costa e provavelmente o mais do que provável regresso de Seguro. O que é caricato é que num cenário político desses, os deputados socialistas na Assembleia da República foram todos escolhidos por Costa que, como é sabido, resolveu não dar grande espaço aos apoiantes de Seguro nas listas de candidatos a deputados.
Carlos Pereira foi empurrado para a liderança do PS regional depois da hecatombe eleitoral das regionais deste ano. Mais cedo do que eventualmente previa ou tinha planeado. Escrevi há semanas que com ele o PS regional será diferente, mais agressivo e contundente, sobretudo na forma como vai fazer oposição e na tentativa que começa a ser óbvia que pretender recuperar aos demais partidos da esquerda e à JPP – o grande carrasco da queda eleitoral do PS – os eleitores perdidos desde 2007, o ano polémico da lei de finanças regionais e que não só deixou marcas nos socialistas como provavelmente terá atirado o PS para uma demorada travessia do deserto que o 4 de Outubro nos dirá se será ou não prolongada e da qual os socialistas podem tardar a sair. Nem o que se passou nas autárquicas de 2013 – em grande medida alicerçado na conjuntura e numa sucessão de acordos multipartidários – atenua a ideia de que o PS, depois da derrota de 2015, precisa de recuperar rapidamente para que não seja o próprio Pereira a ser derrotado e posto em causa.
Ao admitir que o PS corre para a eleição de 3 deputados, Carlos Pereira não disse como vai conseguir tal desiderato. Não precisa de ganhar as eleições para eleger 3 deputados, mas precisa obviamente de neutralizar a JPP, de desacreditar este partido, que insistir na ideia da desnecessidade do voto isolado. Além disso Pereira pretende que o PSD regional seja cada vez mais colado à governação nacional na óptica de que mesmo que os socialistas não beneficiem eleitoralmente com isso – já escrevi que os eleitores flutuantes, descomprometidos, que tradicionalmente se movem na área do centro-direita dificilmente oscilarão mais para a esquerda, concretamente para o PS – podem fazer aumentar a abstenção e com isso facilitar as operações de apuramento dos mandatos pelo método de Hondt. Estamos a falar, bem vistas as coisas, de cenários opostos ao que aconteceu nas regionais, pois apesar do PSD e do PS (mesmo coligado) terem obtido este ano os piores resultados de sempre em regionais, as perspectivas de alguma recuperação parecem estar mais facilmente do lado dos social-democratas do que dos socialistas.
Há, e Pereira sabe disso, muito trabalho a realizar no terreno. O PS está ainda sob o efeito inesperado de uma derrota com a dimensão da que sofreu em Março passado, e que o relegou para a 4ª posição no puzzle partidário regional – depois do PSD,  CDS e JPP – e isso não é nem animador nem sequer mobilizador.
Ressalvando um dos nomes (arquitecto Vilhena), que acompanha Pereira desde a sua derrotada candidatura à Câmara do Funchal, contra Miguel Albuquerque, o líder socialista optou pela renovação da lista. Opção que pode ter o verso e o reverso da medalha – exactamente o mesmo que se coloca ao PSD – já que tudo depende da fidelidade dos eleitores aos partidos da sua preferência e da sua mobilização a 4 de Outubro – mas isso pode não chegar para os objectivos pretendidos – e não propriamente dos nomes dos candidatos a deputados ou de manifestos eleitorais ou discursos mais ou menos redondos, repetitivos no seu conteúdo, por vezes confusos – dada a natureza das eleições.
A parte mais difícil será sem dúvida remobilizar antigos eleitores do PS regional e neutralizar a JPP que mesmo não elegendo um deputado – caso se mantivessem os resultados das regionais – apresenta-se com cerca de 13 mil votos que darão sempre um tremendo empurrão ao PS e aos propósitos de Pereira. JPP que dá sinais de ter começado a perceber por onde quer ir o PS, a que se junta o facto de que, ao contrário do PS, a JPP desfrutar de tempos de antena próprios que podem permitir a centralização dos mesmos na RAM, único círculo eleitoral onde à priori os “Juntos” podem eleger um deputado, segundo as minhas contas. Que obviamente não são infalíveis, mas assentam nalguma lógica.
Finalmente não sei como se encontra o PS regional internamente, se existem ou não facções, de o grupo afecto a Vítor Freitas se dividiu e desapareceu ou se existe uma oposição a Pereira adormecida de à espera dos resultados de 4 de Outubro para agir. O que se passou com Bernardo  Trindade – afastado da lista depois de ter sido negociado entre Vítor Freitas e Costa que seria o cabeça-de-lista no Funchal, cenário que Carlos Pereira recusou - pode eventualmente ter deixado marcas na ala mais elitista e urbana do PS pelo que, caso o resultado não corresponda ao pretendido, o ex-Secretário de Estado do Turismo não deverá hesitar, apesar do seu ‘perfil muito calmo, em exigir explicações e reclamar que sejam retiradas consequências políticas desse eventual desaire eleitoral. Sem dúvida que a vida não está facilitada para Pereira.

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