Escrevem
os jornalistas do Público, Sérgio Aníbal e Pedro Crisóstomo que o "PIB recuou 3,9%
no primeiro trimestre, a queda mais forte em dois anos. Recessão na zona euro
condiciona exportações. O investimento tarda em recuperar, a procura
interna continua em terreno negativo e, no meio de uma recessão na zona euro
que já dura há um ano e meio, a economia portuguesa registou uma contracção
mais forte no primeiro trimestre do que previam o Governo e a troika. Os
dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo
Eurostat mostram que o produto interno bruto (PIB) teve uma queda de 0,3% face
aos últimos três meses do ano passado. Em comparação com o mesmo período do ano
anterior, a descida foi de 3,9%, a mais forte em desde o início de 2011. As
estatísticas são piores do que as projecções traçadas no final da primeira
missão para a sétima avaliação do programa de ajustamento. Segundo as previsões
mais recentes da Comissão Europeia para as variações trimestrais do PIB,
Portugal teria, durante o primeiro trimestre, uma contracção em cadeia de 0,1%.
Em relação ao período homólogo, a queda esperada era de 3,7%.
A
diferença entre previsões da troika e resultados efectivamente obtidos
prolonga uma tendência de falhanços nas projecções em relação aos países
periféricos e, em concreto, em Portugal, desde o início da crise da dívida
soberana. Para 2013, os credores internacionais apontam para uma recessão de 2,3%,
mas contam já com uma retoma no final do ano. Este parece, no entanto, um
cenário distante. A economia portuguesa está em contracção desde o quarto
trimestre de 2010. E, até agora, o PIB já caiu 7,3%, como lembrou ontem o
Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da
Universidade Católica. As primeiras estimativas do INE indiciam uma queda
acentuada da procura interna e do investimento. A contracção traduz, em parte,
o mau desempenho de um sector-chave como o da construção. Mas também que ainda
"não existe reanimação noutras componentes", enquadra a economista
Paula Carvalho, do gabinete de Estudos Económicos e Financeiros do BPI. O facto
de o aumento da procura externa reflectir sobretudo uma descida das importações
indicia que as exportações - o actual único motor da actividade económica -
"não se terão comportado tão bem [como o esperado]", frisa. E é isso
que indicam os dados mais recentes do INE, apontando para uma queda das vendas
ao exterior em Fevereiro e Março. O desempenho da economia foi também pior ao
previsto pela Católica. No caso do BPI, os dados do INE estão dentro do
projectado. Mas há riscos negativos que podem comprometer a recuperação na
segunda parte de 2013, admite Paula Carvalho. "Estão reunidos os ingredientes
para que o cenário de contracção da economia seja superior" ao projectado
para este ano. Neste quadro, é preciso olhar para a recessão no espaço da moeda
única e, sobretudo, para os países europeus dos quais Portugal está mais
dependente para iniciar uma recuperação: Espanha, Alemanha e França, os
principais destinos das exportações nacionais.
Longa
recessão na zona euro
Os
indicadores não são animadores. O PIB de Espanha caiu 2% (em relação ao
primeiro trimestre de 2012), a Alemanha recuou 0,3% e a França entrou
oficialmente em recessão, com uma nova descida do PIB, agora de 0,4%. São dados
que vêm confirmar um cenário para o qual economistas e agentes económicos já
alertavam: o facto de os problemas na zona euro começarem a afectar países de
maior dimensão, com consequências para as pequenas economias que deles estão
muito dependentes. Ao contrário dos EUA, em lenta recuperação, a economia da
zona euro está há 18 meses em queda. Vive o seu maior período de recessão,
superior ao da crise financeira em 2008 e 2009. Os desequilíbrios orçamentais
permanecem, os níveis de endividamento continuam elevados, o desemprego
agrava-se e as dívidas públicas mantêm a trajectória ascendente. E é neste
contexto de fragilidade que o BCE pode de novo ser chamado a intervir para
suportar o crescimento do espaço da moeda única. No primeiro trimestre, o PIB
da zona euro caiu 0,1% em relação ao trimestre anterior e 0,7% face ao mesmo
período de 2012. Os resultados ficam dentro das expectativas da Comissão
Europeia, mas, para alguns países, como Itália e França, estão abaixo das
expectativas. Ontem, a seguir a uma visita do Presidente francês à CE, em
Bruxelas, Durão Barroso insistiu que "o crescimento é a maior
prioridade". François Hollande defendeu: "Se os líderes europeus foram
capazes de fazer tanto para sair da crise financeira, têm de ser agora capazes
de fazer tudo para fazer sair a zona euro da recessão".