quinta-feira, maio 16, 2013

Previsões económicas da troika e do Governo para Portugal já derraparam no início do ano



Escrevem os jornalistas do Público, Sérgio Aníbal e Pedro Crisóstomo que o "PIB recuou 3,9% no primeiro trimestre, a queda mais forte em dois anos. Recessão na zona euro condiciona exportações. O investimento tarda em recuperar, a procura interna continua em terreno negativo e, no meio de uma recessão na zona euro que já dura há um ano e meio, a economia portuguesa registou uma contracção mais forte no primeiro trimestre do que previam o Governo e a troika. Os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo Eurostat mostram que o produto interno bruto (PIB) teve uma queda de 0,3% face aos últimos três meses do ano passado. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, a descida foi de 3,9%, a mais forte em desde o início de 2011. As estatísticas são piores do que as projecções traçadas no final da primeira missão para a sétima avaliação do programa de ajustamento. Segundo as previsões mais recentes da Comissão Europeia para as variações trimestrais do PIB, Portugal teria, durante o primeiro trimestre, uma contracção em cadeia de 0,1%. Em relação ao período homólogo, a queda esperada era de 3,7%.
A diferença entre previsões da troika e resultados efectivamente obtidos prolonga uma tendência de falhanços nas projecções em relação aos países periféricos e, em concreto, em Portugal, desde o início da crise da dívida soberana. Para 2013, os credores internacionais apontam para uma recessão de 2,3%, mas contam já com uma retoma no final do ano. Este parece, no entanto, um cenário distante. A economia portuguesa está em contracção desde o quarto trimestre de 2010. E, até agora, o PIB já caiu 7,3%, como lembrou ontem o Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica. As primeiras estimativas do INE indiciam uma queda acentuada da procura interna e do investimento. A contracção traduz, em parte, o mau desempenho de um sector-chave como o da construção. Mas também que ainda "não existe reanimação noutras componentes", enquadra a economista Paula Carvalho, do gabinete de Estudos Económicos e Financeiros do BPI. O facto de o aumento da procura externa reflectir sobretudo uma descida das importações indicia que as exportações - o actual único motor da actividade económica - "não se terão comportado tão bem [como o esperado]", frisa. E é isso que indicam os dados mais recentes do INE, apontando para uma queda das vendas ao exterior em Fevereiro e Março. O desempenho da economia foi também pior ao previsto pela Católica. No caso do BPI, os dados do INE estão dentro do projectado. Mas há riscos negativos que podem comprometer a recuperação na segunda parte de 2013, admite Paula Carvalho. "Estão reunidos os ingredientes para que o cenário de contracção da economia seja superior" ao projectado para este ano. Neste quadro, é preciso olhar para a recessão no espaço da moeda única e, sobretudo, para os países europeus dos quais Portugal está mais dependente para iniciar uma recuperação: Espanha, Alemanha e França, os principais destinos das exportações nacionais.
Longa recessão na zona euro
Os indicadores não são animadores. O PIB de Espanha caiu 2% (em relação ao primeiro trimestre de 2012), a Alemanha recuou 0,3% e a França entrou oficialmente em recessão, com uma nova descida do PIB, agora de 0,4%. São dados que vêm confirmar um cenário para o qual economistas e agentes económicos já alertavam: o facto de os problemas na zona euro começarem a afectar países de maior dimensão, com consequências para as pequenas economias que deles estão muito dependentes. Ao contrário dos EUA, em lenta recuperação, a economia da zona euro está há 18 meses em queda. Vive o seu maior período de recessão, superior ao da crise financeira em 2008 e 2009. Os desequilíbrios orçamentais permanecem, os níveis de endividamento continuam elevados, o desemprego agrava-se e as dívidas públicas mantêm a trajectória ascendente. E é neste contexto de fragilidade que o BCE pode de novo ser chamado a intervir para suportar o crescimento do espaço da moeda única. No primeiro trimestre, o PIB da zona euro caiu 0,1% em relação ao trimestre anterior e 0,7% face ao mesmo período de 2012. Os resultados ficam dentro das expectativas da Comissão Europeia, mas, para alguns países, como Itália e França, estão abaixo das expectativas. Ontem, a seguir a uma visita do Presidente francês à CE, em Bruxelas, Durão Barroso insistiu que "o crescimento é a maior prioridade". François Hollande defendeu: "Se os líderes europeus foram capazes de fazer tanto para sair da crise financeira, têm de ser agora capazes de fazer tudo para fazer sair a zona euro da recessão".