Segundo o Jornal I, "não me digam que Portugal
tem tido más políticas no passado e que tem profundos problemas estruturais.
Claro que tem, e todos têm", diz. O antigo prémio Nobel da economia,
Paul Krugman, sublinhou hoje que Portugal vive um "pesadelo"
económico-financeiro e questionou como é suposto ultrapassar problemas
estruturais, igualmente existentes em outros países, "condenando ao
desemprego" milhares de trabalhadores. "Não me digam que Portugal tem
tido más políticas no passado e que tem profundos problemas estruturais. Claro
que tem, e todos têm, mas sendo que em Portugal a situação é mais grave que em
outros países, como é que faz sentido que se consiga lidar com estes problemas
condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores disponíveis?",
frisa Paul Krugman em artigo hoje publicado no seu blogue, "Consciência de
Um Liberal". O antigo prémio Nobel da economia comentava no seu blogue um
artigo hoje publicado no jornal Financial Times sobre as condições
"profundamente deprimentes" em Portugal, centrando-se na situação de
empresas familiares, que foram até agora o núcleo da economia e da sociedade do
país. Para Paul Krugman, a resposta a estes problemas "conhecidos há
muitas décadas", reside numa política monetária e orçamental
expansionista. "Mas Portugal não pode fazer as coisas por conta própria,
porque já não tem moeda própria. 'OK' então: ou o euro deve acabar ou algo deve
ser feito para fazê-lo funcionar, porque aquilo a que estamos a assistir (e os
portugueses a experimentar) é inaceitável", sublinhou. O economista
defende uma expansão "mais forte na zona do euro como um todo",
"uma inflação mais elevada no núcleo europeu", tendo em mente que o
Banco Central Europeu (BCE), assim como a Reserva Federal Americana, são contra
taxas de juro próximas de zero. "Pode e deve tentar-se aplicar políticas
não convencionais, mas é preciso tanta ajuda quanto possível ao nível da
política orçamental e não uma situação em que a austeridade na periferia é
reforçada pela austeridade no núcleo", frisou. Mas pelo contrário,
reforçou, aquilo a que se tem assistido nos últimos três anos é a uma política
europeia "focada quase que inteiramente nos supostos perigos da dívida
pública"."O importante agora é mudar as políticas que estão a criar
esse pesadelo", concluiu. Num outro ‘post’ no seu blogue, Paul Krugman
lembra como em 1975, logo após a queda da ditadura em Portugal, o então
governador do Banco de Portugal, José da Silva Lopes, que veio a ser ministro
das Finanças, pediu aconselhamento especializado ao Massachusetts Institute of
Technology (MIT). Depois de uma primeira visita de professores senior, da
conhecida faculdade norte-americana, conta o antigo prémio Nobel, no verão de
1976 Portugal contou com a ajuda de cinco estudantes do MIT, entre eles Miguel
Beleza, mais tarde Governador do Banco de Portugal e ministro das Finanças,
assim como o próprio Krugman. “A julgar pela reputação académica de que [estes
responsáveis] viriam a gozar mais tarde, eles [portugueses] tiveram um grande
grupo. Um ano depois chegariam David Germany, Jeremy Bulow, e, imaginem quem,
Ken Rogoff”, (conhecido defensor da austeridade), refere o economista com humor".