sábado, maio 04, 2013

Países periféricos pesam 44% no desemprego da Europa



Segundo o Publico, num texto da jornalista Raquele Martins, "em Março, quase metade dos 26,5 milhões de desempregados da União Europeia viviam na Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal e Itália. Areceita aplicada pela troika em Portugal, Grécia e Irlanda e as políticas de austeridade que também atingem as economias espanhola e italiana continuam a ter reflexos preocupantes no mercado de trabalho. Estes Estados-membros, que albergam 26,4% da população da União Europeia (UE), são também a pátria de 44% dos desempregados do espaço europeu.  No final de Março, estes países da periferia tinham 11,6 milhões de desempregados (embora os dados para a Grécia digam respeito ao mês de Janeiro), uma fatia muito significativa dos 26,5 milhões de desempregados em toda a UE e mais de metade dos 19,2 milhões registados nos países do euro.  Os números foram ontem divulgados pelo Eurostat e mostram que o Dia do Trabalhador, que hoje se assinala, terá como pano de fundo um desemprego que teima em permanecer em níveis elevados, apesar de em alguns países se ter registado um recuo face ao ano passado e uma estabilização em relação a Fevereiro. Em Portugal houve um agravamento entre Março de 2012 e Março de 2013, mas a taxa estabilizou nos 17,5% nos três primeiros meses do ano. Já a evolução face a Março de 2008 não deixa margem para dúvidas: o mercado de trabalho na generalidade dos países degradou-se para níveis nunca antes registados. A excepção é a Alemanha, que passou de uma taxa de desemprego de 7,9% para 5,4%. As consequências de cinco anos de crise económica e financeira foram particularmente visíveis nos principais países da periferia. Todos os países que estão debaixo de um programa de resgate financeiro - Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre - estão entre os que registaram aumentos mais significativos nas suas taxas de desemprego desde 2008.
Grécia e Espanha protagonizaram os agravamentos mais pronunciados (19,2 e 17,4 pontos percentuais, respectivamente), seguindo-se Chipre (10,3 pontos percentuais) e a Lituânia (9,5 pontos). Em quinto lugar surge Portugal, que registou um agravamento de 9,3 pontos percentuais, passando de uma taxa de desemprego de 8,2% em Março de 2008 para os 17,5% em 2013. Mas a Irlanda e os países do Leste europeu também figuram nos lugares cimeiros. No caso de Portugal, as previsões mais recentes revelam que o emprego continuará a recuar e o desemprego permanecerá elevado nos próximos quatro anos. No Documento de Estratégia Orçamental ontem divulgado, o Governo prevê que as empresas continuarão a ter dificuldade em criar emprego e a recuperação do mercado de trabalho só começará a sentir-se - embora de forma ténue - em 2015. A taxa de desemprego vai continuar acima dos 18% e em 2017 ainda estará nos 16,7%. Portugal é, de resto, um dos exemplos do que têm sido os efeitos das políticas de austeridade defendidas por Bruxelas. E nem mesmo a aposta em generosas políticas de apoio ao emprego (que em alguns casos garantem mais de metade do salário do desempregado contratado) tem produzido efeitos.  A redução da procura interna e a dificuldade em aceder a financiamento deixam as empresas sem capacidade para contratar novos trabalhadores. Ontem, o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, dava conta de 12 mil desempregados contratados ao abrigo do programa Estímulo 2012, uma gota de água num universo de mais de 900 mil desempregados.
Jovens na linha da frente
Também o Impulso Jovem, programa que arrancou sob a alçada do ex-ministro Miguel Relvas, teve fracos resultados. A meta era de 90 mil, mas os últimos dados dão conta de 7500 candidaturas, sem que o Governo divulgue quantos jovens estão de facto já a efectuar estágios e a beneficiar dos apoios ao empreendedorismo. Os jovens têm sido um dos rostos mais visíveis da crise do emprego, tanto em Portugal como na Europa. Em Março, a taxa de desemprego dos jovens com menos de 25 anos estabilizou em 24% na zona euro e em 23,5% na UE, face ao mês anterior. Mas os números impressionam, 5,6 milhões de jovens sem trabalho, dos quais 3,6 milhões na zona euro. Mais uma vez são os Estados periféricos que protagonizam as taxas mais elevadas - Grécia (59,1% em Janeiro e 2013), Espanha (55,9%), Itália (38,4%) e Portugal (38,3%). É também aqui que se notam as diferenças mais significativas face a 2008. Estes países mais do que duplicaram as suas taxas de desemprego jovem, a que se juntam também a Irlanda, Chipre e alguns países do Leste. Porém, há muito que na Europa se debate até que ponto este número coincide com a realidade, dado que está por apurar até que ponto a permanência dos jovens no sistema de ensino poderá estar a funcionar como um amortecedor do desemprego, alerta o economista da Universidade do Minho João Cerejeira"