Segundo o Publico, num texto da jornalista Raquele Martins, "em Março, quase metade dos 26,5 milhões
de desempregados da União Europeia viviam na Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal
e Itália. Areceita aplicada pela troika em Portugal, Grécia e Irlanda e as
políticas de austeridade que também atingem as economias espanhola e italiana
continuam a ter reflexos preocupantes no mercado de trabalho. Estes
Estados-membros, que albergam 26,4% da população da União Europeia (UE), são
também a pátria de 44% dos desempregados do espaço europeu. No final de Março, estes países da periferia
tinham 11,6 milhões de desempregados (embora os dados para a Grécia digam
respeito ao mês de Janeiro), uma fatia muito significativa dos 26,5 milhões de
desempregados em toda a UE e mais de metade dos 19,2 milhões registados nos países
do euro. Os números foram ontem
divulgados pelo Eurostat e mostram que o Dia do Trabalhador, que hoje se
assinala, terá como pano de fundo um desemprego que teima em permanecer em
níveis elevados, apesar de em alguns países se ter registado um recuo face ao
ano passado e uma estabilização em relação a Fevereiro. Em Portugal houve um
agravamento entre Março de 2012 e Março de 2013, mas a taxa estabilizou nos
17,5% nos três primeiros meses do ano. Já a evolução face a Março de 2008 não
deixa margem para dúvidas: o mercado de trabalho na generalidade dos países
degradou-se para níveis nunca antes registados. A excepção é a Alemanha, que
passou de uma taxa de desemprego de 7,9% para 5,4%. As consequências de cinco
anos de crise económica e financeira foram particularmente visíveis nos
principais países da periferia. Todos os países que estão debaixo de um
programa de resgate financeiro - Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre - estão
entre os que registaram aumentos mais significativos nas suas taxas de
desemprego desde 2008.
Grécia e Espanha protagonizaram os
agravamentos mais pronunciados (19,2 e 17,4 pontos percentuais,
respectivamente), seguindo-se Chipre (10,3 pontos percentuais) e a Lituânia
(9,5 pontos). Em quinto lugar surge Portugal, que registou um agravamento de
9,3 pontos percentuais, passando de uma taxa de desemprego de 8,2% em Março de
2008 para os 17,5% em 2013. Mas a Irlanda e os países do Leste europeu também
figuram nos lugares cimeiros. No caso de Portugal, as previsões mais recentes
revelam que o emprego continuará a recuar e o desemprego permanecerá elevado
nos próximos quatro anos. No Documento de Estratégia Orçamental ontem
divulgado, o Governo prevê que as empresas continuarão a ter dificuldade em
criar emprego e a recuperação do mercado de trabalho só começará a sentir-se -
embora de forma ténue - em 2015. A taxa de desemprego vai continuar acima dos
18% e em 2017 ainda estará nos 16,7%. Portugal é, de resto, um dos exemplos do
que têm sido os efeitos das políticas de austeridade defendidas por Bruxelas. E
nem mesmo a aposta em generosas políticas de apoio ao emprego (que em alguns
casos garantem mais de metade do salário do desempregado contratado) tem
produzido efeitos. A redução da procura
interna e a dificuldade em aceder a financiamento deixam as empresas sem capacidade
para contratar novos trabalhadores. Ontem, o ministro da Economia, Álvaro
Santos Pereira, dava conta de 12 mil desempregados contratados ao abrigo do
programa Estímulo 2012, uma gota de água num universo de mais de 900 mil
desempregados.
Jovens na linha
da frente
Também o Impulso Jovem, programa que
arrancou sob a alçada do ex-ministro Miguel Relvas, teve fracos resultados. A
meta era de 90 mil, mas os últimos dados dão conta de 7500 candidaturas, sem
que o Governo divulgue quantos jovens estão de facto já a efectuar estágios e a
beneficiar dos apoios ao empreendedorismo. Os jovens têm sido um dos rostos
mais visíveis da crise do emprego, tanto em Portugal como na Europa. Em Março,
a taxa de desemprego dos jovens com menos de 25 anos estabilizou em 24% na zona
euro e em 23,5% na UE, face ao mês anterior. Mas os números impressionam, 5,6
milhões de jovens sem trabalho, dos quais 3,6 milhões na zona euro. Mais uma
vez são os Estados periféricos que protagonizam as taxas mais elevadas - Grécia
(59,1% em Janeiro e 2013), Espanha (55,9%), Itália (38,4%) e Portugal (38,3%).
É também aqui que se notam as diferenças mais significativas face a 2008. Estes
países mais do que duplicaram as suas taxas de desemprego jovem, a que se
juntam também a Irlanda, Chipre e alguns países do Leste. Porém, há muito que
na Europa se debate até que ponto este número coincide com a realidade, dado
que está por apurar até que ponto a permanência dos jovens no sistema de ensino
poderá estar a funcionar como um amortecedor do desemprego, alerta o economista
da Universidade do Minho João Cerejeira"