domingo, agosto 03, 2025

“Vejo-vos em tribunal”: Influencer dos EUA reage a processo judicial dos Macron por dizer que Brigitte “é um homem”

A influenciadora conservadora norte-americana Candace Owens respondeu hoje, de forma provocadora, ao processo por difamação interposto pelo presidente francês Emmanuel Macron e pela sua esposa, Brigitte Macron. “Vejo-vos em tribunal”, declarou Owens, na mais recente emissão do seu podcast, após a divulgação da queixa judicial que acusa a comentadora de uma campanha internacional de difamação baseada em teorias falsas que afirmam que a primeira-dama francesa é um homem. O processo, apresentado no Tribunal Superior do Estado do Delaware, nos Estados Unidos, contém 22 acusações, entre elas difamação e exposição a falsa luz, e descreve as declarações de Owens como “absurdas, caluniosas e profundamente fantasiosas”. Segundo o advogado dos Macron, Tom Clare, os danos provocados pelas alegações reiteradas da influencer resultaram em “assédio implacável à escala global” e causaram “prejuízos tremendos” ao casal presidencial francês.

Na sua resposta pública, Candace Owens não recuou. Pelo contrário, reforçou os ataques. “Estou totalmente preparada para enfrentar esta batalha em nome do mundo inteiro”, afirmou. A influenciadora descreveu o processo como uma “estratégia de relações públicas óbvia e desesperada” por parte dos Macron, e apelou até à divulgação de amostras de sangue e fotografias de infância de Brigitte Macron. “Gostava de chegar à fase da descoberta. Acho que devemos isso ao mundo”, declarou. Terminou o episódio com uma frase desafiante: “See you in court” (Vejo-vos em tribunal).

O processo contra Owens surge no seguimento de anos de desinformação nas redes sociais sobre a primeira-dama francesa, que tem sido alvo de rumores infundados sobre a sua identidade de género. A origem das alegações remonta a um vídeo publicado no YouTube, com quase quatro horas, divulgado em 2021 por duas mulheres francesas: Amandine Roy, uma autoproclamada médium espiritual, e Natacha Rey, jornalista independente. O vídeo foi amplamente partilhado antes das eleições presidenciais francesas de 2022 e levou Brigitte Macron a apresentar queixa contra as duas autoras.

O tribunal de primeira instância deu razão a Brigitte Macron, mas, no início deste mês, o Tribunal de Recurso de Paris anulou a sentença que obrigava as duas mulheres ao pagamento de indemnizações. A decisão foi contestada por Brigitte Macron, que recorreu para o Supremo Tribunal francês. “O prejuízo foi imenso, espalhou-se por todo o lado”, comentou na altura o advogado da primeira-dama, Jean Ennochi.

No novo processo agora movido contra Candace Owens, o advogado Tom Clare sustenta que se trata de um caso exemplar de difamação: “Se alguma vez houve um caso claro de difamação, é este. Baseando-se em falsidades já desmentidas, promovidas por uma médium autoproclamada e uma alegada jornalista de investigação, a senhora Owens não só difundiu essas mentiras como as ampliou, criando novas acusações com o objectivo de causar o máximo de dano aos Macron e obter atenção mediática e ganhos financeiros”.

O casal presidencial francês afirmou, em comunicado divulgado esta quarta-feira, que a ação judicial foi um recurso de último recurso: “Como a senhora Owens reafirmou sistematicamente estas falsidades apesar dos repetidos pedidos dos nossos advogados para que se retratasse, concluímos que recorrer aos tribunais era a única via restante para obter reparação”.

Candace Owens, conhecida pelas suas posições conservadoras e pelas declarações polémicas sobre temas como identidade de género, islamismo, escravatura e o Holocausto, tem sido alvo de várias críticas internacionais. Em 2024, foi impedida de entrar na Austrália devido a comentários considerados ofensivos, e mais tarde viu também recusada a entrada na Nova Zelândia. A influencer e a sua empresa estão sediadas no estado norte-americano do Delaware, o que justificou a escolha daquela jurisdição para a apresentação da queixa. Segundo o Financial Times, os Macron estão dispostos a deslocar-se pessoalmente aos Estados Unidos, caso o processo avance para julgamento (Executive Digest, texto do jornalista  Pedro Zagacho Goncalves)

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