À primeira vista, Carlos Moedas passa no teste do primeiro mandato: mais de metade dos lisboetas inquiridos (52%) pela sondagem Expresso/SIC, realizada pelo ICS/ISCTE, considera que a câmara municipal tem feito um trabalho “bom” ou “muito bom” nos últimos quatro anos, enquanto 39% acham que o desempenho camarário tem sido “mau” ou “muito mau”. Se o saldo é positivo, vem com um ‘mas’: esta opinião é menos frequente entre os que têm menores rendimentos e entre os muito jovens — entre os 18 e os 24 anos —, além, naturalmente, dos inquiridos que se posicionaram à esquerda no espectro ideológico. Facto anotado pelo relatório do inquérito: em 2021, o socialista Fernando Medina recandidatava-se e obtinha até uma nota mais positiva na avaliação da sua gestão — 64% contra 30%. Mas dois meses depois acabaria por perder a reeleição para Moedas por uma unha negra. Os dados qualitativos da sondagem, no entanto, indicam que os lisboetas veem a cidade pior do que há quatro anos em quatro dimensões: acesso à habitação (menos 1,3 pontos, numa escala de 0 a 10), segurança (menos 1,2 pontos), limpeza das ruas (menos 0,7 pontos) e trânsito (menos 0,6 pontos).
Lisboetas veem ligeiras melhorias no combate à
corrupção, nas taxas e impostos e na oferta cultural
Se estes são os casos estatisticamente mais significativos, há ainda evoluções ligeiramente negativas noutros três aspetos da vida da urbe. É o caso dos transportes públicos, da qualidade dos espaços públicos e ainda dos apoios sociais. De resto, só há três dimensões em que os lisboetas inquiridos consideram algumas, embora ligeiras, melhorias na capital ao longo do mandato de Carlos Moedas. São elas o combate à corrupção (0,2 pontos acima de 2021), os impostos e taxas municipais (idem) — que Moedas reduziu — e a oferta cultural, que sobe 0,5 pontos.
Avaliação da situação em Lisboa
Mesmo assim, a cidade vista ao espelho pelos seus
habitantes não compara mal, por exemplo, com a do Porto. É avaliada, no cômputo
geral, de forma positiva em quatro pontos: oferta cultural, qualidade dos
espaços públicos, transportes e controlo do ruído noturno, quando o Porto só o
era em três na sondagem que o Expresso publicou há três semanas. Mas não é uma
imagem brilhante, visto que é avaliada negativamente noutros oito, incluindo
segurança, apoios sociais, limpeza das ruas, trânsito, impostos e taxas,
corrupção e habitação. A gestão de Moedas, a avaliar pelo estudo, acabou por
transportar para terreno negativo a perceção de segurança e a limpeza das ruas
— neste campo em particular pelas mulheres e residentes com mais idade.
Cidade pior no acesso à habitação, segurança,
limpeza das ruas e trânsito
O que foi avaliado pela primeira vez neste inquérito — não tinha sido questionado há quatro anos — foi a forma como é percecionada a integração dos imigrantes na capital, um tema caro ao autarca do PSD ao longo dos últimos anos. E também nesse campo a conclusão é negativa: nota de 4,2, colocando-o a meio da escala dos problemas que os lisboetas apontam à sua cidade. Em Lisboa, como no Porto, os quatro itens que se destacam mais negativamente são os mesmos: impostos e taxas, trânsito, combate à corrupção e — destacadamente abaixo de todas — o acesso à habitação. A entrega de chaves pelo autarca não chegou, de acordo com o estudo, para resolver ou travar a crise na capital, uma avaliação, aliás, generalizada a diferentes classes etárias, níveis de instrução distintos e diversos pontos do espectro ideológico.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 14 e 27 de julho de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído por indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, recenseados nas freguesias do concelho de Lisboa. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo e idade (4 grupos). A partir de uma matriz inicial baseada na distribuição da população eleitora pelas 24 freguesias do concelho de Lisboa com base nos dados do recenseamento eleitoral (MAI, 31 de dezembro de 2024), foram selecionados aleatoriamente 91 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2088 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 800 entrevistas válidas (taxa de resposta de 38%; taxa de cooperação de 50%). O trabalho de campo foi realizado por 31 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 800 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nos gráficos seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas David Dinis e Jaime Figueiredo)
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