Um novo relatório da Assembleia Municipal de Lisboa
propõe uma estratégia para descentralizar o turismo na cidade, canalizando
visitantes para zonas menos conhecidas como Marvila, Beato, Ajuda e Olivais. A
medida surge como resposta à crescente pressão turística sobre os bairros
históricos e centra-se na ideia de que Lisboa não sofre de excesso de turismo,
mas sim de uma má distribuição dos fluxos. O documento, intitulado Cidade menos
visitada, será discutido esta terça-feira e resulta de audições realizadas ao
longo de oito meses com quase duas dezenas de entidades, segundo avança o
jornal Público, na edição impressa desta terça-feira..
“O turismo está demasiado concentrado em zonas como
Belém, Santa Maria Maior, Bairro Alto, Baixa-Chiado, Alfama, Mouraria e
Castelo”, lê-se no relatório coordenado pelos deputados municipais socialistas
Pedro Roque Domingues e Simonetta Luz Afonso. Segundo o documento, esta
concentração tem impactos negativos evidentes: desde a sobrecarga das
infraestruturas à descaracterização dos bairros tradicionais, passando pela
degradação da qualidade de vida dos residentes.
Inspirando-se em exemplos de cidades como Berlim, Barcelona, Paris ou Amesterdão, os autores propõem uma reconfiguração do modelo turístico através da promoção de zonas periféricas, espaços verdes, zonas industriais reabilitadas e centros culturais alternativos. O objetivo é criar novos eixos de interesse que descongestionem o centro histórico e estimulem o investimento em bairros negligenciados.
Entre as propostas está a criação de “eixos temáticos”
e “eixos estratégicos” que liguem áreas com potencial ainda pouco explorado. Um
dos casos apresentados é o “Eixo Ajuda-Belém”, que aproveita a proximidade
entre as duas freguesias. “A Ajuda tem património valioso, mas recebe apenas
uma fração dos visitantes de Belém”, nota-se no relatório, que aponta para a
subutilização de espaços como o Palácio Nacional da Ajuda, o Jardim Botânico e
o Museu do Tesouro Real, apesar destes sofrerem indiretamente os efeitos do
turismo massificado a sul.
O documento propõe ainda uma reorganização do
calendário de eventos, criticando a concentração de iniciativas no mês de
junho, especialmente no centro histórico, durante as festas populares. Em
alternativa, sugere-se a promoção de atividades noutros meses e em zonas menos
frequentadas, contribuindo assim para a descentralização temporal e geográfica
da oferta cultural.
Outra medida passa por rever a sinalética da cidade,
atualmente classificada como “obsoleta” e “desintegrada”. O relatório defende a
criação de uma estratégia coerente à escala urbana, que inclua a integração de
soluções tecnológicas no mobiliário urbano. A proposta pretende tornar os
percursos turísticos alternativos mais acessíveis e apelativos para os
visitantes.
Por fim, sugere-se a implementação de um sistema único de bilhética para os equipamentos culturais da cidade, com horários de visita pré-definidos para os locais mais pressionados e a promoção de alternativas em espaços menos frequentados. Esta abordagem permitiria não só aliviar os focos de sobreturismo, mas também valorizar a oferta cultural fora do circuito habitual (Executive Digest)
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