domingo, agosto 03, 2025

Ajuda, Marvila ou Olivais: Lisboa tem plano para redistribuir turismo por bairros menos visitados


Um novo relatório da Assembleia Municipal de Lisboa propõe uma estratégia para descentralizar o turismo na cidade, canalizando visitantes para zonas menos conhecidas como Marvila, Beato, Ajuda e Olivais. A medida surge como resposta à crescente pressão turística sobre os bairros históricos e centra-se na ideia de que Lisboa não sofre de excesso de turismo, mas sim de uma má distribuição dos fluxos. O documento, intitulado Cidade menos visitada, será discutido esta terça-feira e resulta de audições realizadas ao longo de oito meses com quase duas dezenas de entidades, segundo avança o jornal Público, na edição impressa desta terça-feira..

“O turismo está demasiado concentrado em zonas como Belém, Santa Maria Maior, Bairro Alto, Baixa-Chiado, Alfama, Mouraria e Castelo”, lê-se no relatório coordenado pelos deputados municipais socialistas Pedro Roque Domingues e Simonetta Luz Afonso. Segundo o documento, esta concentração tem impactos negativos evidentes: desde a sobrecarga das infraestruturas à descaracterização dos bairros tradicionais, passando pela degradação da qualidade de vida dos residentes.

Inspirando-se em exemplos de cidades como Berlim, Barcelona, Paris ou Amesterdão, os autores propõem uma reconfiguração do modelo turístico através da promoção de zonas periféricas, espaços verdes, zonas industriais reabilitadas e centros culturais alternativos. O objetivo é criar novos eixos de interesse que descongestionem o centro histórico e estimulem o investimento em bairros negligenciados.

Entre as propostas está a criação de “eixos temáticos” e “eixos estratégicos” que liguem áreas com potencial ainda pouco explorado. Um dos casos apresentados é o “Eixo Ajuda-Belém”, que aproveita a proximidade entre as duas freguesias. “A Ajuda tem património valioso, mas recebe apenas uma fração dos visitantes de Belém”, nota-se no relatório, que aponta para a subutilização de espaços como o Palácio Nacional da Ajuda, o Jardim Botânico e o Museu do Tesouro Real, apesar destes sofrerem indiretamente os efeitos do turismo massificado a sul.

O documento propõe ainda uma reorganização do calendário de eventos, criticando a concentração de iniciativas no mês de junho, especialmente no centro histórico, durante as festas populares. Em alternativa, sugere-se a promoção de atividades noutros meses e em zonas menos frequentadas, contribuindo assim para a descentralização temporal e geográfica da oferta cultural.

Outra medida passa por rever a sinalética da cidade, atualmente classificada como “obsoleta” e “desintegrada”. O relatório defende a criação de uma estratégia coerente à escala urbana, que inclua a integração de soluções tecnológicas no mobiliário urbano. A proposta pretende tornar os percursos turísticos alternativos mais acessíveis e apelativos para os visitantes.

Por fim, sugere-se a implementação de um sistema único de bilhética para os equipamentos culturais da cidade, com horários de visita pré-definidos para os locais mais pressionados e a promoção de alternativas em espaços menos frequentados. Esta abordagem permitiria não só aliviar os focos de sobreturismo, mas também valorizar a oferta cultural fora do circuito habitual (Executive Digest)

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