Montenegro graças à conjugação de três factores essenciais: péssima gestão da agenda política - mas também não se pode esperar mais com aquelas elites dirigentes em Lisboa... - péssima gestão da comunicação política perante uma crise de credibilidade e de idoneidade lançada para a praça pública e assente em suspeitas e especulação, em muito devido a essa péssima gestão política do "caso" e demasiada arrogância e altivez de quem acha que vai ganhar as eleições, pese as sondagens - naturalmente, porque realizadas a quente, em cima de polémicas - indicarem, realidades e caminhos adversos que, como sabemos, até podem alterar-se até o dia das eleições, devido ao previsível assentar da poeira, e acabar por, paradoxalmente, favorecer o PSD, perante a expectável inexistência de alternativas com credibilidade e passíveis de gerar junto dos cidadãos eleitores níveis de confiança mínimos junto das pessoas. Algo que nada têm a ver com as palhaçadas, as falsidades, as manipulações, os condicionamentos e os oportunismos - o costume - de partidos de protesto que, em situações normais - o que não é o caso, como a seu tempo constataremos - esperam beneficiar dos efeitos do escarafunchar a pocilga.
Este caso fez-me lembrar o que se passou na Madeira, em 2007, com o governo do PSD-M liderado por Alberto João Jardim, que apesar de dispor de maioria absoluta confortável, demitiu-se devido à tentativa de imposição à Região de uma nova versão da lei de finanças regionais considerada penosa para a Madeira e a sua população. Sem alternativas de governação possíveis no quadro parlamentar regional de então, a opção foi provocar as eleições antecipadas que levaram o PSD-Madeira - chamo a atenção para o facto dos contextos serem diferentes, dos protagonistas serem outros, dos vícios da oposição e do poder, bem como as virtudes dos dois lados, serem conhecidos dos cidadãos e bem diferentes do que hoje acontece, etc - à obtenção do seu melhor resultado de sempre em votos, mais de 90 mil votos expressos nas urnas. Foi uma decisão amadurecida, pensada ao longo de semanas, discutida internamente, que não foi unânime como era expectável, e que acabou por constituir a opção política mais adequada.
No caso de Montenegro nada disto aconteceu e ficamos com a sensação de que o agora primeiro-ministro em gestão, pode transformar-se no coveiro do PSD, com tudo o que de negativo e controverso isso implica, sobretudo em termos do fim abrupto da carreira política de uma personagem que foi sempre um dos mais destacados actores (no parlamento nacional onde agora viu o seu governo ser derrubado com naturalidade) nos tempos do "passismo-portismo", ao serviço dos desígnios e das imposições da troika, personagem pela qual, confesso, nunca nutri qualquer apoio ou simpatia, mas que acabou por levar o meu voto nas legislativas de 2024 - que venceu "in extremis"... - por conveniência e por coerência pessoal. De resto, já nas eleições internas para a liderança do PSD Montenegro nunca obteve o meu voto. Pelos motivos expressos anteriormente.
Em resumo, Montenegro falhou porque alimentou uma crise que o teve como epicentro devido aos erros cometidos, e antes referidos, e ao facto de nunca ter respondido com verdade às questões que lhe eram publicamente suscitadas - acredito que a pensar mais em si, nos seus interesses e num certo sentimento de vingança contra quem alimentou a polémica, sobretudo o PS - porque foi mal aconselhado e pior assessorado pelos seus. Montenegro devia ter assumido um erro num caso "sui generis" que ainda vai dar que falar e que continua por explicar em muitos dos seus itens e, mais do que nisso, devia ter percebido o que estava em causa e pugnado pela verdade, por muito que isso o incomodasse, logo no primeiro dia da polémica. Ninguém está a julgar o carácter de ninguém, ninguém está sequer a julgar o político Montenegro, que não foi acusado de nada pela Justiça, onde existe uma denúncia anónima já em investigação, por decisão da PGR, e que pode fazer estragos. Mas politicamente a análise é diferente e estranho muito que o PSD nacional, apesar do "encarneiramento" existente, aceite passiva e naturalmente algo que de natural, nada tem. E que continua a ser analisado defeituosamente e com demasiada arrogância e excessiva altivez. Veremos quais os custos de tudo isto, nas urnas, veremos se Montenegro (e o PSD) consegue superar as adversidades e desconfianças e convencer as pessoas da sua integridade - que, ressalve-se, nunca foi posta em causa até este momento, mesmo havendo mais dúvidas do que certezas - ou se o partido voltará a ser empurrado para uma travessia no deserto, passível de permitir uma eventual depuração de resquícios de uns tempos de má memória, altamente penalizadores para os social-democratas e o seu parceiro (CDS), tempos esses não muito distantes, depois do PSD nacional ter sido tomado de assalto por indivíduos famintos que estavam mais ao serviço de causas e concepções económicas e financeiras e não da política pura e dura e muito menos do legado de Sá Carneiro e do seu discurso. Aliás, o que diria a tudo isto o fundador do PSD se hoje fosse vivo...
Sem dramas vamos para eleições e o povo, soberano, livre e inteligente, saberá pronunciar-se, uma vez mais, e fazer as suas escolhas, tendo em vista impedir que o País caia no pântano da incerteza, nas mãos da politiquice rafeira de bastidores, que fique refém de políticos medíocres sem perfil para exercerem responsabilidades de governação pública, que vivem do espaço mediático, da mentira, das fake news que alimentam o seu discurso e a sua práxis, que distorcem deliberadamente, que mentem com toda a naturalidade.
Não são os políticos rafeiros mais truculentos, só porque berram mais alto que os outros e falam de corrupção todos os dias, agora também para desviarem atenções e fazerem esquecer a corja de bandidos que albergam, alguns deles acusados de crimes de infame pedofilia e outras barbaridades e patifarias, que são credores de confiança, sobretudo quando saltitam de partido em partido. Ou, por falar em corrupção e má gestão de dinheiros que não são seus, tudo fazem para esconder comportamentos indignos, com dinheiros que não eram seus, deixando um rasto de dívidas e de gastos inexplicáveis, quer levaram a certos "truques" e habilidades para contornar a justiça, situações que o radicalismo discursivo não pode lavar. Isso são coisas para sabonetes, casos do Omo, que dizem lavar mais branco que o branco, não para a política que se quer mais séria e mais limpa...
No fundo é isso que nos interessa a todos numa altura em que são muitas e perigosas as ameaças que pairam sobre a Europa, sobre a economia global, sobre os países ou regiões mais frágeis e mais dependentes como o nosso caso. Pensem nisso (LFM)
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