Miguel Albuquerque disse há dias, numa entrevista, que
o PSD-Madeira sem unidade interna e combate concertado pelos mesmos objectivos,
não vai chegar lá. É uma verdade incontestável. Obviamente que o problema é
saber o que vão fazer depois de lá chegarem, se vão querer manter tudo na mesma
como se nada se tivesse passado.
O PSD-Madeira foi confrontado, desde Janeiro de 2024,
com uma sucessão de casos inesperados, com claro impacto social e, por essa via,
com fortíssimo impacto político, gerando uma instabilidade que nunca foi resolvida
devido à configuração do parlamento regional, eleito antes de Janeiro de 2024,
e depois de Maio de 2024.
Ocorre que nestes tempos de eleições, o que faltava a
um partido, seja ele qual for, seria ter que perder tempo com alguns arrufos internos,
só porque alguns acham que é chique vir para a praça pública perorar sobre
coisas e coisinhas que nada têm a ver, nem com o processo eleitoral em curso,
nem com os legítimos objectivos políticos e parlamentares do PSD-Madeira, enquanto
partido com história e com um legado político inegável - e que não se pode
confundir, nem dissipar, por causa de erros alegadamente cometidos por alguns
dos seus membros, por actos de permissividade excessiva ou conivência (tudo
isso a aguardar a urgente clarificação de tudo o que se passou por parte da
única instituição com competência para tal, a justiça através dos seus
tribunais) nem, em última instância, com os interesses da própria Região.
Acresce que os "contadores de histórias" não
podem ter nem memória curta, nem serem selectivos apenas para um dos pratos da
balança, "esquecendo" tudo o que antes aconteceu, os procedimentos adoptados
durante anos, a gestão política de determinadas situações internas, etc, etc.
Acresce que os alegados e legítimos candidatos à liderança do PSD-Madeira, precisam
de saber estabelecer as suas linhas vermelhas e de escolher o tempo adequado
para se movimentarem, algo que parece que felizmente tem acontecido (resta
saber o que se passa nas catacumbas da política social-democrata regional): ou
cavam a sepultura que será não só a deles mas a do partido no seu todo, nada
restando para que eles possam, depois, dar corpo às suas ambições legítimas.
Outro erro infantil que repetidamente se insiste em
querer "vender" às pessoas - chamaria antes a farsa, mais uma, para
enganar parolos - é querer comparar o que hoje se passa, em termos de
escrutínio dos políticos, das instituições públicas, etc, com o que se passava
no passado recente. E nem é precioso recuar muito na linha do tempo - apenas uns
8 anos – não só porque a capacidade de intervenção e de fiscalização de
entidades públicas competentes, casos do Ministério Público, da Procuradoria
Geral da República ou do Tribunal de Contas e outras é hoje substancialmente
superior e está mais consolidada e dotada de meios que antes não tinham, mas
porque a “fiscalização” e a “condenação” acelerada nas redes sociais é uma nova
realidade que alguns nunca tiveram que enfrentar no passado recente. Portanto
acabem com isso de quererem comparar tempos diferentes na política regional. O
impacto das redes sociais foi determinante para essa mudança, mesmo que
saibamos todos que estamos a falar - eu sei que desregulado e criminoso, mas
existente - de um fenómeno real.
Não vale a pena escamotear o impacto dessa frente
comunicacional, desse novo "mundo" marcado por uma lógica de justiça
popular generalizada, sem regras e sem regulação que nalguns casos até
prescinde das chamadas denúncias anónimas que parecem agradar a alguns,
sobretudo aos que estão longe do poder mas que escondem, por causa disso, os
seus pequenos mundos de corrupção, compadrio, favorecimento, etc. Uma
"varredura" mais demorada, competente e atenta, por exemplo, às
contas de alguns partidos revelaria por certo muita coisa e suscitaria muitas
dúvidas... E não é preciso serem apenas os maiores partidos ou os chamados
partidos do poder.
Isto é como o futebol: se o VAR permite que os grandes sejam beneficiados é logo uma "escandaleira" e suscita uma berraria entre os comentadores e nas redes sociais. Mas se o VAR permitir, pela omissão, que os mais pequenos lixem os grandes à custa de irregularidades sancionadas, temos então um manto de silêncio e cumplicidades várias porque ninguém valoriza o que se passou, ninguém contesta ou comenta com a mesma indignação, insistência calorenta e verborreia contestatária, esta situação. Na política é o mesmo, o tratamento diferenciado entre os grandes e os pequenos partidos. Só porque não foi um grande a ser beneficiado pela arbitragem, tudo muda de figura. Sabemos todos que é assim. O resto são tretas, na política ou no futebol.
Depois esqueceram-se por acaso que o perfil dos
militantes e simpatizantes (eleitores) nos partidos mudou muito desde 2011, o
ano da troika, com tudo o que foi então aprovado e imposto ao país e aos
portugueses? Esqueceram-se que o universo eleitoral regional, em termos
etários, e as suas opções, se tem vindo a alterar muito desde os anos oitenta e
que existem explicações plausíveis que facilmente indicam as causas para as perdas
de votos que alguns distorcem e tentam considerar como demérito de quem lidera
os partidos? Por exemplo, as prioridades e as expectativas de vida dos jovens,
nos dias que correm, pouco ou nada têm a ver com as prioridades dos
pensionistas ou dos reformados ou mesmo dos funcionários públicos que sempre
tiveram uma maior capacidade reivindicativa comparando-os com os privados. Cada
grupo de cidadãos, em cada tempo do quotidiano, luta pelos seus interesses e dá
corpo aos seus níveis de satisfação, frustração, desilusão, etc. E contra esta
lógica indesmentível não há milagres nem milagreiros que a contenha. Talvez não
seja tão difícil, como alguns tentam fazer crer, perceber as oscilações
eleitorais de alguns partidos e o aumento da abstenção. Abordar esta temática
sem o decisivo ano de 2011 – ano da troika e do PAEF na Madeira – é desonesto.
Basta que consultem os resultados, basta que investiguem a mudança de protagonistas
nos principais partidos, basta que recordem quantos partidos surgiram na
política nacional depois desse ano negativamente marcante. O resto são tretas...
(LFM)
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