quinta-feira, junho 10, 2021

Percebendo a importância do turista inglês para a Madeira com base num estudo com alguns anos

Em 2010, a pedido da RAM, foi realizado um estudo, intitulado “O Turista do Reino Unido” que foi liderado pela Bloom Consulting. Este documento teve como objetivo principal, caracterizar em pormenor o mercado e o turista do Reino Unido, proporcionando assim um conhecimento mais abrangente e profundo do mesmo. Devido à angariação, tratamento e interligação de diversas fontes de informação atingiu-se uma abordagem única ao mercado do RU, desta forma, permitindo a todos os envolvidos no processo de promoção do território madeirense, face ao mercado-chave Reino Unido uma sensibilidade mais alargada do mesmo. A leitura deste relatório não pressupõe um conhecimento prévio sobre  o mercado do RU, sendo fornecida informação de caracterização geral do país e de definição comportamental do turista do Reino Unido. Deixo alguns quadros de um estudo que tendo alguns anos, acredito que pouco ou nada mudou desde então.

Principais destinos

O Turista do Reino Unido tem uma clara propensão para visitar destinos dentro do território inglês, registando mais de 92.6 milhões de viagens no ano de 2014, o que corresponde ao gasto de 18.7 biliões de libras nestes territórios. A Escócia é a segunda região mais visitada por turistas domésticos com cerca de 12.5 milhões de viagens e 2.9 biliões de libras registadas em gastos. Por fim, o País de Gales apresenta um valor em 2014 de 10 milhões de visitas, onde foram gastos cerca de 1.7 milhões de libras.

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Quanto ao nível de conhecimento dos turistas do Reino Unido sobre a região da Madeira, a esmagadora maioria dos mais de mil inquiridos já ouviu, pelo menos, falar da Madeira. Em cada 5 respondentes 4 já ouviram falar da Madeira, sendo este um dado bastante conclusivo sobre o reconhecimento que este destino tem no Reino Unido.

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Para além deste dado positivo importa ainda salientar a análise de quem já ouviu falar da Madeira, mas que nunca visitou o território, onde as respostas indicam que 75% dos inquiridos que nunca visitaram a Madeira já ouviram falar sobre este destino. Ora, este resultado é ainda mais importante que o anterior, pois demonstra, não só o reconhecimento do destino neste mercado para quem já visitou, mas também que a Madeira está no “top of mind” dos turistas do Reino Unido. Um dos pontos mais importantes sobre o reconhecimento de um destino passa por avaliar o conhecimento dos turistas sobre a localização desse mesmo destino específico. Assim, foi questionado aos turistas do Reino Unido se sabiam qual o país em que a região da Madeira está inserida.

Destaque claro ainda para Portugal e Lisboa, que por estarem perto geograficamente e fazendo parte do mesmo país da Madeira recolhem mais de 8% das intenções. Outra conclusão interessante que pode ser retirada desta análise passa pela existência de várias ilhas no top 10 de destinos que também foram considerados por quem visitou a Madeira. Destinos como Chipre, Maiorca e Grécia demonstram que os turistas do Reino Unido que viajaram para a Madeira procuravam um destino insular, onde o bom tempo, o sol, a praia e a costa fossem um dos principais ativos. Por fim, para concluir a análise às perceções que os turistas do Reino Unido possuem sobre a Madeira, nada melhor do que questionar diretamente os inquiridos, que nunca visitaram a Madeira sobre a possibilidade de visitar o arquipélago num futuro próximo.  

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Ao analisar os inquiridos do Reino Unido que nunca visitaram a Madeira verifica-se que a grande maioria (64%) considera a hipóteses de visitar o arquipélago num futuro próximo. Este dado revela que 2 em cada 3 inquiridos demonstra interesse em visitar a Madeira num futuro próximo.

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Com esta amostra confirma-se que o destino Madeira é bastante popular no mercado do Reino Unido e que os seus turistas certamente colocam a Madeira como hipótese de destino aquando da escolha de um local de férias, nomeadamente os turistas mais jovens, pois 18% dos que ainda não visitaram a Madeira, mas gostariam de o fazer num futuro próximo têm menos de 30 anos, demonstrando assim que a Madeira é um destino apelativo não só para o turismo sénior mas também para mais jovem.

Diferenças de Custos


Saber se a Madeira é, aos olhos do Turista do Reino Unido, um destino economicamente acessível passa impreterivelmente pela comparação dos principais custos que um turista do Reino Unido encontraria em férias no seu próprio país e na Madeira. O senso comum “Portugal é mais barato que o Reino Unido”, é uma verdade inegável quando comparamos os preços de custo de vida, de rendas de casa e de gastos no dia-a-dia. Mesmo focando apenas nos gastos mais frequentes para um turista em território nacional, percebemos que há uma grande diferença entre os custos nos dois países:

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As Ilhas Atlânticas, onde se inclui a Madeira, foi o quarto destino mais reservado pelos turistas do Reino Unido em 2016, obtendo perto de 9% do total dos turistas. Apesar de ainda figurar longe dos números alcançados pelo Mediterrâneo, as Ilhas Atlânticas, onde se incluem a Madeira e as Ilhas Canárias, entre outras, são cada vez mais reconhecidas como destino de excelência a nível de Cruzeiros. Com uma promoção mais adequada sobre os amantes desta vertente turística poderá alavancar num futuro próximo o número de passageiros para o seu destino. No entanto, o principal meio de transporte onde mais turistas se deslocam com destino à Madeira, continua a ser o aéreo. É por isso importante estudar quais os aeroportos do Reino Unido que mais passageiros transportam para a Madeira, a fim de verificar também quais as zonas deste mercado de onde mais turistas saem com destino ao arquipélago.

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Dados Complementares e Conclusões

Perfil Digital do Turista


Um dos aspetos mais interessantes a analisar num mercado-alvo prende-se com a metodologia utilizada na hora de procura de inspiração para viajar. Apesar da predominância contemporânea de meios online – estáticos (websites), proativos (motores de busca) e interativos (redes sociais) – há ainda organizações, contatos e meios tradicionais que produzem alguma influência na hora do turista do Reino Unido decidir onde vai passar as suas próximas férias. Independentemente de se tratar da Madeira ou de outros destinos, os turistas provenientes do Reino Unido têm tendência a encontrar inspiração para as suas viagens através de Websites e de Recomendações de amigos e familiares, sendo que no caso das viagens à Madeira, as Agências de Viagem e Operadores turísticos assumem um papel de destaque. Num contexto geral, é possível afirmar que cerca de 62% dos turistas do Reino Unido dá prioridade à busca de informação através de meios online, relegando para um lugar de menos destaque a informação obtida através de meios de informação como os media tradicionais.

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Os turistas que visitaram a Madeira têm um perfil mais “conservador” em relação ao uso de tecnologias que aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de visitar o território, havendo uma maior percentagem de Agências e Operadores turísticos (23%) e de recurso a Media Tradicional (8%). Por outro lado, vemos que as Redes Sociais (9%) tendem a assumir-se como bastante importantes neste grupo quando comparadas com quem visitou outros destinos que não a Madeira.

Preferências de Marcação


No que toca à metodologia de marcação de viagem assistimos a um comportamento completamente distinto entre as viagens à Madeira e à grande maioria de outros destinos recentemente visitados pelo turista do Reino Unido.  Mais de 60% dos turistas do Reino Unido que visitaram a Madeira, fizeram-no com recurso a metodologias offline, preferencialmente Agências e Operadores que disponibilizam pacotes turísticos para a região. Quando inquiridos sobre o método de marcação da sua última viagem à Madeira, os turistas do Reino Unido revelam um perfil de dependência institucional face a Agências de Viagens, Agências de Cruzeiros e Operadoras de Viagem, constituindo 60,3% das marcações. Dos métodos online preferenciais, vemos que um quarto de todas as viagens à Madeira por parte destes turistas foram marcadas através de websites de reservas, e que 13,2% foi diretamente aos websites das empresas de alojamento e transporte para reservar as suas férias.  Uma possível explicação para este perfil conservador (institucional) por parte dos turistas do Reino unido, deve-se à multiplicidade de anos em que estes visitaram a Madeira, sendo que alguns dos turistas de idade mais avançada podem tê-lo feito há décadas atrás. Também pode ser causado pela segurança e comodidade de, no entanto, o forte mercado de cruzeiros e de férias com tudo-incluído justifica o contato com Agências especializadas que muitas vezes conseguem facultar preços mais acessíveis e competitivos.

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O turista do Reino Unido tende a decidir o seu próximo destino de férias a 3 ou menos meses da partida para o destino, seja para a Madeira (55,9%) ou para outro destino internacional (57,3%). No entanto, a fasquia dos 6 meses de antecedência é ainda uma realidade para muitos dos turistas deste mercado. Se considerarmos a resposta “12 meses ou mais“, como 12 meses (para efeitos matemáticos), podemos afirmar que o Turista do Reino Unido decide ir à Madeira cerca de 4 meses antes da realização da viagem, sendo que para outros destinos, o tempo antecedência na decisão é bastante semelhante, ficando a média nos 3,8 meses.

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Apesar dos resultados semelhantes entre os turistas do Reino Unido que visitaram e não visitaram a Madeira, há alguns dados diferenciadores relevantes a considerar, como a predominância dos dois primeiros meses para quem visitou destinos que não a Madeira e a tendência para os 4 meses de antecedência para quem visitou a Madeira.

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Apesar da elevada percentagem de visitas de 1-2 dias à Madeira, as grandes concentrações de duração de férias na Madeira situam-se entre os 7-8 dias (33%) e entre 13-14 dias (15%), associadas às comuns “passar uma semana/duas semanas de férias” no estrangeiro, coincidindo com a tendência que o turista do Reino Unido tem para outros destinos.


É ainda relevante mencionar que há uma distribuição mais equilibrada na média de outros destinos que no caso específico da Madeira, onde é pouco comum haver viagens de duração de 11-12 dias, 15-16 dias e 17 ou mais dias de viagem por parte do turista do Reino Unido.

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A visitas à Madeira (7,7 dias) têm uma duração média inferior ao conjunto de outros destinos por parte do turista do Reino Unido (8,5 dias).

Principais conclusões

1 Apesar das incertezas logísticas e legais que trará o pós-BREXIT, o mercado do Reino Unido nunca esteve tão predisposto a realizar viagens de férias internacionais, estando o número de turistas internacionais, o volume de gastos no estrangeiro e pesquisas por destinos internacionais numa fase de ascensão a um ritmo sustentável.

2 O turista do Reino Unido tem dois critérios geográficos distintos principais na escolha do seu próximo destino de férias: Territórios com proximidade geográfica do Reino e Territórios conhecidos pelas condições para férias de sol, mar e praia. Para além disso verifica-se uma preferência por destinos (dentro e fora da europa) com os quais o Reino Unido tem uma relação histórica (protetorados e ex-colónias)

3 Existe um reconhecimento geral do nome “Madeira” no Reino Unido, mas muitos dos turistas britânicos não associam o destino à sua localização geográfica e principais ativos, mesmo assim, o panorama do Teleférico do Monte e a Festa da Flor são os ativos mais reconhecidos pelos britânicos, que vêm no Vinho da Madeira também um ponto de reconhecimento. Apesar de não haver uma grande associação de imagem com o ativo, as Levadas assumem um papel de bastante importância para este mercado.


4 As perceções dos turistas britânicos sobre a Madeira são na sua grande maioria positivas, destacando-se expressões descritivas como “bonita”, “quente”, “sol”, “ilha” e “ótimo” e havendo uma grande maioria de avaliações positivas da experiência no território. Ainda de destacar que 64% dos turistas que nunca visitaram a Madeira, consideram fazê-lo num futuro próximo.

5 A importância do mercado dos cruzeiros para a Madeira é inquestionável para este mercado, quer pelas condições de excelência e infraestrutura existente no território, quer pelo imenso interesse dos turistas britânicos em participar em cruzeiros que tenham a Madeira no seu itinerário. O crescimento da indústria é sustentável e a Madeira encontra-se numa situação de competitividade vantajosa.

6 A tendências para encontrar inspiração para viajar para a Madeira a partir do Reino Unido vêm essencialmente de Websites, Agências e Operadores Turísticos, Recomendações de Amigos e Familiares e resultados nos motores de busca. Apesar deste mix, a tendência do mercado é cada vez mais utilizar fontes de inspiração e plataformas de marcação de viagem online, merecendo o “digital” uma forte aposta por parte da Madeira.

7 Com uma sazonalidade de pesquisa muito acentuada em Janeiro e Julho, o turista britânico tende a decidir o seu destino de férias num período inferior a 3 meses da partida para o destino, havendo, no entanto, muitos turistas que decidem as viagens cerca de 6 meses antes da partida. A procura em Janeiro por novos destinos de férias para o respetivo ano que começa constitui também um elevado foco de pesquisa.

8 Dado o forte interesse dos turistas do Reino Unido por Atividades na Natureza, e o pouco reconhecimento dos ativos madeirenses neste tópico (Levadas e Floresta Laurissilva), é importante destacar este produto específico com vista a promover mais e melhor estes produtos neste mercado. A difusão de imagens – que estão até agora pouco associadas a estes ativos por parte do turista do Reino Unido – pode ser um passo importante para aumentar o reconhecimento

9 Os turistas provenientes do Reino Unido que visitaram a Madeira realizam viagens de duração distintas (23% até 4 dias; 55% entre 5 a 10 dias; 22% + 10 dias), pelo que é fundamental adaptar a oferta e os pacotes turísticos para responder às diferentes pretensões de cada turista e assegurar que existe uma oferta adequada às limitações de tempo de férias do mercado-alvo.

10 A Espanha, em especial os seus destinos insulares, é o principal competidor turístico da Madeira. De entre os turistas provenientes do Reino Unido para a Madeira 1 em cada 3 colocou como hipótese viajar para um destino espanhol ao invés da Madeira, a vantagem de preços mais competitivos pode ser um ponto forte na definição de uma estratégia para este mercado-alvo.

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