sexta-feira, maio 24, 2013

Opinião: "Um Coelho sem pressa"



"Seis a sete anos. Este é o tempo que Pedro Passos Coelho diz ser necessário para cumprir a reforma da IRC agora iniciada.
Sim, seis a sete anos, ou seja, mais tempo do que uma legislatura leva a cumprir-se e mais ainda do que a economia pode esperar. A culpa, alega o primeiro-ministro, é da despesa pública, que tem de ser cortada primeiro, e da falta de margem orçamental, que só se ganha depois disso. É como a história da pescadinha de rabo na boca: uma parte começa onde a outra acaba e, enquanto as duas não se separam, o país vive imobilizado, de dentes ferrados no seu próprio rabo.
Uma reforma desta dimensão, já se sabe, não se faz em dois dias. Mas seis a sete anos parece um pouco demais num país que precisa urgentemente de medidas radicais, como um choque fiscal sério, para captar investidores, promover negócios e recuperar competitividade. Quando a responsável pela promoção de investimento britânico aterra em Lisboa e questiona a estratégia de Portugal para captar investidores, não são respostas como estas que espera ouvir.
Porque foi exactamente isso que a directora do UK Trade & Investment quis saber ontem, numa conferência do Fórum para a Competitividade: com mais de 400 empresas britânicas interessadas em parcerias portuguesas, para chegarem a mercados como Brasil, Angola e Moçambique, como é que Portugal pensa retê-las? O que tem para lhes oferecer, além de uma crise e de uma economia estagnada? Atirar-lhes para a frente com uma espera de seis ou sete anos por um ambiente fiscal atractivo não é, seguramente, uma boa resposta.
É, pelo contrário, um convite para que qualquer investidor estrangeiro bata na porta do mercado vizinho ou em países que investem numa estratégia fiscal mais amiga dos negócios. É igualmente um incentivo aos próprios empresários portugueses para que sigam o mesmo destino, transferindo sedes fiscais e novos projectos para economias onde os impostos pesam bastante menos nas suas contas. Enquanto assim for, Portugal vai continuar a cair no campeonato da competitividade até um ponto em que, se se permitir a alegoria futebolística, deixa de garantir o acesso à própria Europa.
Mas esse é o risco que o país já corre, como alerta o estudo da CGD, feito em parceria com a consultora do economista Augusto Mateus, conhecido esta semana. "Não há competitividade sem investimento, não há emprego sem investimento. O cerne dos problemas está precisamente na falta de investimento", conclui a avaliação.
É, de novo, a teoria da pescadinha de rabo na boca, agora em formato de estudo económico. Mas traduz o óbvio e explica o simples: para criar emprego é preciso crescer, para crescer é preciso investir, para investir é preciso que os bancos libertem capitais, que as empresas os apliquem e que os impostos desçam até um nível suportável, mas competitivo. E para que tudo isso aconteça é preciso um Governo mais rápido nas decisões e nas acções. Coelho pode não ter pressa - mas a economia tem" (texto de Helena Cristina Coelho, Económico, com a devida vénia)