"Soube-se
esta semana que Coelho, quando ainda era líder da oposição, terá pedido mais
tempo e dinheiro à tróica para o programa de resgate português. A revelação foi
feita pelo próprio no prefácio de um livro de um deputado: "Parecendo-me que ganharíamos segurança na
execução do Programa dispondo de mais tempo do que estava previsto (sugeri
quatro anos em vez dos três anos apontados) ouvi uma resposta que sugeria mais
ou menos o seguinte: não garantimos que a resposta a essa questão pudesse ter
sido positiva, mas é demasiado tarde sequer para a suscitar". Coelho
explica porque não voltou mais à questão depois de chegar ao poder: "Uma vez que o prazo era o que era e
modificá-lo corresponderia a uma alteração significativa que obrigaria, na
prática, a ter um segundo programa, decidi, como primeiro-ministro, que seria
contraproducente seguir essa abordagem ulteriormente". Reconhece que
gostaria que o envelope financeiro negociado com a tróica tivesse sido superior
de forma a incluir uma verba para o sector empresarial do Estado. "Esta sim, parece-me ter sido a grande
deficiência associada à estrutura financeira do Programa".
O
problema não reside nestas piruetas tontas e fora de tempo que, apesar disso,
provam que as eleições e a campanha eleitoral de Junho de 2011, foram um dos
maiores embustes da democracia portuguesa, cuja verdade está ainda por revelar.
O que é absolutamente idiota, mas não surpreende - porque há coisas que são o
reflexo da mediocridade e de que as protagonizam - é que aquele que aos olhos
dos cidadãos é cada vez mais uma espécie de "adjunto"
de Gaspar na liderança do governo de coligação de Lisboa, tenha insistido
sempre na tese de que o programa negociado por Sócrates era o seu programa
político e governativo, que nunca tivesse posto em causa, nem antes, nem
durante, nem depois da campanha eleitoral, o seu desenho por eventualmente não corresponder
às
nossas necessidades. Pelos vistos fê-lo tardiamente, provavelmente porque
falharam todas as previsões a que se junta o facto de todos os sucessivos
défices das contas públicas, de 2011 e 2012, terem ficado muito acima do
previsto.
O
que os portugueses percebem hoje, perante esta confissão tardia, é que este
programa de ajustamento financeiro da tróica, negociado pelo governo
socialista, demissionário e de gestão, de Sócrates, que também estava empenhado
no acto eleitoral de 2011, não correspondeu, desde a sua génese, às reais necessidades do nosso país, devido ao facto de ter
sido mal negociado com a tróica e pior desenhado em várias das suas
componentes.
Porque
demorou Coelho tanto tempo a reconhecer isso? Porque não teve a honestidade e a seriedade ética de reconhecer
o fracasso e o falhanço deste programa? Porque sentiram necessidade, por
cobardia, de arranjar culpados, preferencialmente estranhos a esta maioria no
poder em Lisboa, quando esta foi cúmplice de todo o processo? E
porque razão não reconheceram atempadamente os erros agora apontados, na medida
em que o PSD foi um dos três partidos que, sabujamente, subscreveram o
programa, repito, negociado pelo governo socialista de Sócrates, quando na
realidade já estavam a pensar mais nas eleições do que no país? Será que alguém se lembra de Coelho
ter nessa altura perorado fosse o que fosse sobre o referido programa de ajustamento
ou chamado a atenção para os dois itens - mais tempo e mais dinheiro - que o
próprio agora suscita? Isto independentemente do
facto de não sabermos se esta confissão tardia corresponde ou não à verdade.
Perante mais este facto, será que alguém duvida que
as eleições de Junho de 2011 resultaram de um embuste que assentou na
mais asquerosa manipulação, na mentira, na aldrabice generalizada, nas pressões
e numa bandalhice discricionária sobretudo por parte de um gangue, e respectiva
"entourage", que queria o poder a todo o
custo e dele se apoderou graças à inadvertida cumplicidade das bases de um partido subjugado e
neutralizado? Um partido que comemorou há dias o seu 39º
aniversário de uma forma tão "excitante" como o demonstraram as imagens na
televisão da jantarada no Pombal. Só faltou vermos o Coelho – nem sei se se
atreveu a tanto – falar em Sá Carneiro… Aliás, já no 1 de Maio tinha sido
vergonhosa aquela encenação patética montada propositadamente para que Coelho
falasse a "trabalhadores". Dessa encenação ridícula
ficou, pelas imagens televisivas e relatos na comunicação social, uma sala quase vazia, sem entusiasmo, sem bandeiras,
sem trabalhadores, sem nada.
Mas para que se perceba a mediocridade nos corredores
do poder lisboeta, limito-me a transcrever uma notícia publicada este fim-de-semana
num jornal nacional, que julgo dispensar mais comentários, sobretudo quando se
reclama a necessidade de carácter, de seriedade, de rigor e de ética na
política: "O economista e ex-dirigente do PSD Nogueira Leite
considera que ninguém na equipa de Vítor Gaspar domina a máquina da
administração pública. O actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho,
convidou António Nogueira Leite para ser o presidente executivo da CGD e uma
semana depois cancelou o convite sem dar qualquer justificação”. A informação é
revelada pelo próprio Nogueira Leite em entrevista ao Público, e na qual
reconhece: “Cometi um erro [ao aceitar integrar a administração da CGD, como
vice-presidente]". O
economista explica ainda as razões que o levaram, no final de 2012, a
afastar-se do banco público: “Sou um
profissional e não queria ter a minha reputação profissional arruinada por
estar numa situação difícil e com um accionista [a Direcção-Geral do
Tesouro/Finanças] que não sabia o que queria”.
Achei vergonhosa a forma desumana, fria, autoritária e
algo fascizante como Coelho anunciou mais medidas de austeridade, nomeadamente
os famosos cortes da despesa pública do Estado, os tais que só seriam propostos
e aprovados depois de um debate da sociedade civil sobre esse tema. Debate? Deixe-me rir. Isto é cada
vez mais do mesmo, um retomar do estilo totalitário próprio de regimes fascistas
ou próximo disso, como é o caso.
Tenho para mim que Coelho sabe que os portugueses acham
que ele já não passa de uma espécie de nº 2 deste cada vez mais desprezível
governo de coligação de Lisboa. Porque na realidade, aos olhos dos cidadãos quem
manda e quem impõe decisões neste governo não é ele, mas antes sim o cobrador
de impostos Gaspar, um bem comportado e elogiado funcionário dos adeptos
europeus da austeridade, subserviente manso dos credores e da banca europeia e
fiel seguidor da Alemanha e do sinistro ministro das finanças Wolfgang
Schauble. Coelho, lamentavelmente, voltou a evidenciar toda a hipocrisia, a mentira e a
patética manipulação propagandística em que assentam muitas das suas
intervenções públicas.
Lamentavelmente este nº 2 do governo de coligação de Lisboa recorreu de
novo à bandeira demagógica do falso não
aumento dos impostos, mentindo e enganando descaradamente, e uma vez mais, os
portugueses. Porque se esqueceu de dizer que vai aplicar impostos aos
reformados e pensionistas, que vai roubar nos salários dos portugueses, que vai
reduzir os rendimentos disponíveis de milhares de famílias e de milhares de
desempregados - e nem faço alusão aos 30 mil funcionários públicos que serão
despedidos - que vai empobrecer os reformados e pensionistas, graças a uma
política bandalha e sem desculpa, mesmo que seja o reflexo da imagem deste
poder que destrói o país e cava clivagens sociais que podem ser profundas e graves
e que temo possam transformar-se no rastilho de uma contestação social que abra
caminho à revolta violenta. Assim não! " (LFM-JM)