terça-feira, maio 07, 2013

Opinião pessoal: "Trapalhada & trapalhões"



"Soube-se esta semana que Coelho, quando ainda era líder da oposição, terá pedido mais tempo e dinheiro à tróica para o programa de resgate português. A revelação foi feita pelo próprio no prefácio de um livro de um deputado: "Parecendo-me que ganharíamos segurança na execução do Programa dispondo de mais tempo do que estava previsto (sugeri quatro anos em vez dos três anos apontados) ouvi uma resposta que sugeria mais ou menos o seguinte: não garantimos que a resposta a essa questão pudesse ter sido positiva, mas é demasiado tarde sequer para a suscitar". Coelho explica porque não voltou mais à questão depois de chegar ao poder: "Uma vez que o prazo era o que era e modificá-lo corresponderia a uma alteração significativa que obrigaria, na prática, a ter um segundo programa, decidi, como primeiro-ministro, que seria contraproducente seguir essa abordagem ulteriormente". Reconhece que gostaria que o envelope financeiro negociado com a tróica tivesse sido superior de forma a incluir uma verba para o sector empresarial do Estado. "Esta sim, parece-me ter sido a grande deficiência associada à estrutura financeira do Programa".
O problema não reside nestas piruetas tontas e fora de tempo que, apesar disso, provam que as eleições e a campanha eleitoral de Junho de 2011, foram um dos maiores embustes da democracia portuguesa, cuja verdade está ainda por revelar. O que é absolutamente idiota, mas não surpreende - porque há coisas que são o reflexo da mediocridade e de que as protagonizam - é que aquele que aos olhos dos cidadãos é cada vez mais uma espécie de "adjunto" de Gaspar na liderança do governo de coligação de Lisboa, tenha insistido sempre na tese de que o programa negociado por Sócrates era o seu programa político e governativo, que nunca tivesse posto em causa, nem antes, nem durante, nem depois da campanha eleitoral, o seu desenho por eventualmente não corresponder às nossas necessidades. Pelos vistos fê-lo tardiamente, provavelmente porque falharam todas as previsões a que se junta o facto de todos os sucessivos défices das contas públicas, de 2011 e 2012, terem ficado muito acima do previsto.

O que os portugueses percebem hoje, perante esta confissão tardia, é que este programa de ajustamento financeiro da tróica, negociado pelo governo socialista, demissionário e de gestão, de Sócrates, que também estava empenhado no acto eleitoral de 2011, não correspondeu, desde a sua génese, às reais necessidades do nosso país, devido ao facto de ter sido mal negociado com a tróica e pior desenhado em várias das suas componentes.

Porque demorou Coelho tanto tempo a reconhecer isso? Porque não teve a honestidade e a seriedade ética de reconhecer o fracasso e o falhanço deste programa? Porque sentiram necessidade, por cobardia, de arranjar culpados, preferencialmente estranhos a esta maioria no poder em Lisboa, quando esta foi cúmplice de todo o processo? E porque razão não reconheceram atempadamente os erros agora apontados, na medida em que o PSD foi um dos três partidos que, sabujamente, subscreveram o programa, repito, negociado pelo governo socialista de Sócrates, quando na realidade já estavam a pensar mais nas eleições do que no país? Será que alguém se lembra de Coelho ter nessa altura perorado fosse o que fosse sobre o referido programa de ajustamento ou chamado a atenção para os dois itens - mais tempo e mais dinheiro - que o próprio agora suscita? Isto independentemente do facto de não sabermos se esta confissão tardia corresponde ou não à verdade.

Perante mais este facto, será que alguém duvida que as eleições de Junho de 2011 resultaram de um embuste que assentou na mais asquerosa manipulação, na mentira, na aldrabice generalizada, nas pressões e numa bandalhice discricionária sobretudo por parte de um gangue, e respectiva "entourage", que queria o poder a todo o custo e dele se apoderou graças à inadvertida cumplicidade das bases de um partido subjugado e neutralizado? Um partido que comemorou há dias o seu 39º aniversário de uma forma tão "excitante" como o demonstraram as imagens na televisão da jantarada no Pombal. Só faltou vermos o Coelho – nem sei se se atreveu a tanto – falar em Sá Carneiro… Aliás, já no 1 de Maio tinha sido vergonhosa aquela encenação patética montada propositadamente para que Coelho falasse a "trabalhadores". Dessa encenação ridícula ficou, pelas imagens televisivas e relatos na comunicação social, uma sala quase vazia, sem entusiasmo, sem bandeiras, sem trabalhadores, sem nada.

Mas para que se perceba a mediocridade nos corredores do poder lisboeta, limito-me a transcrever uma notícia publicada este fim-de-semana num jornal nacional, que julgo dispensar mais comentários, sobretudo quando se reclama a necessidade de carácter, de seriedade, de rigor e de ética na política: "O economista e ex-dirigente do PSD Nogueira Leite considera que ninguém na equipa de Vítor Gaspar domina a máquina da administração pública. O actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, convidou António Nogueira Leite para ser o presidente executivo da CGD e uma semana depois cancelou o convite sem dar qualquer justificação”. A informação é revelada pelo próprio Nogueira Leite em entrevista ao Público, e na qual reconhece: “Cometi um erro [ao aceitar integrar a administração da CGD, como vice-presidente]". O economista explica ainda as razões que o levaram, no final de 2012, a afastar-se do banco público: “Sou um profissional e não queria ter a minha reputação profissional arruinada por estar numa situação difícil e com um accionista [a Direcção-Geral do Tesouro/Finanças] que não sabia o que queria”.

Achei vergonhosa a forma desumana, fria, autoritária e algo fascizante como Coelho anunciou mais medidas de austeridade, nomeadamente os famosos cortes da despesa pública do Estado, os tais que só seriam propostos e aprovados depois de um debate da sociedade civil sobre esse tema. Debate? Deixe-me rir. Isto é cada vez mais do mesmo, um retomar do estilo totalitário próprio de regimes fascistas ou próximo disso, como é o caso.

Tenho para mim que Coelho sabe que os portugueses acham que ele já não passa de uma espécie de nº 2 deste cada vez mais desprezível governo de coligação de Lisboa. Porque na realidade, aos olhos dos cidadãos quem manda e quem impõe decisões neste governo não é ele, mas antes sim o cobrador de impostos Gaspar, um bem comportado e elogiado funcionário dos adeptos europeus da austeridade, subserviente manso dos credores e da banca europeia e fiel seguidor da Alemanha e do sinistro ministro das finanças Wolfgang Schauble. Coelho, lamentavelmente, voltou a evidenciar toda a hipocrisia, a mentira e a patética manipulação propagandística em que assentam muitas das suas intervenções públicas.

Lamentavelmente este nº 2 do governo de coligação de Lisboa recorreu de novo à bandeira demagógica do falso não aumento dos impostos, mentindo e enganando descaradamente, e uma vez mais, os portugueses. Porque se esqueceu de dizer que vai aplicar impostos aos reformados e pensionistas, que vai roubar nos salários dos portugueses, que vai reduzir os rendimentos disponíveis de milhares de famílias e de milhares de desempregados - e nem faço alusão aos 30 mil funcionários públicos que serão despedidos - que vai empobrecer os reformados e pensionistas, graças a uma política bandalha e sem desculpa, mesmo que seja o reflexo da imagem deste poder que destrói o país e cava clivagens sociais que podem ser profundas e graves e que temo possam transformar-se no rastilho de uma contestação social que abra caminho à revolta violenta. Assim não! " (LFM-JM)