"Lord Winston revelou que não
gosta de contratar pessoas que, na universidade, tenham tido a classificação de
"Muito Bom/Excelente".
Diz que prefere escolher pessoas que
se ficaram pelo "Bom", isto é, que não passaram o tempo todo a
marrar. Uma pessoa com horizontes mais amplos será melhor cientista do que um
marrão sem mundo que largou a biblioteca.
Li isto e rejubilei. Como faço parte
do grupo preferido de Lord Winston, digo-vos que as suas palavras são de grande
sabedoria. É animador... mas será verdade? Para tirar isso a limpo, enviei um
‘mail' descarado a 40 colegas do FT que ocupam cargos sénior a pedir que
partilhassem a sua nota final na universidade. Os resultados não foram bem os
que eu esperava.
O FT está cheio de gente que Lord
Winston jamais recrutaria: perto de metade dos inquiridos tiveram "Muito
Bom/Excelente". Não é uma propriamente uma surpresa. O que é surpreendente
é quem tem essa classificação e quem não tem. Esqueçam que tive mais que tempo,
décadas para ser sincera, para avaliar a inteligência dos meus colegas - as
previsões foram um fiasco. Só acertei nos casos mais óbvios.
Esta experiência mostra que aqueles
que tiveram a melhor classificação não são, em média, melhores ou piores
jornalistas que os que tiveram "Bom". Diria que há uma ligeira
tendência - embora possa estar a puxar a brasa à minha sardinha - para os que
tiveram "Bom" se destacarem pela originalidade e sentido de humor,
enquanto os Muito "Bom/Excelente" tendem a ser mais consistentes e
rigorosos - mas só muito ligeiramente.
Mesmo não sendo um cientista famoso,
posso dizer que é necessário reunir três coisas para ter uma boa nota final:
trabalho árduo, inteligência e, num segundo plano, sorte. Resumindo, a
brilhante nota final pode ser o resultado de uma de três hipóteses: marranço,
cabeça ou acaso - e todas elas são diferentes.
O mesmo se aplica aos outros. No meu
caso, obtive um vergonhoso (suado e marrado) Bom, passei horas e horas na
biblioteca, um pouco menos no ‘pub' e o resto do tempo fiquei enfiada no
quarto. Não tinha outros interesses nem horizontes amplos, apesar de no
primeiro ano ter dado aulas de tricô a não licenciados. Assim sendo, represento
o pior de todos os mundos para Lord Winston: faço parte do grupo de marrões com
vistas curtas que, ainda por cima, não conseguiu acabar o curso com "Muito
Bom". E depois? Tornei-me uma excelente funcionária.
O mais interessante nas respostas não
foi a classificação que obtiveram, mas a forma como responderam à minha
pergunta. A primeira relação que pude estabelecer foi entre a média final e a
celeridade na resposta. Quanto melhor a nota, mais rápida a resposta. Isto não
se explica apenas pelo facto de sermos jornalistas inseguros. Esta obsessão com
a nota de fim de curso é uma falha de carácter nacional, particularmente
acentuada nas pessoas que frequentaram Oxford e Cambridge. Há uns dias entrevistei
o Arcebispo de Canterbury e também ele sentiu a necessidade de me dizer que
pouco fizera para merecer a nota com que terminou Cambridge, o tal famigerado
"Bom".
Percebo agora o absurdo que foi perder
tempo a discutir isto. Desde que concluiu os seus estudos, o Arcebispo tem dado
provas da sua inteligência diariamente. O mesmo posso dizer de mim e de todos
os outros. Apesar disso, continuamos amarrados a uma semana de exames que
fizemos há dez, 20, 30 ou 40 anos. É de loucos. Mas posso imaginar porquê:
a) para
a maioria das pessoas, a nota final de curso foi a última vez que tiveram uma
classificação objectiva;
b) ninguém lhes pode tirar isso;
c) o sistema de
classificação das universidades britânicas é estúpido.
Perante isto, os empregadores terão de
escolher entre aqueles que continuam a remoer sobre a nota final de curso e os
que estão convencidos de que receberam um atestado de inteligência vitalício
por terem tido "Excelente". Uma amiga que gosta de recrutar
estagiários diz que evita os que têm grandes notas: "A opinião que têm
acerca da sua inteligência provavelmente é muito diferente da minha".
Apesar disso, não se põe a inventar regras rígidas sobre o assunto. Encontrar a
pessoa certa é de tal forma difícil que a única coisa sensata que podemos fazer
é não ter regras. Não contratar pessoas com excelentes notas é quase tão
absurdo como não contratar homens com bigode (texto de Lucy Kellaway, tradução
de Ana Pina, publicado no suplemento Outlook do dia 17 de Maio, Económico
com a devida vénia)