terça-feira, maio 21, 2013

A receita varia pouco, mas os números do governo e do FMI não batem certo...



Escreve a jornalista do Jornal I, Ana Suspito, que "o polémico relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) com propostas para a reforma do Estado, conhecido em Janeiro deste ano, acabou por se revelar um guião importante na concepção das medidas já apresentadas pelo governo no quadro da estratégia de consolidação orçamental até 2015. Mas se o guião até agora conhecido, e do qual ainda falta explicar muito, se inspira no documento do Fundo, já as contas ao impacto das medidas apresentadas nas duas versões pouco batem certo. Uma das maiores diferenças está na poupança resultante do aumento da idade de reforma para 66 anos. O governo estima 270 milhões, o Fundo fala em poupanças anuais entre 400 e 600 milhões de euros.
Pensões Governo
A convergência entre reformas da Caixa Geral de Aposentações (pensões do Estado) e as da Segurança Social é a medida com maior impacto financeiro no plano de cortes de 4800 milhões de euros. Em 2014, a poupança esperada são 740 milhões de euros, resultante de novas regras no acesso à reforma no Estado, mas também de aplicar as regras da Segurança Social às pensões já pagas no Estado. A queda na despesa com pensões será da ordem de 10%. A rebaptizada contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões é a mais polémica e também mais incerta no plano do governo. A receita estimada com a TSU dos pensionistas é de 436 milhões de euros por ano e aplica-se às reformas públicas e privadas. O governo prevê poupar as pensões mais baixas, mas não revelou o limite. A contribuição extraordinária em vigor é progressiva e apanha pensões a partir dos 1350 euros. A solução do governo para aumentar a idade da reforma de 65 para 66 anos passa por mudar o cálculo do factor de sustentabilidade, que mede a esperança média de vida. A idade legal de reforma continua nos 65, mas para evitar penalizações os novos reformados terão de esperar pelos 66 anos. A poupança estimada com esta iniciativa é de 270 milhões de euros no próximo ano.
Pensões FMI
O relatório do FMI admite que seria necessário um corte de 20% nas pensões da CGA (do Estado) para repor a equidade nas condições e no valor de reforma entre público e privado. Esta redução, face aos números de 2012, traria uma poupança anual de quase 600 milhões de euros. O cenário mais radical do FMI fala em corte generalizado de 20% em todas as pensões com poupança superior a 2 mil milhões. A opção mais moderada admite um corte geral de 15% (que pode assumir a forma de taxa) para valores acima das pensões mínimas, poupando 1500 milhões. Outra protege valores mais baixos, aplica o factor de sustentabilidade a todas as pensões, reduzindo 4% na despesa ou 500 milhões. Esta é a medida sobre a qual mais divergem as estimativas de poupança do FMI e do governo. O Fundo estimava que o aumento da idade de reforma de 65 para 66 anos traria uma poupança anual entre os 400 e os 600 milhões de euros, o que é praticamente o dobro da previsão do governo. O relatório propunha apertar as regras de admissão a pensões, sobretudo para os funcionários do Estado.
Função Pública Governo
A carta que quantifica o impacto das medidas do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) para 2015 prevê que o aumento do horário de trabalho na função pública das 35 para as 40 horas semanais traga uma economia de 204 milhões de euros no primeiro ano de aplicação, em 2014. Em 2015, a poupança subiria para 372 milhões de euros. O objectivo do governo é reduzir 50 mil funcionários públicos até 2015. A maior parte desta redução, 30 mil trabalhadores, não virá da passagem à reforma, mas da saída de trabalhadores do Estado através de rescisões por mútuo acordo e da transferência para a mobilidade especial, como antecâmara do fim do vínculo ao Estado. A combinação das duas medidas trará poupança de 448 milhões em 2014 e 394 milhões em 2015. A anunciada simplificação dos regimes remuneratórios da função pública tem uma tradução óbvia: o Estado vai pagar menos em salários e extras. A medida deverá representar uma poupança de 445 milhões de euros já em 2014 e será alcançada por duas vias: a tabela única de remuneração, 325 milhões de euros, e uma tabela única de suplementos, 67 milhões de euros por ano.
Função Pública FMI
O Fundo Monetário Internacional também aposta no alargamento do horário laboral da função pública. As contas de Janeiro previam que passar para 40 horas semanais traria uma poupança anual de 150 milhões de euros. O valor poderia duplicar caso fosse alargada a duração das aulas no ensino secundário de 45 para 60 minutos. A poupança na massa salarial da educação chegaria a 20%. O intervalo do FMI para poupar na redução da força de trabalho do Estado oscila entre os 795 milhões e os 2700 milhões, não referindo se são valores anuais. O relatório prevê diminuir 10% a 20% dos funcionários públicos – 60 a 120 mil dos actuais 600 mil. As metas são mais ambiciosas, mas o método é o mesmo: mobilidade e rescisões voluntárias. Os cortes incidem em educação, segurança e administrativos pouco qualificados. O FMI parte de um corte permanente da base salarial no Estado de 3% a 7%. Esta fórmula, que substituiria a suspensão dos subsídios de férias e Natal, traria poupanças entre os 325 e os 760 milhões de euros anuais. Um dos caminhos apontados é o da redução das horas extraordinárias, mas também dos suplementos remuneratórios de 20% a 30%, o que daria uma economia anual de 200 a 300 milhões de euros"