1.Parece-me evidente que os portugueses estão com
uma opinião crescentemente hostil relativamente aos políticos e aos partidos,
imagem esta que resulta da austeridade e do facto - aliás reconhecido há dias
por uma deputada - dos governantes e dos parlamentares estarem associados à
aprovação de medidas que penalizam os cidadãos de uma maneira generalizada.
Penso por esta deve ser uma das questões essenciais para que os
cidadãos se sintam motivados e voltem a ter objectivos. Sem esta aposta na
recuperação da imagem dos políticos perante os eleitores, de uma maneira geral
perante a própria sociedade, corremos o risco de assistir ao progressivo
agravamento dessa hostilidade e à consolidação do distanciamento entre uns e
outros.
Numa situação extrema como essa, não nos espantaria que nos
confrontássemos com fenómenos de surgimento de partidos políticos mais
radicalizados, de extrema-direita, com um discurso demagógico e populista, como
acontece já em diversos países europeus.
Na Grécia as autoridades tiveram que travar o partido da
extrema-direita local, Aurora Dourada, que promovia encenações, numa das
principais praças de Atenas, de distribuição de comida e de vales de saúde
pelos cidadãos mais carenciados da cidade, sujeitando-os à ofensa expressa na
utilização da pobreza desses cidadãos desesperados para fins propagandísticos.
A intervenção policial ficou a dever-se não apenas a razões políticas - o
governo grego justificou a decisão por entender que estas realizações
extremistas degradavam ainda mais a imagem do estado e da democracia grega
apostados em recuperar da situação em que se encontram - mas a valores éticos
de respeito pelos cidadãos.
Associado a este fenómeno de contestação dos políticos e dos
partidos políticos - em vários países os chamados partidos tradicionais acabam
por ser fortemente penalizados em eleições - e para além da radicalização
ideológica que engrossa a influência dos partidos mais extremistas, numa
espécie de "vendetta" dos eleitores pelo responsáveis políticos pelo fracasso
das governações que conduziram os países intervencionados a uma austeridade
verdadeiramente criminosa e cega, há a registar o aparecimento de um novo
fenómeno, consubstanciado no reforço eleitoral de partidos políticos
antieuropeístas, que passaram de pouco menos de 2 ou 3 dos votos para valores
da ordem dos 15 a 25 por cento.
Penso que em Portugal não conseguiremos recuperar da depressão
colectiva em que nos encontramos, sem que os políticos e os partidos entendam a
realidade do país em vez de insistirem na teimosia e na cegueira de objectivos
e de metas para satisfazer estrangeiros à custa da pobreza dos cidadãos
nacionais, do desemprego escandaloso, da roubalheira de salários, da
pouca-vergonha da emigração imposta aos jovens licenciados, da gatunagem
governativa aos reformados e pensionistas, dos dramas sociais, do pagamento de
juros agiotas para encher a pança de uns tantos credores endinheirados e
especuladores, que não passam de uma cambada de bandalhos, habituados a viver à custa da desgraça alheia em grande medida devido à
falta de uma regulação eficaz e digna desse nome, tubarões estes que encontram
fáceis cumplicidades nos governos destes países mais desgraçados, devido a
desmedidas ambições pessoais de alguns hipócritas incompetentes e aos
incontroláveis desejos de tachos futuros na teia mafiosa que hoje vai
destruindo a Europa. Há mesmo, como acontece na Alemanha, partidos que até
levam mais ao extremo as suas propostas e recomenda a saída do euro dos países
intervencionados, incluindo Portugal.
2.António Lobo Xavier afirmou
recentemente que a entrada da tróica em Portugal resultou da pressão exercida
pelo PSD e pelo CDS-PP. Segundo ele, a chanceler Merkel “não queria uma
intervenção concertada, regulada, com um memorando, todo este aparato formal de
memorando com regras, promessas e compromissos, tudo medido à lupa”. Estas
declarações foram feitas no programa “Quadratura do Círculo” da Sic Notícias,
tendo o histórico do CDS-PP sublinhado que a entrada em Portugal das três
instituições que compõem a tróica foi liderada por um “aprendiz de feiticeiro”,
referindo-se a Passos Coelho. “O aprendiz de feiticeiro é o primeiro-ministro”,
clarificou.
Será que alguém duvida – e tenho repetidamente referido isso aqui
– que o processo político que conduziu às eleições legislativas de Junho de 2011, e que
nada tem a ver com o legado e as patifarias feitas pelos governos socialistas
de Sócrates – a imagem da falência do nosso país e da austeridade que hoje pagamos todos - mas
com o timing escolhido pelo
centro-direita para o despoletar da crise, numa clara cumplicidade com Cavaco
Silva e aproveitando a ânsia de PCP e Bloco por eleições antecipadas, que acabou
por ter efeitos negativos. Será que alguém duvida, aliás como repetidamente
tenho aqui referido, que um dos segredos mais bem guardados da democracia
portuguesa tem a ver com a intriga palaciana, com alegadas traições, com faltas
de palavra, com acordos quebrados unilateralmente, em resumo, com tudo o que se
passou antes da dissolução da Assembleia da República decidida por Cavaco Silva
e que provocou a queda do governo socialista, em Março de 2011, o qual
paradoxalmente acabou por pedir apoio externo, por ir bater à porta da tróica, negociar com ela as condições de
um empréstimo inicial de 78 mil milhões de euros, hoje 81 mil milhões de euros,
porque o país estava falido ou a caminho disso.
No fundo, e é essa a verdade que todos temos o direito de saber, é
o tal debate sobre o que teria sido melhor para o pais e os portugueses: se o memorando de entendimento assinado com a tróica
em Maio de 2011, depois da queda do governo socialista, se o chamado PEC IV que viria a ser rejeitado no
parlamento – deixando o PS isolado contra toda a oposição junta… - e que como é
sabido causou alguma irritação nos nossos parceiros europeus, particularmente
em Merkel (LFM-JM)