Cavaco Silva sabe que depois da derrota eleitoral
autárquica em Setembro, esta coligação no poder, que tem feito um percurso de
dois anos a custa de muita mentira e de aldrabice politica – para não falar, de
novo, no embuste que foi tudo o que se passou com a queda do anterior governo
socialista e com a derrota do PEC IV na Assembleia da República – pode ser
confrontada com o questionamento da sua legitimidade no poder o que implica que
seja questionada a própria legitimidade política e institucional para promover,
como pretende, reformas que não foram submetidas ao veredicto das populações
porque como se tratam de aldrabões nunca as incluíram nos manifestos eleitorais
que apresentaram ao eleitorado em Junho de 2011.
Cavaco sabe que dificilmente este governo cumprirá a
legislatura, havendo mesmo quem garanta que existe um acordo, não se sabe bem
entre quem, garantindo que até Junho de 2014 - altura em que oficialmente a
tróica abandona o pais, mas o programa de austeridade vai prosseguir, e
provavelmente com mais intensidade, dado que deixaremos de contar com o
dinheiro do empréstimo que até lá se esgotará - o executivo de coligação
completamente desacreditado tudo fará para continuar em funções.
O que o que se passou recentemente na Islândia,
culminado com o regresso ao poder do partido de centro-direita - que esteve na
origem da grave crise financeira, orçamental e social que varreu e quase
destruiu aquela ilha - depois de ter promovido uma depuração interna dos
antigos dirigentes e quadros intermédios, é um desfecho possível em Portugal.
Aliás já todos percebemos que é com ele que o PS de Seguro sonha. O problema
dos socialistas é que, ao contrário da Islândia, do anterior governo de
Sócrates, nem ele próprio, foi acusado pela justiça e julgado por
responsabilidades pela dívida do país, e pelo enorme buraco financeiro que
persiste nas contas públicas.
Não deixa de ser paradoxal que o DCIAP ou qualquer
outra instituição da justiça tenha tomado a iniciativa de apurar responsabilidades
quando nos confrontamos, em Março de 2011, com um país falido e sem dinheiro
para pagar fosse o que fosse. Estamos a falar, recordo, de uma dívida calculada
então em cerca de 200 mil milhões de euros. Curiosamente, acabaria por ser um buraco
financeiro de dimensão regional que tanto preocupou o DCIAP, para nem falar no
espalhafato à mistura. Também ainda não sabemos bem se a justiça vai investigar
ou não, nem como, todas as patifarias à volta dos contractos swaps os
quais, podendo ter sido determinantes para garantir financiamento bancário de
empresas e de obras em condições mais vantajosas, tiveram, ou podem tem, um
custo financeiro elevado. Estamos a falar de uma potencial série de
cumplicidades e de conveniências, porventura de compensações financeiras
paralelas, decorrentes da celebração destes contractos. Estamos a falar de
prejuízos potenciais da ordem dos 4 a 5 mil milhões de euros.
Parece-me que as pessoas começam a assimilar que
existe uma impunidade em Portugal que não se coloca nas empresas nem a mais
ninguém. O partido islandês de direita que ganhou há pouco as eleições
legislativas, depois de ter visto dirigentes seus serem substituídos pelos seus
pares e julgados pelos tribunais islandeses, recuperou a confiança dos
eleitores, dois anos depois da crise. O que se passa em Portugal, com o PS, é
exactamente o mesmo, a esperança que estes dois desgraçados anos de austeridade
criminosa, cuja responsabilidade não pode ser dissociada dos recentes anos de
governação socialista e de Sócrates e do legado que nos foi deixado depois
desses seis anos de governação de má memória.
O nosso país é "sui generis" já que,
aparentemente, tudo parece acontecer em contraciclo, contra toda a lógia.
Recentemente, fomos confrontados com uma notícia
publicada num semanário nacional, dando conta que José Sócrates pode ser um
potencial candidato ao lugar de Comissário Europeu na próxima Comissão, a ser
constituída depois das eleições europeias de Maio de 2014, e que certamente
confirmarão uma viragem da Europa à esquerda. Pode ser especulação
jornalísticas, pode ser inclusivamente uma encomenda partidária com claros
objectivos políticos, admito que seja tudo isso, mas a verdade é que essa
notícia se insere declaradamente numa estratégia socialista de branqueamento de
responsabilidades políticas recentes.
Na mesma linha, ouvimos Marques Mendes, qual vendedor
de banha-da-cobra, tentar vender-nos com toda a naturalidade, a pretensa ida de
Gaspar para Bruxelas, lá para Junho de 2014, alegadamente nomeado para o cargo de
comissário europeu pelo actual governo de coligação. Estamos a falar de um dos
ministros mais contestados e desprezíveis de Portugal; estamos a falar
de um tecnocrata que alimenta a ideia de uma patética credibilidade pessoal que
esbarra com uma confrangedora incompetência técnica lamentável, expressa nos
sistemáticos falhanços, uns atrás dos outros, de previsões feitas para
justificar os cenários macro ou microeconómicos e melhor justifiquem a
bandalhice de medidas de austeridade impostas aos cidadãos por decreto, a
contar com a pasmaceira de um povo que, como diz o ditado popular, "ladra,
ladra muito, mas não morde". Grita, grita muito, mas acaba por comer tudo.
Esbraceja, esbraceja muito, mas os governantes fazem dele o que querem e
entendem. Se um dia este poder de Lisboa sentisse a força do povo, talvez o
paizinho do Coelho não tivesse sentido necessidade de vir para a praça pública,
pateticamente, dizer que o filhote está a fazer um frete ao continuar no
exercício de funções públicas e que está desejando de ir-se embora, embora não
tome essa iniciativa. Pelo contrário, já garantiu que nem que perca as eleições
autárquicas, e vai perdê-las, não se vai embora, não larga o tacho, não
abandona o poder, o que desde logo questiona a credibilidade do paizinho babado
que pelos visto se esquece da vaidade, da arrogância e da fome de poder do
filhote. Melhor seria que estivesse calado.
O malabarismo tachista subjacente a esta ideia
peregrina de transformar o incompetente cobrador de impostos Gaspar num
comissário europeu feito à pressão – o que mostra o estado deprimente a que
chegou uma Europa que nunca roçou o esgoto como agora – para além de constituir
um insulto aos portugueses e a todo o sofrimento que eles passaram obrigados
pelo servilhista Gaspar – ainda esta semana, num vergonhoso acto que cobre
Portugal de vergonha, foi a correr bajular o ministro das finanças alemão, sem
qualquer justificação plausível, pois Portugal responde perante a tróica, não
ante Merkel ou a Alemanha – revela bem a dimensão da rafeirada que se apoderou
da Europa nos dias que correm e que estão a conduzi-la para o abismo, quiçá
mesmo para a sua destruição. Porque não há mais valores, não há rigor, não há
ética, não há coerência.
Não podemos permitir mais a ideia de que em Portugal o
crime compensa e que a impunidade política até é sinónimo de distribuição de
tachos milionários. Se assim fosse, não seria demasiado admitir que se Salazar
fosse vivo, corria o risco de ser nomeado Comissário Europeu por este governo
de coligação protofascista de Lisboa… (LFM-JM)