sábado, maio 25, 2013

Passos está cada vez mais isolado no PSD...



Escreve a jornalista do Económico, Inês David Bastos que as "críticas dos barões social democratas a Passos crescem dia após dia. Aparelho está a segurar o líder mas autárquicas podem levar à crise. "O PSD está desanimado [com a governação de Passos] e o próprio aparelho um dia vai reagir e as autárquicas podem ser esse teste". As duras palavras do histórico ministro do PSD Ângelo Correia, tido como o ‘padrinho' político de Passos, espelham o sentimento que cada vez mais é transversal no partido: desagrado face à liderança de Passos, quer no PSD, quer no Governo. Em declarações ao Diário Económico, Ângelo Correia, um dos únicos históricos que esteve ao lado de Passos na sua ascensão, vem agora dizer que o primeiro-ministro "falhou no foco" e na estratégia desde o início, apoiando a critica feita também ontem por Eduardo Catroga: o Executivo "falhou". É entre os notáveis que a oposição a Passos mais se tem manifestado. Nomes como Manuela Ferreira Leite, Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa (ex-líderes), Rui Rio, António Capucho ou Mira Amaral têm vindo a terreiro lançar alertas e críticas. O desagrado tem vindo em crescendo e já começa a ser manifestado nas bases do PSD, com Passos a ficar cada vez mais isolado no partido. E até no Governo. O apoio incondicional a Gaspar e a insistência em algumas medidas (como aconteceu na TSU) e numa agenda mais ideológica têm afastado Passos daquele que era, há dois anos, o seu núcleo duro no Executivo: Miguel Macedo e Paula Teixeira da Cruz. Até de Miguel Relvas, que o lançou para a liderança e ‘controla' o aparelho, Passos se foi distanciando e o ex-ministro acabou por ser forçado a sair do Governo num ambiente tenso com o presidente do PSD.
Até notáveis que sempre tentaram poupar o primeiro-ministro ou suavizar críticas começam agora a endurecer o discurso. Ontem, além de Ângelo Correia, foi Eduardo Catroga quem veio assumir (em entrevista à RR) que Passos "falhou" porque devia ter apresentado o corte permanente na despesa logo no início do mandato. Em declarações ao Diário Económico, o politólogo António Costa Pinto admite que "a popularidade de Passos no interior do partido começa a complicar-se"  Autárquicas vão ser um teste Marques Mendes já chegou a dizer que o Governo "está paralisado e em fim de ciclo" e António Capucho acrescenta ao Diário Económico que a liderança de Passos "está por pinças". Isto é, explica o ex-secretário-geral do partido, "o PSD é hoje um somatório de pequenas oligarquias concelhias e distritais" que "estão a segurar Passos".
O histórico do PSD Pacheco Pereira confirma que há um sector do partido que tem "carreiras profissionalizantes nas estruturas partidárias e do Estado" e que mantém Passos, o que faz com que as críticas dos notáveis tenham mais peso mediático (e de influência) na sociedade do que no partido. Mas também deixa claro que as autárquicas podem trazer_"agitação". Ângelo Correia concorda que é parte do aparelho que segura o líder, mas discorda de Pacheco Pereira sobre o relativo peso dos notáveis. E avisa: "ninguém tem força no aparelho para controlar o estado de espírito" do partido. E este, alerta sem concretizar, poderá dar voz à sua revolta caso se dê um desaire eleitoral nas autárquicas deste ano. As eleições directas no PSD para eleger o novo líder ocorrem em 2014, já depois das eleições locais e por ocasião da saída da ‘troika' de Portugal. Desconhece-se ainda se Passos vai recandidatar-se. Ontem, em declarações publicadas no jornal "i", o pai de Passos Coelho revelava que o chefe do Governo "está morto" por sair do Executivo.
António Capucho revela que, perante o avolumar de críticas e contestação interna, tem dúvidas de que o Governo cumpra o mandato até ao fim (2015). Também ontem, o ex-ministro do PSD Mira Amaral reconheceu que Passos está com "um problema de liderança política". Com a aproximação das autárquicas e a austeridade sem abrandar, as distritais começam a rebelar-se e autarcas de renome como Menezes demarcam-se do Governo.
Barões descontentes com desvio da matriz social-democrata
O facto de Passos ter tentado impor, para lá do memorando da ‘troika', uma agenda liberal (ou "ultraliberal" como dizem alguns) está a ser o maior ponto de tensão no partido. As críticas ao líder por se ter distanciado da matriz social-democrata têm sido muitas e a ‘vaga de fundo' que se começa a criar entre barões tem em grande parte origem nisto mesmo. "Está tudo errado desde o início. Passos quis fazer uma revolução, quis um plano ultraliberal para o país", critica Pacheco Pereira. O distanciamento de Passos face ao PSD, a falta de diálogo com as bases (distritais estão cada vez mais descontentes), a inabilidade na comunicação das medidas ao país e a austeridade excessiva sem haver cortes nas despesas e estímulos à economia são outros focos de tensão. Os barões não concordam com as estratégias seguidas. Santana Lopes disse recentemente numa entrevista à ETV que há outros caminhos que Passos podia escolher.
Manuela Ferreira Leite (que ganhou o primeiro combate com Passos) tem sido uma das principais vozes críticas deste Governo. Já acusou Passos de estar a "destruir" o país, já o acusou de se calar perante a ‘troika' e de impor demasiada austeridade. Marcelo Rebelo de Sousa disse que o Executivo estava "fraquinho, fraquinho" e Marques Mendes avisou que Passos está "paralisado". Rui Rio, desde sempre apontado como o "desejável" sucessor, já disse que Passos tem que "dar mais provas" no corte da despesa.

Quatro perguntas a...António Costa pinto - Politólogo

"Passos começa a sofrer no interior do partido"
Professor de Ciência Política, António Costa Pinto reconhece que os efeitos do programa de assistência começam a pesar na popularidade de Passos Coelho dentro do partido. Mas mais do que isso, Passos começa a gerar desagrado por se ter afastado da matriz social-democrata, tentando ir além do memorando da ‘troika'. Costa Pinto não acredita que se dê uma revolta no partido mas avisa que o PSD tem a capacidade de gerar alternativas rápidas.
Eduardo Catroga juntou a sua voz aos críticos dentro do PSD. Passos está mais isolado?
O processo de ajustamento é muito duro em termos de consequências eleitorais para o PSD. O que pode estar a falhar é a relação entre o primeiro-ministro e o partido, porque o PSD tem a tendência para a governamentalização do partido. Isto vem desde o tempo de Cavaco Silva, não é novo. Tendo em conta os resultados do programa de assistência e a ausência de um projecto reformista, Passos começa agora a sofrer mesmo no interior do partido. Mas o facto de muitos notáveis se estarem a distanciar pode ser bom para o PSD, embora seja mau para Passos Coelho.
Porquê?
Se por um lado é mau para Passos Coelho porque a sua popularidade no interior do partido começa a ser complicada, por outro o PSD sempre nos habituou a mudanças rápidas de liderança, isto é, a ter sempre uma alternativa pensada.
E isso já está a acontecer?
Parece-me que neste momento uma revolta no partido seria complexo porque poria em causa o próprio Governo. As autárquicas podem ser um teste, mas penso que só serão feitas leituras nacionais se o desaire for muito grande, porque estas eleições autárquicas acabam por ser muitas eleições locais.
A agenda própria de Passos, que alguns social democratas dizem ser muito liberal, é um factor de distanciamento de barões?
Passos Coelho assumiu um modelo mais liberal do que era a característica do PSD. É provável que haja uma reacção dos históricos do partido a isso. Mas também considero que seja provável que nesta segunda fase Passos Coelho comece a fazer um discurso em que vá diminuindo essa convicção de um projecto liberalizador efectivo. Ele tentou de facto impor uma agenda mais liberal, para lá do memorando da ‘troika' e o partido está a manifestar o seu desagrado porque quer regressar à sua matriz social-democrata. Pelo menos, alguns dos sectores do partido querem"