"O Presidente da
República reúne hoje os conselheiros de Estado para debater o País depois da
‘troika'. A ideia parece estranha. O Governo está mergulhado numa crise com
dirigentes do CDS a fazerem ameaças diárias nos jornais de rompimento da
coligação.
O
Presidente da República reúne hoje os conselheiros de Estado para debater o
País depois da ‘troika'. A ideia parece estranha. O Governo está mergulhado
numa crise com dirigentes do CDS a fazerem ameaças diárias nos jornais de
rompimento da coligação. A sétima avaliação da ‘troika' foi um longo pesadelo
que permitiu perceber que os tempos do bom aluno acabaram.
Os
credores exigem cortes cada vez mais duros mas os portugueses estão cansados de
austeridade e a força política de Pedro Passos Coelho está a esgotar-se.
Resumindo, querer debater o País depois do Verão de 2014 parece um deliro de
Cavaco Silva quando todos temos a sensação de que a situação social e política
pode rebentar a qualquer momento. Há cada vez mais dúvidas de que o Governo
resista ao Verão quente de contestação social - os professores são os primeiros
a irem para a rua - e à aprovação do Orçamento do Estado para 2014.
Paradoxalmente,
é por isto mesmo que o Presidente da República tem de se preparar para a crise
que aí vem. Desde logo, Cavaco Silva não podia colocar na ordem de trabalhos
deste Conselho de Estado a crise política que marca a actualidade. Seria lançar
petróleo para a fogueira. Seria reconhecer que poderia detonar a bomba atómica
e fazer cair o Governo. Por isto, prefere ouvir a opinião dos conselheiros de
Estado sobre como estará o País daqui a um ano. Na verdade, o debate é
basicamente o mesmo. O Executivo de Pedro Passos Coelho dificilmente resistirá
à saída da ‘troika'. A crise económica e política continuará por cá. O
Presidente da República terá que conhecer as opções em cima da mesa.
A
‘troika' tem todo o interesse em ir embora no Verão de 2014. As próximas
avaliações serão difíceis porque a consolidação orçamental não está assegurada
mas a Comissão Europeia, FMI e BCE necessitam de casos de sucesso para provarem
que as suas políticas fazem sentido. Por isso, vão querer concluir o plano de
intervenção. Até porque não querem um segundo resgate que significaria mais dinheiro
para a economia nacional.
Isto
não significa que Portugal recuperará totalmente a sua independência
financeira. É difícil de acreditar que os mercados vão financiar os mais de 15
mil milhões de euros de dívida anual de médio e longo prazo que a economia
continuará a necessitar a uma taxa de juro comportável para o País. Assim,
continuaremos a necessitar de apoio externo. O Governo já percebeu isso e está
a fazer o caminho, emitindo dívida pública a prazos mais longos, para recorrer
ao mecanismo que está a ser criado pelo Banco Central Europeu. Porém, isso terá
uma factura. O BCE continuará a exigir medidas detalhadas que garantam a
consolidação orçamental e a redução da dívida pública. Conclusão, Portugal
continuará debaixo de um plano de intervenção. Embora,
publicamente tenha uma aparência mais ‘light'.
A
este contexto de pressão externa soma-se uma economia europeia que continuará
depressiva. A recuperação económica estará mais no campo das palavras e dos
desejos. O desemprego tenderá a subir bem para lá da barreira do milhão de
pessoas, bem como o descontentamento e a contestação social. Como se vê, o
Portugal depois da ‘troika' não estará melhor do que hoje. O País não se
transformará num paraíso de um momento para o outro.
Neste
cenário, o Governo de Passos Coelho e Portas e Gaspar estará ainda mais
esgotado mas sem a pressão da ‘troika' que tem garantido os últimos
entendimentos - "a bem ou a mal" - para cumprir as obrigações
internacionais. Na altura, o País estará a exigir outra solução governativa com
mais crédito para negociar com o BCE e com novas ideias para tentar relançar a
economia. Por isto, Cavaco Silva tem razão quando quer começar a perceber hoje
que Governo poderá ter na altura: um saído de eleições antecipadas ou um bloco
central com o PS mas sem Passos e Gaspar?" (texto de Bruno Proença, Económico
com a devida vénia)