domingo, maio 19, 2013

Opinião pessoal: "OCDE E ENCENAÇÕES"

É impressionante toda a hipocrisia montada à volta da forma como a problemática do ajustamento financeiro e orçamental em Portugal é abordada por instituições internacionais, ou pelos seus responsáveis, que muitas vezes revelam, para além da lamentável contradição, um triste desconhecimento da realidade do nosso país, por muito estranho que isso pareça e também muita hipocrisia expressa quer na desvalorização de questões económicas basilares quer ignorando custos sociais gravíssimos decorrentes da execução forçada de certas políticas.
Esta contradição entre declarações avulsas e as decisões que são depois tomadas, isoladamente ou reflectidas em estudos, quer do FMI quer da OCDE, constitui a principal causa do descrédito dessas instituições internacionais e das ameaças que reconhecidamente pairam hoje sobre elas, em termos de credibilidade e da própria democracia, da liberdade e dos direitos dos cidadãos, com particular incidência na Europa. Seria bom que as pessoas seguissem mais atentamente, e comparassem as declarações avulso proferidas pelos responsáveis por esses organismos desacreditados - veja-se o que se passa com a decadente União Europeia, conforme sondagem divulgada esta semana - e as decisões depois tomadas, muitas vezes em total antagonismo com essas declarações isoladas que não passam de idiotices mediatizadas decorrentes da forma ridícula como os responsáveis pelo FMI, pelo Banco Central Europeu, pela Comissão Europeia, pela OCDE, etc. abordam a realidade europeia e mundial e, no caso concreto, os programas de ajustamento financeiro versus impactos sociais e económicos.

Para essas organizações, estamos no bom caminho, e como se as pessoas não passassem de números contabilísticos no apuramento dos défices dos estados, elas ignoram os dramas sociais que ameaçam as sociedades dos países intervencionados e fragilizam a própria democracia política, e que estão particularmente reflectidos no aumento da pobreza, da exclusão social e do desemprego para níveis escandalosos nunca antes vistos.
Era o que faltava que - depois de dois anos de austeridade a níveis nunca antes vistos, sem esquecer a componente de gatunagem descarada nos salários, pensões e reformas, a que se junta o esmagamento de direitos adquiridos, o aumento da pobreza e da exclusão social, o fomento deliberado da emigração, sobretudo dos mais jovens, o aumento da criminalidade, a multiplicação das falências, o endividamento das famílias e das empresas, o ataque aos rendimentos das pessoas, com todas as dramáticas consequências daí resultantes, o escandaloso aumento do desemprego para níveis nunca antes vistos e reflectidos nos mais de 1,5 milhões de pessoas sem emprego - este poder bandalho não apresentasse alguns resultados concretos. Se assim não fosse, parece-me sinceramente - e interrogo-me se muitas vezes se não é isso que começa a fazer falta nestas sociedades europeias afantochadas e alegadamente democráticas - que seriamos inevitavelmente confrontados com a velha questão da definição do conceito justiça popular, que não apenas a justiça eleitoral, como trampolim para que os povos se defendam, reconquistem a dignidade roubada e expulsem todos os bandalhos que se apoderaram do poder usando-o e manipulando-o, não por estarem ao serviço de causas sociais ou pensarem na economia e nos cidadãos, mas ao serviço de projectos ideológicos que roçam o lixo mais indigno das teorias fascistas que iam destruindo a Europa. Sem esquecer outros propósitos e interesses bandalhos e corruptos, mais ou menos camuflados, mas cada vez mais presentes nos circuitos europeus de governação.
Foi lamentável a encenação idiota de Coelho, mais uma, desta vez ontem em Paris, a pretexto da entrega do relatório elaborado pela OCDE a pedido do governo de Lisboa - e desenvolvido de acordo com determinados parâmetros seleccionados e incindindo apenas nalgumas áreas concretas que o governo sugeriu – situação que em meu entender colocou uma vez mais em evidência a hipocrisia destes governantes.
Passos falou de tudo na conferência de imprensa, valorizou os malabarismos à volta dos défices, escondeu que as exportações estão a registar quedas preocupantes e que sobre elas paira uma ameaça de forte retracção, aliás enfatizada pela tróica e pela Comissão Europeia. Passos escondeu sobretudo – apesar de sabermos que a honestidade política há muito que deixou de ser um atributo da sua pessoa, situação que não tem apenas a ver com o vergonhoso embuste e monumental mentira montada para enganar os eleitores, que foi a sua campanha eleitoral em 2011 - os custos sociais verdadeiramente lamentáveis resultantes da execução das suas políticas, não por causa da necessidade das reformas económicas, orçamentais e outras, mas por causa da metodologia fundamentalista adoptada na execução dessas reformas, conjugada com a teimosia agarotada como elas são impostas de forma criminosa ao país.
Repito, esta minha opinião sobre a falta de credibilidade, legitimidade, seriedade, rigor ético e carácter do poder em Lisboa – e não foi por acaso que Marcelo Rebelo de Sousa afirmou domingo na TVI que "as pessoas já não levam Coelho a sério", tal como não creio ser necessário referir-me de novo à palhaçada protagonizada por Portas a propósito da taxa sobre reformas e pensões - nada tem a ver nem com a necessidade de tratarmos de forma consequente e estabilizada do défice crónico das nossas contas públicas, nem com a inevitável redução dos encargos do Estado - independentemente da esquerda partidária na oposição gostar ou não ou insista em fazer demagogia barata e desonesta à volta do tema - para que daí resultem vantagens gerais expressas na redução da carga fiscal absolutamente criminosa que hoje existe em Portugal e que foi imposta por um governo que negou que pretendesse aumentar impostos ou retirar subsídios aos funcionários públicos o que revela, por si só, a integridade dos eleitos ou na redinamização da nossa economia com a consequente criação de emprego (LFM-JM)