sábado, maio 04, 2013

Opinião: " O pouco que resta"




"A Gaspar falta um pouco de tudo. Carece de credibilidade intelectual e evidência empírica (como ele diz) para mostrar resultados. Os números são-lhe quase todos fatais. Carece de força política e firmeza na coligação. Já nem lhe sobram amigos influentes que o mantenham de pé. Há algum empresário ou banqueiro ou gestor relevante que subscreva este trilho suicida? Gaspar queimou quase todas as pontes, deu cabo da confiança, rebentou com o Governo. É espantoso: dois anos incompletos de Passos e a degradação económica e social atingiu o limite sem que o essencial - a reforma do Estado - tivesse sido sequer explicada. Nem uma ideia. Só ameaças, números para o ar, adiamentos. É um governo adiado. Os eufemismos do ministro das Finanças tornaram-se insuportáveis. Diz ele que os juros da dívida estão a cair quando na verdade continua a enfrascar-nos em dívida. Mais uma daquelas conferências de imprensa com o balanço do exame da troika, uma coisa vexatória e lamentável, e mergulhamos de cabeça para uma piscina vazia. 
O raquitismo político não é exclusivo de Gaspar. O mal disto tudo é que parece que vai tudo sempre pior. O que dizer de António José Seguro, o socialista que acha possível passar um congresso inteiro sem falar do essencial: a redefinição do papel do Estado? Nem uma palavra. A reforma do Estado não é só uma obsessão do Governo: é uma urgência, uma inevitabilidade, uma certeza. Resulta perfeitamente possível informar as pessoas do que pode ser feito para corrigir não apenas as contas públicas, mas para libertar a energia e os recursos privados que podem favorecer o crescimento e garantir bons serviços públicos. 
Em vez disto, bandeiras ao ar e música de feira. Tudo martelado. Seguro insulta o País com um discurso recheado de impossibilidades. Acha-se o novo Guterres (o do afeto) sem ter um mindinho da preparação de Guterres e um décimo do dinheiro que havia na altura. Como se sabe aquém, inventou uma troika pessoal para compensar: ele próprio, António Costa e Francisco Assis. Isso Seguro sabe fazer: farejar nos bastidores, dividir o pecúlio. Agora temos o PS três por um. Como é possível dois políticos como Costa e Assis subirem para a caravana? Este PS é o PSD sem o D - só quer chegar ao poder, ao poder que sobrar. 
Duro, catastrofista? Quem me dera. Os desafios de Portugal continuam os mesmos de há dois anos. Ao negar a natureza política dos nossos problemas e ao centrar-se em delírios contabilísticos, o Governo revelou falta de perspectiva e preparação. Nem os ministros conseguem esconder a deceção. A desorientação está à vista. Como não há ideias, restam os inimigos para ir andando: o Estado e as suas empresas, os funcionários públicos, os swaps. Tudo serve para encher o vazio. Estamos cada vez mais nas mãos de Merkel. Isso, sim, é consensual" (texto de André Macedo, DN-Lisboa com a devida vénia)