"A Gaspar falta um pouco de
tudo. Carece de credibilidade intelectual e evidência empírica (como ele diz)
para mostrar resultados. Os números são-lhe quase todos fatais. Carece de força
política e firmeza na coligação. Já nem lhe sobram amigos influentes que o
mantenham de pé. Há algum empresário ou banqueiro ou gestor relevante que
subscreva este trilho suicida? Gaspar queimou quase todas as pontes, deu cabo
da confiança, rebentou com o Governo. É espantoso: dois anos incompletos de
Passos e a degradação económica e social atingiu o limite sem que o essencial -
a reforma do Estado - tivesse sido sequer explicada. Nem uma ideia. Só ameaças,
números para o ar, adiamentos. É um governo adiado. Os eufemismos do ministro
das Finanças tornaram-se insuportáveis. Diz ele que os juros da dívida estão a
cair quando na verdade continua a enfrascar-nos em dívida. Mais uma daquelas
conferências de imprensa com o balanço do exame da troika, uma coisa vexatória
e lamentável, e mergulhamos de cabeça para uma piscina vazia.
O raquitismo político não é
exclusivo de Gaspar. O mal disto tudo é que parece que vai tudo sempre pior. O
que dizer de António José Seguro, o socialista que acha possível passar um
congresso inteiro sem falar do essencial: a redefinição do papel do Estado? Nem
uma palavra. A reforma do Estado não é só uma obsessão do Governo: é uma
urgência, uma inevitabilidade, uma certeza. Resulta perfeitamente possível
informar as pessoas do que pode ser feito para corrigir não apenas as contas
públicas, mas para libertar a energia e os recursos privados que podem
favorecer o crescimento e garantir bons serviços públicos.
Em vez disto, bandeiras ao ar e
música de feira. Tudo martelado. Seguro insulta o País com um discurso recheado
de impossibilidades. Acha-se o novo Guterres (o do afeto) sem ter um mindinho
da preparação de Guterres e um décimo do dinheiro que havia na altura. Como se
sabe aquém, inventou uma troika pessoal para compensar: ele próprio, António
Costa e Francisco Assis. Isso Seguro sabe fazer: farejar nos bastidores,
dividir o pecúlio. Agora temos o PS três por um. Como é possível dois políticos
como Costa e Assis subirem para a caravana? Este PS é o PSD sem o D - só quer
chegar ao poder, ao poder que sobrar.
Duro, catastrofista? Quem me dera.
Os desafios de Portugal continuam os mesmos de há dois anos. Ao negar a
natureza política dos nossos problemas e ao centrar-se em delírios
contabilísticos, o Governo revelou falta de perspectiva e preparação. Nem os
ministros conseguem esconder a deceção. A desorientação está à vista. Como não
há ideias, restam os inimigos para ir andando: o Estado e as suas empresas, os
funcionários públicos, os swaps. Tudo serve para encher o vazio. Estamos cada vez
mais nas mãos de Merkel. Isso, sim, é consensual" (texto de André
Macedo, DN-Lisboa com a devida vénia)