quinta-feira, maio 16, 2013

Opinião: "A minha OCDE é melhor que a tua"



"Uma das coisas boas de ser jornalista durante alguns anos é podermos ver em poucos anos uma coisa e o seu contrário. Hoje, quando via Pedro Passos Coelho, em Paris, ao lado de Angel Gurría na sede da OCDE, veio-me à memória uma imagem do mesmíssimo Angel Gurría em Setembro de 2010 ao lado de Teixeira dos Santos no "nosso" Terreiro do Paço. Nessa altura o governo socialista tentou usar como trunfo a vinda a Lisboa do secretário-geral da OCDE para apresentar um relatório onde se recomendava o aumento da carga fiscal para conseguir o chamado equilíbrio orçamental. Para além de defender o aumento de impostos - o que, na altura, começava a dar imenso jeito a Sócrates e Teixeira dos Santos -, Angel Gurria apelou a um "um forte consenso político" para alcançar a consolidação das contas públicas e considerou "uma injustiça" a pressão dos mercados financeiros sobre Portugal. Música para os ouvidos do PS... e trovões para os do PSD. Não faltou muito para o PSD atacar a OCDE nem para Passos vir dizer que não aceitava um aumento de impostos no Orçamento do Estado para 2011... A crítica mais violenta (e divertida) veio pela voz de António Nogueira Leite, recordando os tempos em que Angel Gurría tinha literalmente deitado as finanças do México ao charco: "são palavras absolutamente inaceitáveis de um senhor que fez parte de um Governo que durante 70 anos teve o México sob mão de ferro, naquilo a que muita gente apelidou da ditadura perfeita, esse senhor de facto não tem nível para estar no lugar que está". O PS achou a crítica indigna e elevou a OCDE aos degraus do Parnaso. O PSD arrasou a organização. Passaram apenas dois anos e meio e o PSD anda abraçado à OCDE e o PS a desqualificá-la. O único que deve ter a mesma opinião sobre Angel Gurría é mesmo o António Nogueira Leite. Vantagens de já não estar na política" (texto de Ricardo Costa, Expresso com a devida vénia)