"Uma das coisas
boas de ser jornalista durante alguns anos é podermos ver em poucos anos uma
coisa e o seu contrário. Hoje, quando via Pedro Passos Coelho, em Paris, ao
lado de Angel Gurría na sede da OCDE, veio-me à memória uma imagem do
mesmíssimo Angel Gurría em Setembro de 2010 ao lado de Teixeira dos Santos no
"nosso" Terreiro do Paço. Nessa altura o governo socialista tentou
usar como trunfo a vinda a Lisboa do secretário-geral da OCDE para apresentar
um relatório onde se recomendava o aumento da carga fiscal para conseguir o
chamado equilíbrio orçamental. Para além de defender o aumento de impostos - o
que, na altura, começava a dar imenso jeito a Sócrates e Teixeira dos Santos -,
Angel Gurria apelou a um "um forte consenso político" para alcançar a
consolidação das contas públicas e considerou "uma injustiça" a
pressão dos mercados financeiros sobre Portugal. Música para os ouvidos do
PS... e trovões para os do PSD. Não faltou muito para o PSD atacar a OCDE nem
para Passos vir dizer que não aceitava um aumento de impostos no Orçamento do
Estado para 2011... A crítica mais violenta (e divertida) veio pela voz de
António Nogueira Leite, recordando os tempos em que Angel Gurría tinha
literalmente deitado as finanças do México ao charco: "são palavras
absolutamente inaceitáveis de um senhor que fez parte de um Governo que durante
70 anos teve o México sob mão de ferro, naquilo a que muita gente apelidou da
ditadura perfeita, esse senhor de facto não tem nível para estar no lugar que
está". O PS achou a crítica indigna e elevou a OCDE aos degraus do
Parnaso. O PSD arrasou a organização. Passaram apenas dois anos e meio e o PSD
anda abraçado à OCDE e o PS a desqualificá-la. O único que deve ter a mesma
opinião sobre Angel Gurría é mesmo o António Nogueira Leite. Vantagens de já
não estar na política" (texto de Ricardo Costa,
Expresso com a devida vénia)