sábado, maio 04, 2013

Francisco de Assis foi a Roma dar a primeira regra franciscana para reconhecimento papal a Inocêncio III, em 1209



"Francisco de Assis saiu de Roma com autorização para pregar sobre a moral, embora devesse abster-se de falar sobre assuntos teológicos, uma vez que não tinha formação nesta área. Só em 1220 recebeu de Inocêncio III uma carta que dava aos franciscanos a categoria de ordem. Por opção, Francisco pregava mais por acções do que por palavras e sabia que o seu comportamento tinha de ser irrepreensível – uma noção que o Papa Francisco parece partilhar com o santo medieval. Poucos dias depois de ser eleito, o novo Pontífice quis pagar a conta da residência onde ficara em Roma antes do conclave que o elegeu, apenas para dar o exemplo.
Nunca se ouviu Francisco criticar ninguém, mas era inflexível para os irmãos de fé. Só tinha uma túnica, de tecido áspero para mortificar a pele. Se ela se estragasse, remendava-a, tal como deviam fazer todos os outros. Os frades eram encorajados a andar descalços ou a calçar sapatos muito humildes, e a usar uma corda à cintura em vez de um cinto. A única peça que podiam trazer debaixo da túnica era um par de ceroulas.
No fim da vida, os outros frades forraram as vestes de Francisco com pêlo de raposa para ele não sentir tanto frio. Zangou-se: não queria ser diferente dos outros. E não descansou enquanto não voltou à mesma túnica de sempre. No dia em que foi eleito Papa, Jorge Mario Bergoglio teve uma atitude parecida: recusou-se a usar a mozeta (capa curta vermelha) com pêlo de arminho. “O Carnaval já passou!”, terá dito, demonstrando que preferia um estilo mais discreto e despojado, e seguindo o exemplo do santo que o inspirou
O rigor de São Francisco não se aplicava apenas ao vestuário: os frades tinham indicações expressas para se afastarem do dinheiro. Viviam de esmolas, mas só podiam aceitar comida ou géneros. E nem pensar em ter propriedades. Quando soube que fora criada uma nova casa para os irmãos em Bolonha, ordenou-lhes que abandonassem o edifício.
Em Assis, Francisco foi ainda mais radical. No regresso de uma viagem, deparou-se com a construção de uma residência quase concluída. Ele próprio subiu ao telhado, arrancou as telhas e atirou-as para o chão, dando indicações aos outros para que o seguissem. Viveu sempre em celas pobres e quase sem condições: já doente, recusou-se a ser colocado em aposentos melhores e continuou a dormir em divisões com ratos e larvas.
O actual Papa deu sinais de que prefere morar em casas modestas ainda na Argentina: em Buenos Aires, quis ficar no seu apartamento de um só quarto e não se mudou para a residência oficial do arcebispo. No Vaticano, fez saber que não tenciona habitar o luxuoso apartamento pontifício nos próximos tempos. Deverá permanecer numa suíte reservada ao Papa na Casa de Santa Marta. É lá que vive com outros clérigos, partilhando com eles o espaço e as refeições.
esta foi, de resto, a norma que Francisco de Assis seguiu. Mesmo depois de ter contraído malária no Médio Oriente, onde passou algum tempo em missão de evangelização, insurgia-se se os irmãos lhe davam caldos de carne especiais para combater a febre alta.
Nos últimos anos, Francisco já tinha fama de santo. Por muito que evitasse ser o centro das atenções, procuravam-no para fazer milagres. E quando se recusava a benzê-los, os fiéis apoderavam-se de objectos em que tinha tocado. Pouco tempo antes de morrer, ajudou a escrever a Regra dos Franciscanos, sem esquecer um princípio fundamental: “Os irmãos nada tenham de seu, nem casa, nem lugar, nem coisa alguma.”
Jamais perdeu a fé, nem mesmo quando os graves problemas nos olhos o obrigaram a ser queimado com um ferro em brasa. Morreu esquelético a 3 de Outubro de 1226. Os irmãos envolveram o seu corpo numa mortalha cinzenta. Menos de dois anos depois, foi canonizado. A Igreja manteve sempre viva a sua memória, mas agora o seu exemplo está mais presente do que nunca, com o novo Papa" (texto da jornalista da Sábado, Rita Garcia, com a devida vénia)