Garantiram-me hoje que Paulo Portas fará hoje uma
declaração que não será nem carne nem peixe. Portas, seguindo as minhas fontes –
que valem o que valem – reafirmará a oposição do CDS ao agravamento da penalização
das reformas e pensões e vai sublinhar que as propostas anunciadas não são
definitivas, incentivando deste modo a que as mesmas sejam alteradas. Embora
não o possa afirmar claramente – porque Portas, segundo as minhas fontes, teme
o CDS fora do governo na actual conjuntura, preferindo as piruetas constantes
na esperança de uma melhoria da situação que acabe politica e eleitoralmente
por beneficiar o seu partido – o líder do CDS deverá condicionar o envolvimento
do CDS nesta coligação, e não fará qualquer jura de fidelidade total ao governo
e ao acordo com o PSD. Há pressões internas para que Portas exija alterações novas
propostas, no que aos reformados e pensionistas dizem respeito, e que essa questão,
entre mais duas outras, terão sido a causa das divergências no conselho de ministros
que as minhas fontes garantem ter sido graves. De facto, dizem os meus
interlocutores muito ligados aos meandros da política lisboeta menos visível
pela opinião pública, se fosse para dar um apoio inequívoco às mexidas anunciadas
por Passos, o CDS já tinha enviado um porta-voz qualquer para o fazer no próximo
dia em que elas foram anunciadas, 6º feira. Embora sem me identificarem as
minhas fontes jornalísticas asseguram que há um ministro do CDS que defende uma
posição radical devido ao facto do partido estar na posse de estudos de opinião,
que não revela, que confirmam uma degradação eleitoral do CDS, proporcionalmente
ainda amais acentuada do que a que penaliza, e muito, o PSD. Portas, dizem-me,
teme que um descalabro eleitoral em Outubro, nas autárquicas, possa ser o rastilho
opara uma revolta interna e que a sua demissão seja exigida por militantes que
têm vindo a distanciar-se da coligação e das medidas propostas por Gaspar que é
na realidade quem manda no governo. Aliás esta situação poderá explicar as
declarações de Passos, ontem no jantar do PSD, recusando emitir-se mesmo que o
seu partido perca, como tudo indica que vai acontecer, as eleições autárquicas
de Outubro. Ninguém percebeu as razões dessa declaração, mas fontes
conhecedoras da instabilidade na coligação sustentam que foi um convite a Portas
para encarar da mesma forma a situação.
Os meus interlocutores insistem na tese, aliás já dei
conta disso em várias ocasiões, que Portas ficou agastado com o facto de quem,
sendo o líder do CDS, parceiro de coligação, e de todos sabermos que sem o CDS
não há coligação nem o PSD é governo, Passos Coelho ter desvalorizado, numa entrevista
televisiva, o posicionamento hierárquico de Portas no governo de uma forma que sectores
internos do CDS classificaram de provocatória e desnecessária. Aliás, numa
reunião política do CDS posterior a essas declarações vários dirigentes
lembraram que apesar da força e da influência que o anterior ministro das finanças,
Teixeira dos Santos, tinha no governo socialista e sobretudo junto de Sócrates,
nunca aconteceu nada semelhante.
Finalmente as minhas fontes garantem-se que Portas ficou agastado
quando depois da crise política que chegou a colocar em causa a continuidade do
governo, Passos Coelho tenha solicitado uma audiência a Cavaco Silva fazendo-se
acompanhar apenas do ministro Gaspar, deixando de parte o líder do parceiro de
coligação, Portas, que ficou em Lisboa propositadamente tendo mesmo cancelado
uma deslocação a países árabes. Portas garante que foi um acto de indelicadeza
e de provocação deliberada de Passos ao CDS havendo quem associe esse facto a ausência
de Portas da posse dos novos ministros. A ver vamos…