terça-feira, setembro 05, 2023

Opinião: O significado (e utilização) das festas partidárias


Durante anos, percebi que não faltavam os que achavam que as festas dos partidos influenciavam os eleitores madeirenses. No caso do Chão da Lagoa - e depois quando o PS regional começou a realizar festas na serra, agora transferidas para a Madalena do Mar, acredito que por razões de logística, na medida em que facilita o acesso das pessoas e também porque, não sendo um espaço de grandes dimensões, é mais fácil "vender" midiaticamente as imagens da iniciativa.

Lembro-me que não era fácil, diria que era uma batalha quase inglória, neutralizar essas análises que pecavam por optimismos exagerados, que associavam votos à afluência registada. Mas quando se recomendava que olhassem, "com olhos de ver", para os resultados eleitorais, logo essas ideias estapafúrdias mudavam de figura e tudo voltava ao normal.

Repito e insisto: as festas partidárias - que representam sempre um investimento financeiro avultado por parte dos partidos organizadores que usam apenas os seus recursos nestas iniciativas - não são determinantes para influenciarem as votações dos partidos nas eleições regionais. E quem persistir no erro de achar que sim, então deve juntar-se rapidamente ao pequeno lote dos que ainda acham que o Pai Natal nos visita todos os anos a 25 de Dezembro! Mas que são livres de acreditarem nisso…

Lembro-me que, no caso da Festa do PSD-Madeira, pelo menos quando ela realizou no planalto do Chão da Lagoa, a organização até tinha montado um esquema eficaz, coordenado por um ex-deputado regional e com vários outros colaboradores, que lhe permitia controlar os acessos de viaturas ao local - autocarros, viaturas ligeiras, carrinhas, motociclos – par a que tivesse, através de uma projecção realista e assente  nesse movimento nos acessos ao local, uma ideia aproximada da afluência.


Eu explico.

As festas partidárias valem o que valem e nelas os partidos são apenas as entidades organizadoras e nada mais que isso. As festas partidárias são sempre festas de Verão numa terra que gosta de festas, que mobiliza facilmente as pessoas para acontecimentos festeiros desde que tenham animação e comes-e-bebes. Muitos são aqueles que marcam presença pelo convívio, pelo divertimento, para estarem com amigos e familiares, pela alegria que as festas propiciam, sejam elas organizadas por quem for. Eu conheci ao longo dos anos que estive ligado à organização muita gente que ia a todas as festas dos partidos e garantiam que em nada isso alterava ou influenciava as suas opções eleitorais. Os partidos fazem um esforço enorme - veja-se os casos do PSD e do PS - para contratarem conhecidas figuras do universo musical nacional, preferencialmente interpretes populares, porque esses cartazes, por si só, garantem afluências. Nem precisamos de exagerar na publicidade. Os discursos políticos são uma parte pouco relevante - diria mesmo um intervalo - nestas iniciativas e regra geral as intervenções políticas estão a pensar mais na cobertura mediática e não propriamente em lavar o juízo dos presentes - e são muitos - que se estão borrifando para esse momento político numa festa popular.

Por isso, e durante anos isso verificou-se no caso do PSD-Madeira, os discursos não podiam cair na banalidade do "mais do mesmo". Para que aquele momento ganhasse alguma cobertura mediática pretendida, tínhamos que ter "bocas" fortes, polémicas que marcassem facilmente espaço na agenda política do dia e suscitassem discussão e análises fora daquele espaço e daquele momento. Obviamente que no caso da Festa do PSD-Madeira, uma parte significativa dos presentes eram (continuam a ser) simpatizantes e militantes social-democratas, alguns deles provavelmente nem votam, caso dos emigrantes e dos estudantes universitários fora da RAM.

O papel mobilizador e organizador das estruturas partidárias ao nível das freguesias e dos concelhos, sempre foi (presumo que continua a ser) fundamental, sem esquecer outras estruturas como a JSD, cujo envolvimento foi crescendo ao longo dos anos, dos TSD e dos Autarcas social-democratas. Reconhecidamente não há festas populares organizadas por partidos políticos que não sejam abertas a quem lá comparece, porque são festas que se realizam em espaços públicos, sem controlo de entradas, logo abertas a militantes, simpatizantes e eleitores em geral que não são forçados a serem eleitores dos partidos promotores.

Uma nota final: sempre que fui ao Chão da Lagoa recusei estar no palco. E quem disser que me viu por lá uma vez que fosse, mente com quantos dentes tem! Respeito todos aqueles que acham que precisam de marcar presença, porque acham que precisam de ser vistos e, para isso, acham que devem estar no palco por ocasião dos discursos políticos, repito, alegadamente para serem vistos pelos "seus" e porque eventualmente esse momento lhes dá uma importância e uma visibilidade partidária que, não estando no palco, não seria materializável. Lembro-me que era sempre uma "guerra" porque havia quem lá fosse apenas para estar no palco no momento dos discursos, alguns até escolhiam cautelosamente o local, e rapidamente "desaparecia" do recinto quando esse momento terminava. Mas não tenhamos ilusões, isto acontece com todos os demais partidos, seja o PS-M na Madalena do Mar ou o PCP na Quinta da Atalaia no Seixal, sejam os partidos todos quando promovem acções políticas filmadas pelas televisões ou fotografadas pelos jornais. E neste domínio eu sempre defendei, e mantenho, que Bloco de Esquerda e PCP são mestres na preparação dos cenários, incluindo adoptando um esquema de rotatividade de figurantes que apenas marcam presença nessa acções políticas, sejam elas nas campanhas eleitorais ou não. (LFM)

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