Continuo sem perceber o que se passa com o
Lidl e aquilo que parece ser um segundo falhanço na intenção (factual ou
teórica?) a sua implantação - muito bem-vinda - na Madeira. Quanto à primeira
tentativa, até sei bem o que se passou, o que aconteceu, quem foram, os
protagonistas de uma
“guerra surda" que chegou a ser
preocupante e que teve como epicentro o pavor da concorrência perante a chegada
do grupo alemão. Foi um tempo de muitos desesperos, lembro-me muito bem, diria
mesmo um tempo perturbador para alguns!
Agora, depois da formalização da aquisição
dos terrenos para a implantação das lojas, confesso que não entendo o que se
passa ou o que se passou. Os madeirenses continuam sem entender. Em primeiro
lugar o Lidl anunciou a compra, como referi, de alguns terrenos no Funchal,
anunciou o recrutamento e formação de pessoas para trabalharem no grupo, foi o
Lidl a emitir comunicados de imprensa dando conta de tudo isso, foi o Lidl que
anunciou datas para a dinamização do projecto e abertura de lojas na Madeira,
etc.
No caso da Madeira estamos a falar de um
2023 decisivo, para um investimento da ordem dos 100 a 120 milhões de euros e a
contratação de 150 a 170 pessoas. Até foi revelado que as compras a fornecedores madeirenses,
comerciais e de serviços, chegariam a 20 milhões de euros anuais.
Erros e excessos…
Depois, parece que tudo isso encalhou, mal, na tal loja no largo da Cruz Vermelha que, verdade seja dita, nunca deveria sequer ter sido pensada. Aliás, a dada altura, considerando eu a realidade regional e a dimensão do nosso mercado, pareceu-me que havia uma certa megalomania no projecto de entrada do Lidl na Madeira, melhor dizendo, no Funchal, chegando-me a parecer que estava alucinadamente apostado até em querer “dar cabo” da concorrência. As grandes cadeias de supermercados abrem grandes lojas no centro das cidades, construídas de raiz para esse efeito, em que país? Na Alemanha? Em Portugal? Não me lixem. Aproveitando construções privadas, residenciais ou comerciais e conciliando isso com a localização das mesmas, abrem lojas.
Novos projectos
No caso do Funchal o Pingo Doce anunciou
nova loja em Santo António, um grupo continental anunciou a intenção de se
implantar no Funchal, sei que o grupo espanhol Mercadona estudou a possibilidade
do mesmo e o Continente prepara-se para abrir uma nova loja no rés-do-chão de
um moderno e novo edifício residencial, frente ao antigo Hotel Madeira Palácio,
na estrada Monumental, curiosamente a poucos metros da localização daquela que
seria uma das supostas lojas do Lidl segundo creio! Há algo de estranho, muito
estranho, que não bate certo neste aparente segundo fracasso ou segunda
desistência - escolham como quiserem - neste diabolizado processo de
implantação da cadeia Lidl a RAM.
E por isso, acho que os madeirenses estão atónitos, estão ainda mais incrédulos
quando se confrontam nas redes sociais com muita especulação, manipulação e
mentira q.b. - aliás o costume quando se fala em redes sociais e na sua
libertinagem desregulada - em torno da absurda
insistência do Lidl - teimosia ou algo mais?! - numa loja no centro da cidade
do Funchal, quando é sabido que as pessoas vivem na periferia da cidade, que não aguentaria,
perante o caos que já hoje caracteriza o trânsito automóvel urbano, mais um
espaço comercial de grandes dimensões baralhando ainda mais a deprimente
realidade, sobretudo em horas de ponta.
E logo no Largo da Cruz Vermelha que é reconhecidamente um dos pontos
mais críticos na circulação automóvel no Funchal, devido à sua ligação a vários
eixos de entradas/saídas.
Mas o falhanço que originou essa realidade,
essa falta de visão e antecipação do crescimento da cidade não é de agora, tem origem
no passado recente da capital quando se foram construindo rotundas ao acaso,
sem perceberem que, tal como fez Braga e outras cidades continentais, era
possível fazer rotundas e ao mesmo tempo construir viadutos nessas rotundas com
várias escapatórias para o tráfego, aumentando assim a fluência circulatória.
Cruz Vermelha, o nó junto ao Laboratório/GAG 2 de acesso à Via Rápida, em São
Martinho e a Quinta Magnólia são disso exemplos de que as coisas foram mal
planeadas e pior pensadas. Basta que passem por lá todos os dias e já nem
apenas nas chamadas horas-de-ponta do tráfego!
Os funchalenses queriam (querem) o Lidl na
sua cidade e nas suas opções de escolha, a cidade precisa do Lidl com
qualidade, devidamente dimensionado e que seja uma verdadeira alternativa
concorrencial.
Crise na Alemanha trava?
Não excluo, mas não excluo mesmo, que
alguém tenha falhado, no próprio grupo, toda esta planificação estratégica,
sobretudo na previsão da dimensão dessa presença do grupo na RAM, quer na errada
valorização de uma loja citadina que seria, pelo que tudo indica, o epicentro
de uma intenção falhada. Será que falhou mesmo?
Diz-me pessoa amiga, ligada à economia e às finanças e com conhecimentos que sustentam a minha confiança na sua opinião, que não podemos dissociar o falhando (?) processo de implantação do Lidl na Madeira, para além de decisões erradas que terão sido tomadas, a uma crise económica e orçamental na Alemanha, pais hoje mergulhado numa pré-recessão, que os especialistas admitem ser uma perigosa amaça para a Europa, com base naquela lógica de que quando a economia alemã se constipa, a economia europeia já está doente. Este receio existente na Alemanha poderá ter travado alguns projectos de expansão e crescimento de grupos e empresas alemãs no estrangeiro. Isto porque ninguém sabe como é que a Alemanha, que já sofre os efeitos recessivos da guerra na Ucrânia de uma forma acentuada que outros parceiros europeus, terá condições para inverter a situação e recuperar deste autêntico soco no estômago que a debilitou (LFM)
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