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quarta-feira, outubro 08, 2014

Os meninos ricos de Teerão irritam os conservadores e desafiam o regime

Escreve o DN de Lisboa: "A Página no Instagram já tem quase 50 mil seguidores. Mas não falta quem critique o estilo de vida pouco islâmico destes jovens que não hesitam em exibir os carros e as roupas de marca enquanto a economia iraniana enfrenta sanções. Numa edição recente, a revista The Economist garantia que a Porsche “vendeu mais carros em Teerão em 2011 do que em qualquer outra cidade do Médio Oriente”. Não espanta por isso que as imagens de jovens residentes da capital iraniana ao volante dos seus bólides sejam das mais comuns na página Rich Kids of Tehran ( Meninos Ricos de Teerão) no Instagram. Por ali não faltam também fotografias de jovens de minissaias, decotes profundos e maquilhagem pronunciada ou de outras vestidas de forma mais conservadora, com véu e tudo, antes de um almoço num dos restaurantes de luxo de Teerão. São jovens, bonitos, ricos e não hesitam em mostrar nas redes sociais este lado menos conhecido da vida no Irão, recuperando um glamour que a elite iraniana já exibia nos tempos do xá, antes de a revolução islâmica de 1979 vir impor o seu rigor à sociedade. As críticas, essas, também não faltam – vindas dos setores mais conservadores da sociedade ou do regime do país dos ayatollahs.
Perante as críticas de que têm sido alvo, os jovens que gerem a conta de Instagram decidiram usá- la para responder. E durante o passado fim de semana escreveram naquela rede social: “Todos os países do mundo têm ricos e pobres. Eu sei que pode ser emocionalmente desgastante para algumas pessoas que não têm acesso a este tipo de vida que é retratado nestas fotografias, mas ninguém vos obriga a seguir- nos.” Apesar da imagem de austeridade que passa para o exterior, o Irão não deixa de ser um país onde a juventude tem acesso fácil a álcool, drogas e sexo, se souber onde procurá- los. Mesmo se o medo de ser apanhado pelas autoridades os torna extremamente prudentes. Além disso, estes jovens das elites, habituados a ter tudo aquilo que querem e que o dinheiro lhes pode comprar, parecem pouco dispostos a obedecer às regras. Afinal, o Instagram, como outras redes sociais, é censurado no Irão. Mas a decisão de 2012 do Ministério das Telecomunicações para o bloquear continua à espera de ser aplicada, o que mostra bem que a rigidez neste país de maioria muçulmana xiita não é total. A verdade é que esta exibição de luxo por parte destes jovens de Teerão, muitos deles filhos da elite governante, já conseguiu atrair quase 50 mil seguidores no Instagram. Uma legião de fãs que acompanham as vidas destes privilegiados num país que é a segunda maior economia do Médio Oriente, com um PIB de 366 mil milhões de dólares e um PIB per capita de 4520 dólares. Mas onde pesam as sanções impostas pelo Ocidente em retaliação pelas ambições nucleares de Teerão. O desemprego continua acima dos 10% e promete ser um desafio para o governo.
Apesar de uma economia em recessão e da superinflação que se regista no país, os Meninos Ricos de Teerão – uma ideia que nada tem de original, inspirando- se em grupos americanos semelhantes em Beverly Hills ou Nova Iorque – representam aquele 1% da população que continua a viver uma vida de luxo e opulência. A revista US News & World Report compara- os mesmo aos oligarcas russos, “esses magnatas que no fim da era soviética conseguiram enriquecer através de meios pouco transparentes”. A maior parte desta riqueza, garante a mesma publicação, é acumulada por pessoas que trabalham no setor da banca, por tecnocratas e até por clérigos – “todos eles com ligações diretas ao regime”. Outros enriqueceram graças ao petróleo, e apesar das sanções. Tudo porque, explica o diário britânico The Guardian, “se o petróleo não pode ser vendido através dos canais habituais, existem outros pelos quais pode ser canalizado”.
Com a chegada ao poder, há pouco mais de um ano, do presidente Hassan Rohani – ele próprio um grande utilizador do Twitter – o Irão tem revelado maior abertura ao mundo. Empenhado em melhorar a imagem do seu país e em reconquistar a confiança da comunidade internacional – manchada pelos anos de poder do seu antecessor, Mahmoud Ah - madinejad, representante da linha dura do regime –, Rohani optou por uma abordagem mais moderada e pragmática. Um dos seus últimos tweets elogia a prestação das iranianas nos Jogos Asiáticos “enquanto mantiveram os valores islâmicos” e há algumas semanas saudou a atribuição da prestigiada Medalha Fields da Matemática à iraniana Maryam Mirzakhani, a primeira mulher a vencer o galardão. E até publicou uma fotografia da académica sem véu. Mas não se pense que esta abertura é partilhada por todas as instituições deste país multimilenar que já se chamou Pérsia. Em setembro, seis jovens foram condenados a 91 chicotadas por terem publicado no YouTube um vídeo seu a dançar a música Happy de Pharrell Williams"

sábado, julho 18, 2009

Compreender o Irão

- Los centros de poder - pela jornalista Rosa Meneses do "El Mundo": "El triunfo de la Revolución Islámica en 1979 —de la mano del ayatolá Ruholá Jomeini— puso en marcha un peculiar modelo de Estado. Se trata de un régimen teocrático que se basa en el concepto de 'velayat-e-faqih', el gobierno de los juristas islámicos".
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- Los personajes clave en la politica iraní - pela jornalista Rosa Meneses do "El Mundo":"La política iraní está dominada por aquellos que participaron en la Revolución Islámica, hace 30 años, aunque el pensamiento político de muchos líderes ha evolucionado con los años".
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- El volcán iraní - pelo jornalista Felipe Sahagún do "El Mundo": "Entre la amenaza nuclear y el sueño occidental, aislada y a la vez con un extraño sentido de impunidad tras 30 años de sanciones y amenazas, Irán es un volcán vivo, con erupciones cíclicas. El error está en confundir siempre la última con la definitiva. Casi un mes después del más que aparente pucherazo en las presidenciales del 12 de junio, las protestas están prácticamente apagadas, aunque continúan las detenciones: más de 40 periodistas y de 400 políticos, según el Comité para la Protección de Periodistas neoyorquino. Los 'basiyis', la milicia popular de la Guardia Revolucionaria encargada del trabajo sucio, apenas son visibles en las calles de Teherán, Isfahan, Kerman, Shiraz y Tabriz. Han sido sustituidos por uniformados, pero las redadas continúan. Esperan en los hospitales a que den de alta a los heridos para detenerlos y buscan de madrugada a los cabecillas de las manifestaciones en sus casas. Los que han podido, como el médico que atendió a la joven Neda mientras fallecía en plena calle por el disparo de un francotirador, han huido del país. De nuevo los lugartenientes y seguidores de los ex presidentes Jatami y Rafsanyani se han llevado la peor parte".
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- Irán, territorio comanche - pelo jornalista Catalina Gómez Ángel do "El Mundo": "Jila Baniyaghoob, reconocida periodista y activista por los derechos de las mujeres en Irán, estaba en su casa el pasado 20 de junio cuando un grupo de los servicios secretos entró abruptamente para detenerla junto a su esposo Bahman Amadi Omavi, también periodista. Los agentes inspeccionaron cada rincón. Se llevaron los ordenadores, varios documentos y hasta las fotos del matrimonio. Ambos están prisioneros en sectores diferentes de la cárcel de Evin, donde nadie ha podido visitarlos. Jila ha llamado a su hermana en un par de ocasiones, la última vez para decirle que no intenten liberarla "porque no vale la pena". "Cree que se la llevaron por largo tiempo", confesó la hermana hace dos días en un encuentro que tuvieron las familias de los prisioneros con la prensa. El caso de Jila no es una excepción en Irán. Según un informe presentado esta semana por el Comité para la Protección de Periodistas, un total de 31 han sido capturados después de las elecciones presidenciales del pasado 12 de junio, seis de ellos en los últimos días. "Irán es ya la mayor prisión en el mundo para periodistas y disidentes cibernéticos, y va camino de ser el lugar más peligroso para trabajar", sentencia otro informe publicado recientemente por Reporteros Sin Fronteras (RSF), que, además, señala que Irán supera a China en detenciones de periodistas. Este informe asegura que en muchos casos a los prisioneros no se les permiten visitas y sus abogados no tienen acceso a los expedientes. RSF eleva la cifra de periodistas presos en las cárceles iraníes hasta los 41".

Irão: "El poder detrás de Musaví"

Da autoria do jornalista do El Pais, Ángeles Espinosa, recomendo a leitura do texto intitulado "El poder detrás de Musaví": "Desde fuera, el desafío de Mir Hosein Musaví parece sostenerse en los cientos de miles de iraníes que contestan a diario el resultado electoral. Estas manifestaciones son fruto del descontento con Mahmud Ahmadineyad, el ganador oficial de los comicios. Pero el verdadero respaldo a las ambiciones presidenciales de Musaví viene más de los corredores del poder que de la calle. Dos importantes redes de influencia trabajan a su favor: los círculos conservadores moderados y pragmáticos movilizados por Alí Akbar Hashemí Rafsanyaní y los clérigos reformistas agrupados en torno a Mohamed Jatamí.La sombra de Rafsanyaní. Este veterano político de 75 años está considerado uno de los hombres más poderosos de la República Islámica. Tras la revolución de 1979, fue el primer presidente del Parlamento de 1980 a 1989. Luego presidió Irán por dos mandatos, hasta 1997. En las elecciones parlamentarias del año 2000 ganó el escaño por los pelos y terminó renunciando. En 2005 fue derrotado por Ahmadineyad en las presidenciales. En la actualidad, preside el Consejo de Discernimiento, que es un órgano de arbitrio entre el Parlamento y el Consejo de Guardianes (especie de cámara alta designada), y la Asamblea de Expertos. Este sanedrín, formado por 86 clérigos, elige al sucesor del líder supremo cuando éste muere. En teoría, también podría destituirle".

Sermão de Rafsandjani reacende protestos no Irão

Escreve o jornalista Alexandre Costa do Expresso que "o ex-Presidente Akbar Hachémi Rafsandjani quebrou o seu silêncio durante uma oração colectiva na Universidade de Teerão, em que pediu a libertação dos manifestantes ainda detidos."Uma grande parte das pessoas sensatas afirmam ter dúvidas (sobre os resultados das eleições que reelegeram por grande maioria o Presidente Ahmadinejad). Precisamos de fazer algo para remover esta dúvida", afirmou hoje o ex-Presidente, Akbar Hachémi Rafsandjani, durante a oração colectiva na Universidade de Teerão, que contou com a participação de dezenas de milhar de apoiantes de Musavi que entoaram slogans como forma de incentivar o discurso de protesto. Rafsandjani, apoiante de Musavi e presidente da Assembleia de Peritos e do Conselho de Discernimento, apelou para que sejam libertados os manifestantes que ainda se encontram detidos. Depois da oração, concentraram-se ainda mais manifestantes junto à Universidade de Teerão gritando palavras de ordem como "morte ao ditador" e "abaixo o Governo, resignação, resignação". Testemunhas, que falaram sob anonimato, referiram que forças pró-governamentais lançaram granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão. O sermão de Rafsandjani, o primeiro que levou a cabo nos últimos dois meses, foi difundido pelos media iranianos. "Não é necessário que as pessoas sejam presas. Não devíamos deixar os nossos inimigos culparem-nos e ridicularizarem-nos por detenções. Devíamos tolerar-nos mutuamente", afirmou o ex-Presidente, que disse tencionar propor uma "solução" para a crise política no Irão. "Nós acreditamos na República Islâmica... eles têm de permanecer unidos (...) Se a Islâmica já não existir, seremos reduzidos a cinzas. E se a República já lá não estiver, (os nossos objectivos) não serão alcançados. Se as pessoas não estão presentes ou os seus votos não são tidos em consideração, então o Governo não é islâmico". Um tema igualmnente abordado pelo El Pais, num texto dos jornalistas Hafezl e F. Dahl da Reuters, aqui.
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Táxis para mulheres apenas no Irão...

O Irão é o segundo maior produtor de petróleo do Mundo, logo a seguir a Arábia Saudita. No entanto, o país não tem capacidade suficiente de refinação e acaba por importar gasolina. O racionamento é grande e os táxis para mulheres são os mais beneficiados.

Irão: sem lenço levas...

Li aqui uma história esclarecedora sobre o sofrimento das mulheres iranianas que nada tem a ver com o respeito que lhes é devido e as todas as mulheres do mundo, particularmente as africanas que sofrem a fome: "Imagens de uma mulher iraniana com o rosto ensanguentado depois de ter sido espancada pela polícia em Teerão. O seu crime foi ter recusado o lenço que as mulheres daquele país são obrigadas a usar sobre a cabeça desde a revolução de 1979. Milhares de mulheres têm sido notificadas pela polícia no sentido de cumprirem o código islâmico de vestimenta feminina e centenas detidas por usarem lenços de cabeça demasiado soltos ou casacos excessivamente apertados. As imagens falam por si. Para além da repressão que sofre o povo do Irão, e principalmente as mulheres, os rumores acerca da eventualidade de um ataque dos EUA fazem aumentar os receios e o descontentamento da população". E não ne venham com a treta da religuião poque não há nenhum Deus que mande usar a violência ou que faça a apologia das discriminação contra as mulheres.

Irão: "Mulheres e moda não podem ser amigas no Irão"

Com este título publicou a jornalista do Publico, Joana Amaral Cardoso, há alguns anos, um texto interessante e que recordo, porque ajuda a perceber os desejos de mudança que hoje se espalham rapidamente entre as mulheres iranianas: "No seio de um país, que apesar de clamar viver em "reforma" de costumes, subjuga as suas mulheres e lhes reserva um papel limitado na vida social e pública, a moda não existe. Mas no país em que as mulheres são quase obrigadas a usar sempre o "chador", o telegénico manto negro que as cobre da cabeça aos pés, ficando só com a cara e as mãos de fora, ocorreu uma revolução. Abafado, silencioso e, "reparem, completamente coberto", o Irão viu em Janeiro a primeira passagem de modelos em 22 anos.Desde a Revolução Islâmica que os hábitos no Irão se tornaram mais negros. O "hijab", o véu que cobre a cabeça das iranianas, voltou a tornar-se obrigatório e no campo das cores a opção é reduzida. Nas ruas de Teerão, uma mancha negra, ou azul escura, é uma mulher, que certamente está acompanhada de outras mulheres e, no caso de ter a seu lado um homem, ele só pode ser, de acordo com a "sharia", a lei islâmica, um familiar ou o marido.No entanto, sob esta rígida vivência do corpo e da moda, no início de Janeiro a estilista Mahla Zamani conseguiu realizar a primeira passagem de modelos no Irão em duas décadas, marcada pelo desejo da criadora de "reavivar a herança de roupa colorida do Irão". O evento atraiu mais de 16 mil pessoas, aliás mulheres, visto que se realizou no âmbito de uma feira de juventude, aberta apenas ao sexo feminino. A colecção apresentava no início peças mais curtas e até alguns decotes, mas as novidades esvaziaram-se na segunda parte do desfile, aparte a cor. Um dos comentários que mais se ouvia - porque não há fotógrafos, aplausos ou gritos - era o da própria Mahla Zamani, que assegurava, a cada modelo, que a roupa apresentada permitia que estivesse "totalmente coberta!".No entanto, a passagem atraiu algumas das mais jovens espectadoras. "Foi fantástico. Deu-me uma sensação de liberdade e de frescura", confessou Leila Mousiqidan, de 19 anos, ouvida pela CNN. Outras, mais cautelosas, sorriram e limitaram-se a dizer que se usassem "aquelas coisas" iriam rir-se delas na rua, como descreve a edição europeia da revista "Time". A opinião de Tahereh Housseinpour, de 30 anos, é completamente diferente. Depois de ter visto a passagem, que a filha da criadora, uma adolescente vestida com roupas coloridas, confessou ser "um sonho tornado realidade", Tahereh criticou duramente o que viu: "Não é islâmico que jovens mulheres apareçam semi-nuas em público, mesmo que apenas perante uma audiência feminina". "Infelizmente, podemos ver alguns dos símbolos da corrupção ocidental a infiltrar-se na nossa sociedade", desaprovou a iraniana, citada pela Associated Press.Antes da Revolução Islâmica não havia quaisquer limites impostos às roupas das mulheres. Hoje, 22 depois, 60 por cento da população tem menos de 25 anos e, consequentemente, não tem qualquer recordação da liberdade de antes, de acordo coma investigadora norte-americana Donna Hughes, da Universidade de Bradford, no Reino Unido. Os vestidos apresentados no desfile de Zamani eram de seda e algodão, e muito coloridos. Usáveis, no sentido em que cumprem o código de vestuário que obriga à cobertura total do corpo, mas com cores que algumas potenciais compradoras acham que ainda não são "aceitáveis". As roupas mostradas na "passerelle" tinham mesmo decotes e algumas mangas curtas, que as mulheres que assistiram ao desfile não estavam muito dispostas a adquirir, apesar da ressalva da criadora, que explicou que os vestidos mais reveladores podem ser usados por baixo do "chador". Zamani acredita que o modelo iraniano não deve ser posto em causa, mas que são possíveis algumas mudanças. Vai começar por vestir as empregadas da maior cadeia de mercearias do Irão, tal como já faz com as assistentes de bordo da Iran Air, o que pode "dar coragem às outras".A mulher iraniana não riNa rua, as iranianas não podem sorrir - um aspecto da cultura de flagelação e martírio defendida pelo Islão - e o "hijab" mais colorido começa agora a ser o único sinal de alívio da pressão imposta sobre as mulheres no que respeita à forma de vestir. As cabeças das universitárias podem ser agora cobertas de forma mais colorida. Ainda assim, os tons permitidos são o verde escuro e o castanho chocolate, graças à atitude reformista do Presidente Khatami.A mulher no Islão é vista como a encarnação do vício e da sedução sexual, vendo controlada a sua vida social e a forma como se apresenta em público. Durante anos, não foi permitido o uso de maquilhagem (agora as faces começam a aparecer ligeriamente mais coloridas) ou de qualquer objecto de enfeite, como bijuteria. A violação de qualquer destas normas é punível com penas de prisão que vão dos três meses a um ano de duração, multas ou ainda 74 chicotadas por uso indevido de vestuário. Outra das consequências para as mulheres que insistem em utilizar o "hijab" de forma imprópria é serem enviadas, depois de detidas, para um centro educativo que combate a "corrupção social", segundo a investigadora Donna Hughes".

Irão: ser mulher no Irão

A jornalista do Público, Sofia Branco, publicou há uns anos um interessante artigo sobre o que é ser mulher no Irão texto esse que eu recordo porque ajuda a perceber melhor o motivo das mulheres estarem na primeira linha da contestação no Irão:
"A Revolução Islâmica de 1979, que destituiu o xá, teve um enorme impacte na vida das mulheres, trazendo consigo restrições mais severas, como um novo código de vestuário, mas também novas oportunidades, como a possibilidade de obter uma educação, a par com os homens.Os religiosos conservadores impuseram, desde a revolução, restrições à forma como as mulheres se vestem e aos seu comportamento. Em público, as mulheres devem usar o "chador" (espécie de grande lenço preto), cobrindo o cabelo e o corpo até aos pés. A face pode ser mostrada no Irão. Ainda existem restrições para as mulheres que queiram alugar apartamentos sozinhas e, por vezes, para viajarem para o estrangeiro ainda precisam de consentimento prévio dos maridos ou pais.Os dois sexos são aconselhados, pelo menos em público, a manter uma certa distância. Nalgumas zonas, mulheres e homens têm áreas de transportes públicos próprias, bem como existem estâncias de esqui, praias e outras instalações desportivas apenas para mulheres.Estas restrições tiveram algumas consequências nefastas: as mulheres têm uma taxa de suicídio mais alta do que os homens, particularmente em Qom, cidade santa para os muçulmanos xiitas e centro dos estudos religiosos do Irão.Nos últimos quatro anos, sob a Presidência reformista de Khatami, as mudanças na vida feminina evidenciaram-se mais. Actualmente, os sectores mais religiosos continuam a fazer do uso do "chador" uma tradição, mas em Teerão, por exemplo, existem muitas mulheres, inclusivamente as que ocupam cargos de chefia, que o substituem por um gabardina larga, a tapar o corpo até abaixo do joelho. O cabelo tem, por outro lado, que aparecer sempre coberto, podendo usar-se um "hijab" ou lenço, que começa a ser colorido e com padrões diversificados. As mulheres começam a usar maquilhagem. Mulheres na políticaNa área da política, as mulheres estão a tornar-se cada vez mais activas, mas continuam a ocupar poucos cargos de direcção. Elegíveis desde 1962, as políticas iranianas obtiveram o maior número de votos em 109 cidades, nas eleições locais de Fevereiro de 1999. No Majlis actual, existem 15 mulheres-deputadas (em 290 assentos), na sua maioria moderadas. As legislativas de Fevereiro-Abril 2000 contaram com o número recorde de 518 candidatas.Nestas presidenciais, as 45 candidaturas de mulheres foram rejeitadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição, embora Farh Khosravi tenha integrado o primeiro leque seleccionado de 30 candidatos, retirando posteriormente a candidatura.O apoio feminino, aliado ao das camadas jovens, foi decisivo para a vitória esmagadora de Khatami nas pesidenciais de 1997. O Presidente cessante conquistou os corações femininos a partir do momento em que declarou que, segundo o Islão, mulheres e homens são iguais em direitos. Para isso, Khatami pediu aos seus ministérios que integrassem mais mulheres. No entanto, para o seu gabinete, Khatami escolheu apenas uma mulher, Masoomeh Ebtekar, actual vice-presidente para a Organização da Protecção Ambiental do Irão.Nesta campanha, Khatami voltou a virar-se para as mulheres, garantindo-lhes mais poder. "Temos tentado aumentar o papel das mulheres na tomada de decisões na política e na sociedade", afirmou numa mensagem lida num acto de campanha para as mulheres. "As mulheres não são seres de segunda classe, não são menos do que os homens", declarou Khatami, prometendo acabar com as "discriminações". "A questão da mulher exige uma nova abordagem, a todos os níveis da sociedade. As discriminações que existem na nossa cultura, direito e estruturas políticas devem acabar", defendeu Khatami.Peso das mulheres na sociedadeA gestão do núcleo familiar - considerado a base fundamental de toda a sociedade pelo Islão - cabe, quase na totalidade, à mulher, com tudo o que isto tem de positivo e de negativo. Para os muçulmanos, a mulher é o elemento harmonizador da família e é responsável pela estabilidade do núcleo.Inicialmente, a Revolução Islâmica tentou mandar as mulheres para casa, com ofertas de reforma antecipada e de incentivos a trabalharem menos, mas as necessidades do país, nomeadamente durante a guerra com o Iraque, modificaram a situação e, hoje, as mulheres representam cerca de doze por cento da força laboral.A nível da educação, a literacia feminina tem crescido muito. As mulheres representam cerca de metade dos alunos no ensino superior. Na área da agricultura, o Departamento dos Assuntos Femininos tem tido uma acção positiva no desenvolvimento das zonas rurais. Mais de 60 cooperativas femininas abriram entre 1983 e1987, dirigidas e administradas por mulheres.A representação das mulheres na sociedade civil tem aumentado, sendo-lhes permitido, actualmente, integrar as forças policiais ou ser juízas conselheiras, e assistir e jogar futebol. A sociedade iraniana tem revelado uma certa abertura nos últimos anos, nomeadamente em relação a assuntos antes considerados tabu. Questões como a prostituição, fenómeno crescente, têm sido debatidas abertamente na imprensa. Nalgumas reportagens televisivas recentes, são mostradas imagens de toxicodependentes. Por outro lado, continuam a existir testes de virgindade obrigatórios para as mulheres. Caso a sua "pureza" não seja confirmada, as mulheres são punidas com chicotadas.As mulheres têm vindo a exigir os mesmos direitos de herança, divórcio e custódia dos filhos (os maridos podem ficar com a custódia, desde que as filhas tenham idade superior a sete anos e os filhos a dois) do que os homens. Actualmente, as mulheres podem exigir que o contrato de casamento integre uma clásula relativa ao direito de pedir o divórcio (os homens podem fazê-lo sem apresentar qualquer justificação).A maior tomada de consciência dos seus direitos sociais tem levado as mulheres a pedir o divórcio mais frequentemente. No entanto, os testemunhos femininos nos tribunais valem apenas metade dos masculinos e, nalguns crimes, não são admitidos de todo.O Parlamento, dominado por reformadores, aprovou uma lei este ano que tornava obrigatória a aprovação do tribunal no que diz respeito a casamentos de raparigas com menos de 15 anos e rapazes com menos de 18. Esta lei, que se destinava a proteger as raparigas novas de casamentos forçados, foi, contudo, desaprovada pelo Conselho dos Guardiões da Constituição, que tem o poder de rejeitar legislação que vá contra a Constituição e a "sharia" (que permite os casamentos de raparigas a partir dos nove anos e de rapazes a partir do 14).Apesar disto, as mulheres iranianas gozam de mais direitos e oportunidades do que as suas congéneres da maior parte dos Estados do Médio Oriente, podendo estudar, trabalhar, votar, conduzir, viajar sem a autorização do marido e exercer quase todas as profissões".

Irão: na rua em defesa da honra e da liberdade